segunda-feira, 24 de agosto de 2009




A FAZENDA DA MÃE JOANA




Existe um certo fascínio pelos realities shows, talvez a motivação esteja naquela curiosidade tão humana em bisbilhotar e palpitar sobre a vida alheia.


Não fujo à regra, já acompanhei alguns realities na TV a cabo, na Globo e confesso que do BBB já cansei, No Limite não faz minha cabeça, e que OAprendiz sempre esteve no topo dos meus favoritos. Somando-se a esses e na briga pela audiência, a Record resolveu colocar, meio às pressas, A Fazenda. Como a vida no campo me atrai, aprecio animais, e gosto de estudar o comportamento humano, passei a acompanhar mais esse novo reality.

Foi assim, que comecei a sintonizar na Record, confesso que antes raramente zapeava por lá. Num primeiro momento gostei do que vi. Boas locações, lindas paisagens, variedade de pássaros, verde por todos os lados, animais (cavalos, ovelhas, vacas, bezerros, galinhas,...) que fazem parte da fazenda, e do imaginário da minha infância, e até um cachorro, o Max, um lindo Golden Terrier que lá entrou para alegrar e encantar. Mas como não se deve julgar um livro pela capa, ou um programa de televisão pela publicidade em torno dele, passei a observar com olhar crítico o que via e lia sobre o reality, que terminou ontem.


O nascimento de Tirulira e as estripulias de Max, ternos momentos


Posso dizer que, no decorrer dos 84 dias de exibição, algo se perdeu no caminho dessa Fazenda e nas pretensões da emissora. Muito embora o encerramento tenha me agradado. Apesar do indisfarçável desconforto da maioria dos participantes, houve alegria, música na medida certa (gostei da inclusão daquelas que foram criadas pelos participantes no confinamento), teve um toque de emoção na despedida do Max, e um revival dos melhores momentos, bem selecionados por sinal. Que bom que não se restringiram apenas a mostrar brigas, caras feias e fofoquinhas maledicentes pelos cantos! Deram destaque também às festas e às provas, estas (as provas) sempre inteligentes, criativas e bem elaboradas, um dos pontos altos do programa. E pasmem, o próprio apresentador estava mais leve, mais confiante, mais comunicativo. A impressão que tenho é que deixaram tudo para o último dia, assim não dá, né!

Mas isso não apaga os graves erros e equívocos cometidos pela emissora.


Até ontem as edições foram mornas, repetitivas e desinteressantes. A que ou a quem atribuir isso? À seleção dos participantes, fracos e sem carisma no geral? À escolha do apresentador, muitas vezes inseguro, parcial e que pecou pela falta de empatia com o público e com os participantes? À forma de exibição ao público? Sem pay-per-viu ficou difícil acompanhar, por não se saber até que ponto a edição mostrou apenas o que quis, isso sem contar que a apresentação ao vivo, muitas vezes foi interrompida para fazer merchand de outros programas da grade, como musicais e novelas. Penso que lugar de divulgar as atrações da emissora é o intervalo comercial, que diga-se de passagem, já é bem longo. Ao site? Este deixou a desejar, tendo em vista que o editor responsável pelas notícias e atualizações, pecou pelo português sofrível e comentários subjetivos, o que jamais caberia a ele fazer.

Alguns desses pontos poderiam ter sido corrigidos no decorrer do programa, mas não o foram. Contentaram-se com o faturamento e os bons índices de audiência que a atração rendeu. Tiveram bons patrocinadores é verdade, até mesmo por que, em sendo novidade, atraiu a audiência, e onde houver consumidores lá estarão os patrocinadores. A Fazenda rendeu bons frutos também às demais atrações da emissora, que tiveram a sua audiência alavancada.


