segunda-feira, 22 de agosto de 2011



PAULA FERNANDES: O PÁSSARO DE FOGO QUE CANTA E ENCANTA



Noite de sexta-feira fria e chuvosa em São Paulo, dia 19, a espera era de expectativa após o jantar servido no grande salão do Demarchi, em São Bernardo do Campo, repleto de pessoas acomodadas em mesas ao redor do palco.

Sem dúvida, havia algo de insólito naquele ambiente de alegria e descontração, que teve seu ápice quando as luzes se apagaram e feixes de luz iluminaram o palco, às 23h20. Os primeiros acordes anunciaram a entrada de Paula Fernandes, a mais nova estrela da atualidade, que apresentou suas músicas de forma primorosa, por quase uma hora e meia.

Sua presença e bela voz deram um toque único à noite. Não era a primeira vez que todos ali a ouviam cantar, mas, ao ver e sentir a intérprete tão próxima, tão real, o encantamento que envolveu o público, ou o que quer que fosse, deu àquele momento o caráter particular de ser algo inédito.

Ali estava ela, esbanjando charme, num gracioso vestido curto preto, cabelos longos e cacheados, dando início à apresentação com sei que nenhum de nós será/ feliz cultivando uma vida/sem regar assim, eu sei... (Chuva Chover), tendo ao fundo um coro de várias vozes, que parecia hipnotizado com a mineirinha de voz marcante.

Depois, seguiu-se já descobri porque você se foi/o tal motivo pra você deixar/um dia você se apaixonou/mas sei que não aprendeu a me amar... (Pra que Conversar); letra e música belíssima dedilhada pela canhotinha no violão, o mesmo instrumento que ganhou aos oito anos de idade.

Todos cantavam e a ouviam, enquanto os sentidos faziam aflorar um dos sentimentos mais intensos e calientes: a paixão, presente em suas músicas. Foi nesse clima que Tarde Demais se fez acompanhar de uma imensa hola formada por todos, enquanto ela, terna, acariciava um bebê que estava próximo ao palco.

Eu sou o brilho dos seus olhos ao me olhar/sou o teu sorriso ao ganhar um beijo meu... sou teu ego, tua alma/sou teu céu, o teu inferno a tua calma... público soltando a voz ao cantar o refrão, os acordes do violão abduzindo cantora e platéia naquele memorável Meu Eu em Você, que foi seguido de Não Precisa, já em total sintonia e empatia com todos que ali estavam.

Aproveitando o momento, ela, carismática, conversou com a platéia para contar que quando era criança, costumava ouvir música sertaneja com a avó, e, começou a cantar o que é feito daqueles beijos que eu te dei/daquele amor cheio de ilusão... (Amargurado); a lembrança e nostalgia de sua infância na música de Tião Carrero ao som do violão.

O início de carreira também não foi esquecido, Sem Você, fruto de sua trajetória pela via independente antes de chegar a uma grande gravadora, do álbum Canções do Vento do Sul de 2006, fez parte do show e hoje integra o seu primeiro DVD e último álbum. Nas incertezas de um caminho que é tão doído...

Paula Fernandes é uma artista criada nas tradições da moda de viola, e sua interpretação da música de João Mineiro e Marciano, Ainda Ontem Chorei de Saudade, não deixa a menor dúvida quanto a isso. Aliás, foi um momento impactante todos cantando em coro com a intérprete: você me pede na carta/que eu desapareça/que nunca mais te procure/pra sempre te esqueça....

Deixando o momento "dor de cotovelo" de lado, pouco depois estava dançando ao som da sanfona, requebrando e empolgando a todos com Debaixo do Cacho. Aliás, se tem um instrumento que esquenta o coração, é a sanfona, e foi assim em Apaixonada por Você: ai ai ai, o amor apareceu/tava procurando ele e ele procurando eu/ai ai ai, balançou virou mexeu/o amor desse menino bagunçou o peito meu...

E Daí? O que é que tem? Guilherme e Santiago que me perdoem, por mais previsível que possa ser, essa música passa a ser única e ganha novos contornos na interpretação de Paula Fernandes... se eu quiser farrear tomar todas num bar/sair pra namorar/o que é que tem?/foi você quem falou que a paixão acabou/que eu me lembre eu não sou de ninguém. Dá vontade de sair pra farrear junto.

A metamorfose da cantora ao entrar no palco com um vestido rosa claro longo e decote enfeitado com delicadas plumas, brincos grandes compondo o visual e o cabelo preso numa trança jogada de lado, era bonita, descontraída, alegre. Mas o que mais encantou foi o sentimento ao entoar se está pensando em voar/Na direção de me amar/voa, voa... (Voa), acompanhada de seu inseparável violão, tal qual uma feiticeira, cigana, envolta numa aura de elegância requintada.

