sexta-feira, 23 de abril de 2010



NÃO HÁ COPA DO MUNDO NO BRASIL SEM SÃO PAULO


Dudu parece ter nascido com a bola nos pés. Não chegou ainda aos treze anos, mas em campo parece um veterano. Corre, dribla, ginga, marca, finaliza e faz gols. Um passe é mais lindo que o outro, quem disse que o futebol não tem nada a ver com balé?

Aquele menino é craque! É o comentário geral da galera. Subir ao pódio, com um sorriso marôto no rosto, já virou rotina. Seu time já conquistou muitas medalhas e trófeus pra galeria da escola.

Não importa onde ele esteja, no campinho, na quadra, na praia, onde houver uma bola é lá que ele estará.

Como essa paixão começou, nem seus pais sabem explicar. Talvez tenha sido quando começou a andar, era um passinho e um chute, um chute e um passinho; ou quem sabe, naquele dia em que foi ao Estádio pela primeira vez, ver o time do coração de seu pai jogar, agora dele também, e de toda a família, até do cachorro; ou quando entrou no gramado do Morumbi de mãozinha dada com o Rogério Ceni; ou quiçá, quando foi chamado para formar um time de jogadores dente de leite. Vai saber? Mas, toda paixão é assim mesmo, não tem explicação, ela simplesmente aparece e toma conta da gente.

Não perde um jogo seja do Brasileirão ou da UEFA, conhece a história do futebol de fio a pavio, tem a Seleção de seus craques favoritos, e pasme, é imbatível até no videogame quando joga o Fifa 2010. Lá ele é o técnico, escala, substitui, manda pro banco, tem um plantel de primeira. Vibra quando faz o gol, dá bronca quando o jogador perde a bola, rosna quando seu time toma gol, tudo muito real no jogo virtual.

Já fez planos pra Copa do Mundo de 2014, pode? Na Abertura do Mundial pretende marcar presença e fazer a festa nas numeradas do Morumbi, se possível no setor azul, com a camisa da Seleção, bandeira verde-amarela e uma corneta bem barulhenta.

Isso, Dudu, se a política do futebol assim o permitir:


Copa do Mundo é universal; São Paulo é um universo
Crônica da Jovem Pan
Não há Copa do Mundo no Brasil sem São Paulo. A frase é de Juvenal Juvêncio, e foi proferida nos microfones da Rádio Jovem Pan, em entrevista no Jornal da Manhã. Esta frase de esperança expressa na verdade a preocupação desta cidade universal que é São Paulo com manipulações para excluí-la da festa de abertura da Copa do Mundo.

É preciso dizer que o futebol nasceu aqui, há mais de um século. Charles Miller, brasileiro nascido no Brás, filho de pai escocês e de mãe brasileira, trouxe da Inglaterra, exatamente no dia 18 de fevereiro de 1894, duas bolas de futebol, um par de chuteiras, um livro de regras e uma bomba de encher bolas, e tudo começou aqui.

São Paulo é a sede histórica para o início da Copa, mas não é só. São Paulo tem a rede hoteleira, a infraestrutura hospitalar, centros de compra e de lazer, transporte de qualidade, grandes sistemas viários e de comunicação, Metrô, três aeroportos, tudo já instalado para receber centenas de jornalistas e milhares de visitantes que aqui virão.

Copa do Mundo é um evento universal, e São Paulo é isso. É o lar de todos os brasileiros que aqui vivem e trabalham, é a pátria de todos os povos que para cá vieram em todos os tempos. São Paulo é um universo. Hoje, o Brasil é pentacampeão mundial de futebol, mas tudo começou aqui. A abertura da Copa do Mundo tem que ser em São Paulo.

É Dudu, o futebol pra você ainda é mágico. Seu coração de menino vibra a cada gol, a cada lance bonito, a cada drible, a cada jogada desconcertante. Não importa se é o São Paulo quem está jogando ou o Santos, com essa sua alma que pulsa, você sabe admirar quem é craque, consegue reconhecer, vibrar e respeitar o talento de um time, mesmo que ele seja adversário do seu. Você gosta é do futebol bem jogado!