Mas aí, aconteceu uma coisa que seria engraçada se não fosse trágica. Sabem aquele ditado que diz que a pessoa que nunca comeu melado, quando come se lambuza? Pois é, foi o que aconteceu com a Record. Todos o programas, em todos os horários, começaram a explorar a boa pontuação da Fazenda para alcançar uns pontinhos a mais no Ibope. E foi aí que se perderam, se lambuzaram, escorregaram feio, e o pior, perderam a oportunidade de melhorar o nível de suas atrações, para manter cativo o público após o final da Fazenda. O que se viu foi um despreparo geral dos apresentadores, diretores e produtores da emissora. Que sentido tem em sentar os familiares dos participantes em um sofá, para debater cenas de brigas e fofoquinhas? Permitir que os eliminados, façam uma romaria em todos os programas da grade, para tripudiar e achincalhar os que ficaram, apenas por pura maldade e despeito? Onde foi parar a boa educação, as boas maneiras e o bom senso dessas pseudocelebridades? Na Fazenda que não foi com certeza! Aonde está a ética, a lisura, a imparcialidade da emissora, princípio básico do Jornalismo, que se permitiu dar destaque a alguns participantes em detrimento de outros, e o que é pior, fomentar e ser conivente com julgamentos e críticas pejorativas dirigidos a pessoas que não estavam ali para se defenderem?

Agora eu pergunto: É possível fazer televisão desse jeito?


No programa matutino, os apresentadores cansaram de mostrar, levianamente e à exaustão, as piores brigas havidas na Fazenda, divertindo-se muito até. Será que não conseguiram selecionar um momento sequer de descontração, de alegria, de carinho e amizade que valesse a pena ser mostrado também à exaustão? Os entrevistadores então são horrorosos, descambam para o sensacionalismo barato, usaram e abusaram dos familiares dos integrantes da Fazenda, como se fossem retardados. Fazem uma pergunta e antes que venha a resposta, chamam o comercial (interminaaaaável) e quando voltam, mostram-se impacientes se a resposta não é breve, fazem suspense em cima de tolices, e a maior de todas é o desafio da passarela, que acabam impingindo a todos os eliminados. Pra que isso? Uma passarela nas alturas em forma de S, que não é fixa e por isso balança (com ou sem vento), sendo que até quem trabalha em circo teria dificuldade em atravessar? Qual a graça em ver a pessoa subir e travar de medo lá em cima? É o prazer de vê-la cair feito jaca madura, é isso? Será que o tempo da televisão é tão barato assim, que a Record se dá ao luxo de ficar focalizando, às vezes por quase uma hora, o sujeito paralisado em cima da passarela pela vertigem e medo, ou será que é preguiça, falta de assunto e de criatividade para fazer uma pauta decente? Ao menos o S da passarela resume bem o programa, S de sandice, de sensacionalismo barato. Aliás, onde estão os assesssores dessa gente que participou da Fazenda? Está no contrato deles que terão que pagar esse mico?



As imagens falam por si

Praticamente colado a esse programa, vem o Geral do Brasil. Olha, confesso que quando vi o apresentador pela primeira vez, achei que tinham contratado o Clébis, vestido um terno nele e colocado para comandar o programa. Que Clébis? Ele mesmo, o capataz da Fazenda. Sim porque é tão matuto quanto. Aliás, não sei se o Clébis não se sairia melhor.

Também não sei o resultado da investigação que o Ministério Público de São Paulo está fazendo sobre a aplicação de recursos do bispo em suas empresas de telecomunicação, mas uma coisa é certa, esse investimento não chegou aos apresentadores, diretores e produtores da emissora.

