terça-feira, 7 de fevereiro de 2012



FEVEREIRO CHEGOU SEM FOGOS




Fevereiro foi chegando de mansinho numa manhã ensolarada em São Paulo. Quando Maria Rita acordou, a folhinha do calendário já tinha virado.


Em frente à janela, vendo o movimento de pessoas e carros que passavam lá embaixo, na rua, parou para relembrar a estrada de terra lisa, o pequeno barco navegando pela imensa Baía de Ilha Grande, e o braço de mar cercado por montanhas cobertas de Mata Atlântica, o Saco do Mamanguá, em Paraty.

Apesar das buzinas e sons que teimavam entrar pela janela da grande cidade, ainda conseguia ouvir a voz do Kaká, explicando que aquele era o único lugar do Brasil com formação similar aos fiordes - depressões geológicas comuns nos países escandinavos - sem o branco da neve sobre as montanhas, claro. - Esse é o nosso fiorde tropical!, repetia encantado.

Naquele lugar paradisíaco, eles se despediram do ano e desfrutaram das primeiras semanas de janeiro.

Ali vivem tartarugas, peixes, cavalos marinhos e golfinhos. O grande destaque, porém, só pode ser visto à noite, na completa ausência de luz: os plânctons se movimentam aleatoriamente e, quando agitados, brilham como vagalumes submersos, num espetáculo jamais visto ou imaginado.


O Saco de Mamanguá não tem energia elétrica. Ao cair da noite, são as velas e lampiões que se acendem para o jantar à beira-mar. Sob uma tenda, sentados ao redor da mesa, eles viram calmamente 2012 chegar, se abraçaram e beijaram. Nada de internet, celular, televisão ligada no Show da Virada ou da badalação e fogos da Avenida Paulista.

Em meio à brisa do mar, o murmúrio das ondas, pés na areia, pingos de chuva refrescantes, a degustação de frutas tropicais e frutos do mar. Tudo perfeito. Ao fundo, os acordes de um violão e, um vasto repertório de músicas brasileiras que parecem fazer parte do inconsciente coletivo de todos nós, nada semelhante ao pegajoso "Ai se eu te Pego" do Michel Teló.

Maria Rita sentia-se sugada em outra dimensão, parecia flutuar dançando na areia fina, enquanto, entre um intervalo e outro, ela e o Kaká, se deliciavam comendo salmão com alcaparras e rodelas de abacaxi, este tão docinho quanto o mel.


Naquele dia 31 de dezembro, enquanto começava a contagem regressiva, olhando para o sorriso aberto do Kaká e para a simplicidade do lugar, ela se perguntava: - Do que precisamos para ser feliz? Estranho. Aqui a felicidade parece ser algo tão único e inerente a cada um!

E assim foram os dias que se seguiram, centrados no silencio e na paz interior, distante da tempestade de informações que enfrentamos diariamente.


Eles não viram, e Luiza que estava no Canadá também não, que enquanto a estiagem assolava o Rio Grande do Sul, as enchentes castigavam Minas Gerais, São Paulo e o ABC paulista; enxurradas, pontes quebradas, ruas alagadas, levando caos ao trânsito e deixando centenas de famílias desabrigadas. Os motivos, os mesmos de anos anteriores: falta de interesse, atuação e de investimentos do poder público; as desculpas, também as mesmas: choveu mais do que o esperado.

Enquanto passeavam no pequeno barco de pesca pela mansidão da baía, deixaram de assistir à lenta agonia do transatlântico Costa Concordia após bater na Ilha de Giglio com 4.234 pessoas a bordo, resultando em mais de trinta desaparecidos. E o pior! O capitão Schettino, principal responsável pelo naufrágio, ao invés de planejar a evacuação da embarcação, abandonar o navio, com a desculpa de que "escorregou e caiu providencialmente num bote salva-vidas", deixando à própria sorte a tripulação e os atônitos e assombrados passageiros, dentre eles, crianças e mulheres. Que tristeza ver aquela imponente cidade flutuante ir afundando lentamente!

Já em terra firme, porém não tão firme assim, não viram o pânico e a dantesca nuvem de poeira que tomou as ruas do centro do Rio de Janeiro, após a queda de três prédios comerciais. Obras clandestinas e irregulares ao longo dos anos, alterando a Planta original do prédio, algumas com o aval da Prefeitura, foram transformando o Edifício Liberdade, de vinte andares (no Projeto inicial com quinze andares), num castelo de cartas, que se desfez levando com ele outros dois. Descaso, irresponsabilidade e omissão do poder público, de engenheiros, do síndico, da administradora e de condôminos, causaram a morte de mais de vinte pessoas, dezessete corpos encontrados, outros cinco desaparecidos.

Não acompanharam o início lacônico do BBB12. Quem poderia imaginar Maria Rita deixando de lado o pay per vew, o blog e a estréia da 12ª. Edição do BBB? Logo na primeira semana, participantes em busca da fama instantânea, festinha regada a muuuito álcool (como nas edições anteriores) terminando com suspeita de abuso sexual. O caso chamou a atenção da policia e da imprensa internacional. Inacreditável! O BBB é o ruim que se aprimora: a cada ano consegue ser pior! Quando um programa televisivo, feito para o lazer, vai parar na Delegacia, é preciso repensar os valores que estão sendo veiculados. A sociedade está doente, episódios degradantes como esse - em rede nacional - são o sintoma de que a cultura perdeu todos os seus limites e dignidade!

