quarta-feira, 1 de dezembro de 2010




TROPA DE ELITE EM 4D





Tio Zuzu sempre foi amante da sétima arte, tem em casa uma vasta coleção de vídeos e CDs dos principais clássicos da telona, desde O Vento Levou a Avatar. Agora, depois de ter ser afastado do jornalismo e com a aposentadoria, então, não é raro vê-lo na fila dos cinemas do Barra Shopping. Na pré-estréia de Tropa de Elite2, lá estava ele.

Sala lotada. Desde o início da sessão à última cena, surpreendeu-se com o silêncio reverencial das pessoas ali, só quebrado pelos aplausos quando as luzes se acenderam. Ao sair do cinema, todos estavam sem palavras, até o Tio Zuzu, coisa rara de acontecer.
 
O filme havia superado -em muito- suas expectativas, essa é que é a verdade. Quem pensa tratar-se apenas de um filme de ação ou violência, se engana. É denso, profundo, uma crítica política fortíssima.

Chegando em casa postou no seu blog, o BLOGANDO COM O TIO ZUZU

É difícil falar de algo que a gente amou. Como definir um filme que foi aplaudido em pé no final, onde até aquele cidadão, que tem preconceito do cinema nacional, irá se render e ovacionar? 

Tropa de Elite2 é a tradução daquilo que está entalado na garganta de cada um e que faz parte do nosso inconsciente coletivo.

Ficção e realidade se fundem e confundem nas sucessivas cenas, do surgimento e tentáculos das milícias na cidade do Rio de Janeiro ao triste episódio envolvendo jornalistas investigativos, numa nítida referência ao ocorrido com a jornalista e fotógrafo do jornal O Dia em 2008. Ao ver o personagem Fraga, historiador e defensor dos direitos humanos, é fácil identificá-lo com Marcelo Freixo do PSOL, que denunciou as atividades dos milicianos e presidiu a CPI que os levou à prisão, em 2008, após a tortura dos jornalistas. A cena da morte do chefe da ADA na rebelião em Bangu I no início do filme, deixa a todos estupefatos. Aliás, em 2002, o líder do ADA foi realmente morto em Bangu I por Fernandinho Beira-Mar.
O filme é um contundente retrato político e social, não apenas da cidade ou Estado do Rio de Janeiro, mas da política de nosso país.
A atuação de Wagner Moura dispensa comentários. E o roteiro de José Padilha e Bráulio Mantovani não deixa dúvidas de quem é o inimigo do subtítulo.
Ao final do filme, fiquei refletindo sobre quem seria o vilão nisso tudo: se são os milicianos, a polícia, os políticos corruptos, a mídia, a população que acata ou todos nós que não valorizamos o voto que colocamos nas urnas.
Na semana que passou, Tio Zuzu acompanhou lá do Alto da Boa Vista os atos de terrorismo, vandalismo e violência na cidade que ele escolheu para morar, e foi inevitável não lembrar do filme, dos heróicos soldados de preto (Os Caveiras) entrando nas estreitas vielas da favela, das complexas relações entre política, crime, polícia e imprensa. Ali estava, exposta, aos olhos de todos a ferida aberta da sociedade, mascarada ao longo dos anos pelo sistema.
Ao conectar a internet na sexta-feira passada, ficou estarrecido com as notícias na home page:
"Os criminosos continuam a desafiar a Polícia e a provocar medo no Rio de Janeiro. Mais ataques aconteceram em alguns pontos da capital fluminense. Até o momento, dois ônibus já foram queimados."
"Seis bananas de dinamite enroladas em fios com um relógio foram achadas por garis dentro de uma lixeira em Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro."

"Durante a madrugada, pelo menos cinco ações de bandidos na Baixada Fluminense, Zona Sul, Zona Oeste e Zona Norte. O caso mais grave foi registrado na Avenida Brasil, pista sentido Zona Oeste, altura da Penha, onde um motorista foi baleado por criminoso que roubaram e incendiaram o ônibus que ele dirigia."
 
"Um veículo foi incendiado em Botafogo, na Zona Sul, outro carro também foi queimado na Barra da Tijuca, Zona Oeste. Quatro homens, que estavam com isqueiros e garrafas pet em Jacarepaguá, foram presos."