Mas, há algo que acontece por trás dos gramados que você não vê, que ninguém vê. É o jogo de interesses, a cartolagem, os patrocinadores que hoje mandam no futebol e até escalam jogadores. O futebol, meu pequeno craque, hoje está reduzido a um jogo de negociatas.
Como explicar a CBF estar fazendo campanha contra o Estádio do Morumbi junto à FIFA?
Sim, a Confederação Brasileira de Futebol, aquela que deveria promover, elevar e incentivar o que é nosso lá fora, e não retaliar. Aquela que deveria fazer de tudo para que você Dudu, vestido com a sua camisa verde-amarela e bandeira tremulante, pudesse participar da tão sonhada festa de Abertura da Copa de 2014.

Dizem que isso é um revide à oposição encabeçada pelos dirigentes do São Paulo Futebol Clube e algumas lideranças do Clube dos 13 à exclusividade da transmissão dos jogos pela Rede Globo, que é aliada da CBF. Uma guerra de bastidores. O montante? Algo envolvendo 3 bilhões de reais.

Realmente nunca entendi como uma Rede de Televisão pode ter a concessão para transmitir com exclusividade os jogos , e dar-se ao luxo de televisionar apenas alguns, determinando, inclusive, o horário das partidas de acordo com a sua grade de programação (jornal/novela). E aquele que aprecia o bom futebol? Ou vai mais cedo pra cama com o radinho no ouvido ou adquire o pay per view do SportTv (canal da Globo, aumentando o faturamento do Grupo). Com isso perde você, Dudu, perde o torcedor.

Está certo isso? Por quê não fatiar as transmissões, cedendo algumas partidas, em exclusividade, para a Globo, e, outras para a emissora ou emissoras que apresentem a melhor proposta, em dias e horários diferentes ao longo da semana? Não, isto nada tem a ver com a mesa redonda do Juca Kfouri, é apenas um momento de indignação, que não acaba aqui.

Nas últimas Copas do Mundo, o que se viu foi o surgimento de algo altamente lucrativo: a construção de Estádios nos países sede.

Aliás, tenho pena da África. Não é à toa que a população está tão revoltada. Gasta-se uma fortuna na construção de Estádios, enquanto o povo está à mingua, morrendo de fome e de doenças em razão das péssimas condições de vida. Dá pra entender?

Aqui cogitou-se na construção de um Estádio em Brasília para sediar a Abertura da Copa. Agora alguém me diga, além do Gama e do Brasiliense (time pertencente ao ex-senador Luiz Estevão), qual o outro time de expressão naquela região, quantos torcedores estão ali concentrados? E o Bezerrão remodelado a preço de ouro em 2008? Cogitar-se na construção de outro Estádio, vizinho a ele, às custas do Poder Público, não é um exagero? Qual o sentido de gastar-se milhões numa obra, que passada a Copa de 2014, tem tudo para tornar-se um “elefante branco”? Mas que se cogitou, ah, se cogitou! E as milhares de pessoas que perderam tudo com a violência das chuvas? E aquelas que ainda permanecem em áreas de risco? E as famílias cujas casas estão assentadas em minados aterros sanitários? Os milhões destinados à construção de Estádios, não teriam melhor destinação se aplicados na construção de casas populares? E a falta de vacinas H1N1 para toda a população, daí privilegiar-se apenas alguns grupos? O dinheiro para a construção de elefantes brancos, não teria melhor destino se aplicado no Ministério da Saúde?
Não queiram passar por cima da história, e esquecer a importância de Charles Miller e de São Paulo para o futebol. Não venham dizer que não é possível reformar o Estádio do Morumbi, sendo que este possui área suficiente em seu entorno para a construção de amplos bolsões de estacionamento, conta com parceiros da iniciativa privada para investir na reforma, tem crédito para financiar a obra e o aval do Governo do Estado.

Um Estádio para abrigar a Copa do Mundo, não se basta por si só, ao seu redor deve contar com uma complexa infraestrutura. E no caso do Morumbi, até a linha amarela do metrô, com a estação São Paulo-Morumbi, estará operando em 2014 rasgando a Avenida Francisco Morato. Isso sem contar com a vasta rede hoteleira, hospitalar, de gastronomia, de lazer, de transportes inclusive com três aeroportos, shoppings de nível internacional, centros de cultura e museus, ampla malha viária que a cidade de São Paulo oferece. Aliás, a maior infraestrutura da América Latina.

Parafraseando Juvenal Juvêncio: Não há Copa do Mundo no Brasil sem São Paulo.


Shadow/Mariasun


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NÃO HÁ COPA DO MUNDO NO BRASIL SEM SÃO PAULO de MARIASUN MONTAÑÉS é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-No Derivative Works 3.0 Brasil.


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