Em meio à crise e à incerteza sobre o futuro, Kaká e Maria Rita perderam o aniversário de uma década do Euro e o anúncio da ONU afirmando que a Economia do Mundo está à beira da recessão. Nada que a gente já não venha sentindo no bolso, não é mesmo?

Sequer imaginaram que a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, passou por uma cirurgia para a retirada de um tumor na glândula tireóide. É... os poderosos também são mortais!

Enquanto Kaká e Maria Rita faziam mergulho nas cálidas águas da baía de Mamanguá, o Enem foi notícia mais uma vez. A Justiça do Ceará concedeu acesso aos estudantes à correção da prova de redação. O Ministério da Educação apesar de reconhecer erros (até grotescos), alegou não ter condições tecnológicas de dar acesso às provas e ainda por cima cancelou a edição de abril do Enem. Durma-se com isso!

Ambos perderam também a "memorável" viagem da Presidente Dilma a Cuba. E o momento quando, ao ser indagada na coletiva de imprensa, sobre o tema dos Direitos Humanos, "lulou" e passou ao largo, alegando que "violações aos Direitos Humanos ocorrem em todos os países", preferindo desviar as atenções para a prisão de Guantânamo. A mesma Dilma que concedeu, num “jogo de cena”, um visto de entrada ao Brasil para a blogueira Yoani, sabendo muito bem que os irmãos Castro não dariam o visto de saída a quem prega a democracia e a liberdade de expressão. Bola fora, Presidente! Em Guantânamo estão terroristas e assassinos como os que causaram a morte de 3.000 inocentes no WTC, a blogueira é uma voz que se levanta contra anos de tirania e opressão em Cuba! Vergonha alheia!

Não viram que enquanto Messi recebia a Bola de Ouro como melhor Jogador do Mundo, o goleiro Marcos, do Palmeiras, se despedia dos gramados. Apesar de são paulino, Kaká não teria deixado de sentir uma pontada de nostalgia ao ver, um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro, aposentar as luvas. Boa sorte é o mínimo que se pode desejar a um craque!

Ao voltar das férias, Kaká não terá mais a MegaUpload para armazenar os arquivos de seu trabalho fotográfico ou Maria Rita as postagens de seu blog. A grande “nuvem” foi deletada, por conta disso, grupo de hackers, os Anonymous, dizem ter derrubado o site do FBI. Será? Mas, precisavam atacar também os sites de instituições financeiras brasileiras?

Perderam por tabela o novo fenômeno da web: Luiza, "aquela que estava no Canadá". De repente, durante dias, um burburinho tomou conta do Twitter, produzindo um novo bordão ou “meme”. Luiza! Que Luiza é essa?, quis saber Maria Rita, assim que chegou. Nada mais que um fenômeno internético, cujo tempo para cair no esquecimento está contado, tal como, o sucesso meteórico de qualquer sub-celebridade mediática de um reality.

Ah, Maria Rita não terá mais as tais das sacolinhas plásticas para acondicionar as compras do supermercado, retiradas dos caixas sob o slogan do Governo paulista: “Tire o Planeta do Sufoco”. Até agora o assunto está rendendo, porque enquanto eram gastos milhões em propaganda, não se falou a respeito das sacolas biodegradáveis, que os fabricantes vendem aos supermercados a R$ 80,00 o quilo, portanto, R$ 0,02 a unidade, mas são vendidas ao cliente por R$ 0,20. Os supermercados estão preocupados com o meio ambiente ou o faturamento? Aliás, pior que a venda das sacolas biodegradáveis é saber que em São Paulo nem todo o lixo é separado, e que 60 mil toneladas vão, diariamente, para os aterros e lixões, a céu aberto.

Ufa!

Tempestade é pouco!!
Se deixarmos, os acontecimentos nos engolem, nos esgotam!!


- Do que precisamos para ser feliz?

No primeiro post do ano, Maria Rita escreveu:


Cada momento de nossa vida é de restauração. Por vezes, é preciso que nos afastemos de tudo, para nos encontrarmos. Quando avançamos na direção do nosso eu interior, compreendemos e superamos os erros do passado, os desencontros, as perdas e conseguimos ver a real medida das coisas. Quando nos deparamos com as catástrofes, desastres, doenças somos obrigados a parar e caminhar na busca da nossa fé e força de superação, as únicas que nos dão sustentação. Choradeira, culpa, vitimização não resolvem absolutamente nada.

Há tanta beleza ao nosso redor, basta saber olhar para o mundo com o coração!

Não podemos transformar o mundo, muito do que ocorreu em janeiro poderia ter sido evitado, se as pessoas norteassem suas ações com responsabilidade, ética e compromisso. Mas, podemos começar as mudanças a partir de nós mesmos.

Se você está lendo esta postagem, é porque está em busca disso, da sua alma e paz interior.


- Do que precisamos para ser feliz?


De uma alma que consiga sentir a brisa do mar, abrir um livro, ler uma poesia, riscar e rabiscar pensamentos, ouvir uma música, estender a mão ao próximo, e, ser capaz de compreender e transpor com serenidade as vicissitudes da vida.

Tente fazer isso e depois me conte se as coisas não se ajustaram melhor.


Aliás, como já cantou Gonzaguinha: Somos nós que fazemos a vida/Como der, ou puder, ou quiser...



("O QUE É O QUE É", GONZAGUINHA)

Shadow/Mariasun



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