 
Hoje faz quase uma semana dos horrores que viu e da insegurança que dele se apossou. Sentiu-se ilhado, só, como nunca havia se sentido. Quando deitado, qualquer ruído no quintal ou até mesmo o vento era motivo para fazê-lo acordar sobressaltado. Nestes dias a paranóia foi a única certeza.
Leninha insistiu que ele saísse do Rio e viesse para São Paulo, Dudu (aquele fofinho também). Bom, desnecessário é dizer que se alguma dúvida restava à mãe do Dudu quanto à possibilidade de passarem as férias na casa do Tio Zuzu, por conta do comboio de homens armados e tiroteio ocorrido na avenida principal de São Conrado em setembro, qualquer esperança -que ainda pudesse haver- foi por água abaixo. Nem morta! Este ano as férias serão no Guarujá, sentenciou.
Por seu lado, e apesar dos apelos, Tio Zuzu resolveu ficar no seu canto, como se a cidade -suplicante- lhe pedisse para ficar. Dizem que um tigre nunca perde as suas listras, ele como bom jornalista que nunca deixará de ser, e apesar de não ser o José Padilha, foi atualizando o seu blog, diariamente, com um roteiro ditado pela dura, nua e crua realidade.
A imprensa em geral está em festa, como se o mal tivesse sido estirpado pelos bravos homens do Bope, da Policia Militar e das Forças Armadas, o que não faz o menor sentido pra ele, por sentir que sua vida não voltou ao normal (como querem lhe fazer crer), por saber que centenas de traficantes deram uma banana pra todos numa estrada de terra e escaparam por galerias subterrâneas do Morro do Alemão (atente-se, galerias feitas com o dinheiro do Governo Federal), por saber que o problema não será solucionado pela mera ocupação daquele território em uma semana, sete meses ou mais.
Diante disso, resolveu desabafar no seu blog:
O show de ufanismo e pirotecnia mediático destes dias dá margem a dúvidas: vivemos numa guerra interminável, num fogo cruzado, onde não sabemos se voltaremos pra casa quando saímos. E querem nos fazer acreditar, que só por que o Morro do Alemão foi ocupado pelas Forças Armadas, está tudo bem.
A falta de atitude do Estado e os interesses obscuros da mídia em busca de ibope, me fazer ver que estamos realmente nas mãos de indivíduos incapazes e/ou corrompidos até a alma, que se preocupam apenas com seus próprios objetivos e vaidades.

O oba-oba não se justifica e não leva a lugar algum.

Reconheço que foi ganha uma primeira batalha importante, pela tomada de território antes dos traficantes, com a ocupação do Morro do Alemão, tido como o "coração do mal" da cidade do Rio. Mas isso não representa a vitória ou o fim da poder paralelo.

A população comprou essa batalha e levantou a bandeira, talvez cansada de anos de desmandos, sobressaltos e opressão, ou, quiçás, impulsionada pelo filme (Tropa de Elite2) visto por quase 11 milhões de pessoas. Para muitos, era como estar comprando a briga do Capitão Nascimento, e o cidadão tomou partido, aliou-se aos homens de preto denunciando, colaborando, congestionando as linhas do disque-denúncia. Basta!, foi o grito de ordem. A população fez a sua parte.

Entretanto, a imagem que não me sai da cabeça é a daquele grupo, subindo às centenas, enfileirados, por uma estrada de terra (armados até os dentes), apoiados por carros e motos forrados de armas e dinheiro. Só em uma pick-up preta -se especula- estavam sendo transportados dois milhões de reais. Todos, em bando, em direção às galerias subterrâneas, às vistas da população, dos helicópteros das redes de TV, da policia, do Bope, das Forças Armadas. Permitiu-se a fuga dos traficantes sem qualquer arranhão, integrantes do Comando Vermelho, facção criada pelos presos políticos da esquerda durante o regime militar. 

 
A pergunta que não quer calar. Por que não foram contidos ali? Bandido armado até os dentes não deve receber voz de prisão? Medo do barulho que as suas organizações de defesa fariam (Direitos Humanos, mídia, afroreggae…) protestando contra o ataque a "inocentes"? Ah, se esse roteiro fosse do José Padilha!!! 