Como é que uma rede que quer chegar a ser a segunda, quiçás a primeira, disputa quase no tapa com a RedeTV, uma entrevista com a mãe e o pai de um dos participantes, abandonado por eles aos cinco anos de idade, ou promove diante das câmeras um encontro constrangedor entre eles? É boçal, é grotesco, é oportunista, não se coloca um participante (que já lhe rendeu pontos no Ibope) numa situação vexatória dessas, e nem tampouco pessoas de idade avançada, analfabetas ou semi-alfabetizadas, que já foram duramente maltratadas pela vida. Isso não é padrão de qualidade nem aqui nem em Tanganica. É Mundo Cão !!! Não se devassa a vida de ninguém dessa forma, é preciso ter respeito pelo ser humano e muito cuidado ao expor as chagas fétidas das pessoas ao público. Quem ganha com isso?

Ouvi dizer que a Record está cogitando em emplacar a 2a. edição da Fazenda ainda neste segundo semestre. Creio que se o fizer, estará dando um tiro certeiro no pé. A atração precisa ser reavaliada, não queira começar aos trambolhões, porque irá perder audiência. É preciso dar um tempo para rever e analisar muitos equívocos, inclusive cometidos pelos demais programas da grade. Sim, porque é difícil separá-los da Fazenda, já que todos se acham os donos absolutos da atração, com o direito até de traçar-lhe os rumos. Virou a Fazenda da Mãe Joana, onde todos palpitam! E, analisando friamente, acho que foi exatamente aí, que a Fazenda se perdeu. Os eliminados da Fazenda estão sendo jogados na programação da emissora como se fosse num Circo de Horrores, isso não é nada ético e nem admirável, considerando-se que alguns são contratados da emissora. Para quê as entrevistas com familiares e amigos, ex-participantes avaliando e dando nota a quem não está ali para contra-argumentar? Por que não fazê-lo quando todos puderem estar reunidos? Os demais programas da emissora que se contentem em fazer chamadas da Fazenda, com isenção e imparcialidade, pois isso já estará de bom tamanho. Dêem à Fazenda2 uma identidade própria e independente das demais atrações da rede.

Não busquem apenas a audiência e o faturamento, mas qualidade, caso queiram se manter no patamar que chegaram e continuar crescendo. Além do mais, esses realities devem deixar saudades, para que o público fique desejando a sua volta, não é à toa que o BBB, OAprendiz têm uma edição ao ano. Não queiram levar o público à saturação, pois ele se cansará.

Chegar a ser líder de audiência não é difícil, basta colocar no ar algo que seja
novo, atraia o público e tenha patrocínio, o difícil é ter talento e fôlego para se manter lá. O fato da Record ter batido, por alguns minutos, a toda poderosa Globo, não significa que está por cima. Vale lembrar, que o SBT também está no paréo, e ao meu ver, neste momento, com as novas contratações e o genial Silvio Santos, este sim com forte apelo popular, é quem pode vir a dar muita dor de cabeça! Enquanto vocês ficam na queda de braço com a RedeTV para ver quem sequestra o pai ou a mãe de alguém para dar um furo de reportagem, ou melhor, para levar ao ar de forma sádica o lado mórbido das pessoas a fim de causar comoção e lágrimas, o dono do Baú corre por fora e ri à toa.

E nao venham com aquele discurso de que quem não estiver satisfeito, clique o controle remoto. A partir do momento que a televisão tornou-se um veículo de massa e formador de opinião, que uma emissora é capaz de eleger e destituir um Presidente, enquanto cidadãos, temos o direito de acompanhar não apenas a corrupção que grassa no país, mas o público alvo dos meios de comunicação. Não é preciso ser muito letrado para perceber, que a programação da Record, em peso, parece estar dirigida para aqueles que, na Índia, são conhecidos como dalites, muito bem retratados em "Caminho das Índias" por Glória Perez como "poeira sob os pés". Ocorre que não estamos na Índia, não vivemos em um sistema de castas, e estamos longe de ser poeira ou de ser subjugados pelos pés de uma emissora.

E vocês, o que pensam a respeito? O que acharam da Fazenda?


Tenham uma ótima semana!


Shadow/Mariasun



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A FAZENDA DA MÃE JOANA by MARIASUN MONTAÑÉS is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 Brasil License.



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