Já sentada no banquinho, parecia flutuar no palco, etérea, diáfana... às vezes sou dia/às vezes sou nada/hoje lágrima caída/choro pela madrugada/às vezes sou fada.... (Quero Sim). Na sequência, Sensações com seus lindos versos: estar assim, sentir assim/turbilhão de sensações dentro de mim/eu me aqueço, eu endureço/eu me derreto, eu evaporo/eu caio em forma de chuva.... em perfeita sintonia com os músicos da banda.

E pra não negar as raízes, o solo ao violão com sou das Minas de ouro/das montanhas Gerais/eu sou filha dos montes/e das estradas reais... (Seio de Minas); uma referência a sua terra natal.

Já se sentindo à vontade e em casa, tirou o sapato alto e cantou Jeito de Mato, trazendo a natureza, o sereno e o cheiro do mato até a platéia: de onde é que vem esses olhos tão tristes?/vem da campina onde o sol se deita/do regalo de terra que teu dorso ajeita/e dorme serena, no sereno e sonha.

Enquanto Paula Fernandes se preparava para a última entrada no palco, André Porto, o guitarrista da banda, se divertia em solos rápidos. Em outros momentos, Márcio Monteiro no violão fazendo a base, André Porto no solo de guitarra e Ricardo Gomes no baixo uniam o seu talento para no improviso, fazer uma apresentação de peso e virtuose.

Aliás, a banda que a acompanha, sob o comando e direção de Márcio Monteiro, é notável. A técnica de Sergio Saraiva na sanfona merece destaque, é impecável ao conferir às músicas brasilidade, sonoridade, arrebatamento, paixão na medida certa, com gostinho de quero mais. A destreza de Márcio Monteiro no violão é primorosa, ao passo que, a perfomance musical de André Porto no violão e guitarra e de Ricardo Gomes no baixo é impecável em bases e solos executados à perfeição. Isso sem olvidar a musicalidade e suavidade de Ricardo Bottaro no teclado e da irreverência de Márcio Bianchi na bateria.

Até que diante do que parecia a Bohemian Rhapsody, a cantora voltou ao palco num traje preto sexy, para mostrar toda sua versatilidade e se jogar no Rock arrepiante e contagiante de Man I Feel Like a Woman. Energia pura! Poucas são as vozes femininas que conseguem se aventurar e navegar no universo do Rock. Ela não apenas é capaz de fazê-lo por meio da força de sua voz, como deixa a todos maravilhados.

Na sequência, para provar que canta qualquer ritmo, entoou Navegar em Mim, com o sorriso doce e suave, que lhe é peculiar: quem quiser me amar/precisa ter o dom/bem mais que seduzir/navegar em mim/iê iê...navegar em mim....

Antes de iniciar o tema de Escrito nas Estrelas, Quando a Chuva Passar, anunciou, com orgulho, que o CD e DVD “Paula Fernandes ao Vivo”, gravado em janeiro, atingiu a marca de um milhão de cópias vendidas. E ainda brincou dizendo que a meta agora é chegar aos dois milhões; o que ninguém duvida venha a acontecer. Esses números comprovam que ela é o mais recente fenômeno da música popular brasileira.

Pra encerrar com chave de ouro, dedicou a todos a última canção: Pra Você. E com os versos eu quero ser pra você/a alegria de uma chegada/clarão trazendo o dia/iluminando a sacada, despediu-se com um aceno, como a lua iluminando o sol.

Mas, nananinanão.... Ainda faltava uma música! Teria se esquecido de cantá-la?

O momento apoteótico ficou guardado para o bis, com o sempre emblemático Pássaro de Fogo, claro! Sou pássaro de fogo/que canta ao teu ouvido... Paula Fernandes, o Pássaro de Fogo que canta e encanta.

E encanta não apenas por ter uma linda voz, mas, por ser uma grande intérprete e compositora. Quase todas as músicas do show e do DVD são de sua autoria, e em suas letras destila emoção ao falar de sentimentos como amor, amizade, saudade, traição, bem como, das lembranças de sua infância, do campo e de suas raízes. Investe numa mistura de country, romantismo e música sertaneja unindo talento, beleza e musicalidade ao seu trabalho, fazendo com que a mineirinha de Sete Lagoas seja única em sua arte.





Pra Você que me acompanha no CANTINHO e aprecia a boa música

Shadow


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