A verdade é que o Governo Federal deveria ter tido pulso firme e decretado Intervenção no Estado do Rio de Janeiro, quem foi que disse que as Forças Armadas estão subordinadas ao Governo dos Estados. O Governador deveria ter sido afastado, para que um Interventor, conhecedor de táticas militares, tivesse assumido as operações. É o que reza a lei. Fosse assim, aquele comboio de criminosos certamente não teria chegado às galerias, mantendo a população intranquila, muito embora a mídia insista em afirmar que os cariocas hoje vivem na Cidade das Maravilhas. Pra onde foram aquelas centenas de traficantes armados com fuzis?

As Forças de Segurança subiram o morro. Tudo bem. Parabéns a esses bravos homens que não tem culpa dos desmandos e da corrupção na política. Não foram eles que criaram essa situação, mas o Governo que ao longo dos anos negociou, barganhou e fez acordos com os traficantes, transferindo sua responsabilidade junto à população e o Poder do Estado a eles. O que menos contou até hoje, foi a dura realidade, o estado de penúria e pobreza daquelas pessoas que vivem em casebres nos morros cariocas, segregadas e esquecidas do restante da cidade, e que acuadas ficaram à mercê do poder paralelo, com o crivo dos políticos.

Cidade ou País das Maravilhas, aonde?

Se a Constituição está sendo continuamente desrespeitada pelos quadrilheiros de plantão, o governo flerta acintosamente com os piores ditadores do planeta, um regime de esquerda-sindicalista impera às claras com ameaças -nada veladas- à liberdade de imprensa; mensaleiros e corruptos são absolvidos por juízes venais, o MST promove a invasão e destruição de fazendas produtivas; enquanto vemos, estarrecidos, o absoluto silêncio e omissão daqueles que tem o dever de preservar as instituições democráticas. Como acreditar na mudança de toda essa sujeira acumulada?

O que as comunidades da Vila Cruzeiro, Morro do Alemão e tantas outras precisam é de um Governo atuante, não de falastrões e demagogos, o que aquelas pessoas carentes necessitam é de infra-estrutura, de serviços públicos, de ruas e vielas pavimentadas, bem iluminadas e limpas; escolas, postos de saúde, centros comunitários de lazer..... O que o Estado deve fazer é o patrulhamento da fronteira para coibir a entrada de armas e drogas, do contrário, a ocupação e a permanência das Forças Armadas na comunidade pelo período um dia ou sete meses, não será suficiente para por fim ao caos instalado e tirar da apatia um povo anestesiado pela violência e o tráfico.


E ainda se fala em gastar os tubos com Estádios e que tais para a realização da Copa do Mundo e Olimpíadas, como isso fosse prioridade. Ah, claro, o superfaturamento das obras em detrimento das necessidades da população.

Como realizar eventos dessa grandeza se durante esta semana a cidade do Rio de Janeiro ficou sitiada, o congestionamento em São Paulo foi monstruoso, um dos maiores do ano, em razão do show do Paul McCartney no Morumbi, Belo Horizonte ficou (e continua) debaixo das águas devido às recentes chuvas, os aeroportos do país entrando em colapso no final do ano por conta das férias escolares. Onde está a atuação do poder público????

O Rio de Janeiro é o espelho disso. Do desrespeito às leis e à Constituição, porque os políticos eleitos são coniventes com a falsificação, a confecção de dossiês, chantagens, o estelionato, a farsa, o tráfico de drogas, os sequestros,...a marginalidade, infelizmente são essas as forças que hoje elegem os governantes neste país, e não a vontade do povo.

O Brasil da ética e da moral, sucumbiu. Mudou seu destino! A população do Rio que o diga!!!

Aliás, que venha Tropa de Elite 3, pois o roteiro foi escrito na semana que passou.


Aos heróicos homens do Bope e da Policia Militar

Ao José Padilha pela coragem de transformar a realidade em filme e mostrar quem realmente são os vilões

Ao Wagner Moura pela veracidade e dignidade dada ao seu Capitão Nascimento


Shadow/Mariasun



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