sexta-feira, 17 de dezembro de 2010




NATAL ILUMINADO





 Valquiria caminha de mãos dadas com a pequena Bia pela Avenida Paulista. Levanta o gorro do casaco da filha, enquanto esta olha com verdadeira fascinação para tudo que vê e ouve: ursos coloridos gigantes, árvores enfeitadas, músicas natalinas cantadas por um coral no prédio da FIESP. Uma garoa fina começa a cair, se incorporando à beleza do momento. Carros reduzem a velocidade como que a acompanhar o piscar das luzes e o ritmo das cantigas. Ao redor, tudo é mágico e luminoso. Por alguns instantes, Val tem a sensação de haver sido engolida por um cartão postal e agora fazer parte dele.

A criança que nela habita, parece ganhar vida: “Que linda fica a cidade no Natal!”

Ah, as ternas e doces recordações dos Natais de sua infância! “Têm coisas que nunca morrem”, começa a pensar.

Val e Leninha, sua irmã, quando crianças, viviam grudadas nas primas Maria Rita e Alicinha. Todas se encontravam no sítio do Tio Zuzu, em São Pedro. A alegria daqueles dias era única. As merecidas férias por ter passado de ano na escola, mudar de ares, não ter horário para acordar, a liberdade de nadar no riacho, de subir em árvore pra pegar manga (“hummm, como são doces nesta época"). 

Em frente à casa havia um jardim enorme e florido, lugar ideal pra andar de bicicleta, brincar de pique-esconde, chupar picolés de todos os sabores que abarrotavam a geladeira do Tio Zuzu; houve uma época em que a Val chegou a acreditar que ele fosse dono da Kibon. Era bom demais! Os dias se resumiam a andar descalça, suada e feliz.

A chegada da Alicinha e Maria Rita era sempre um acontecimento. Teve uma vez que a Alicinha decidiu que, quando crescesse, seria cabeleireira, e -voluntariosa como ela só- resolveu mudar o look das primas para a Noite de Natal. Foi o que bastou! Pegou uma tesoura e saiu cortando cabelos acima do elástico do rabo de cavalo. Para não ser diferente, pediu à sua sempre fiel escudeira Maria Rita, que fizesse o mesmo no dela. Ficou horrível! Dna. Rosa, mãe da Val, só não botou todo mundo de castigo pela época e porque o Tio Zuzu interferiu dizendo, que cabelo sempre volta a crescer e nada como umas tiaras, fitas e fivelas coloridas pra dar o toque certo no corte Joãozinho. Nem é preciso dizer que a vocação da Alicinha morreu aí.

Tio Zuzu sempre foi uma pessoa iluminada e o amigo certo em todas as horas. Nesta época, esperava com entusiasmo a chegada dos sobrinhos no sítio para dar início ao ritual natalino. Todos acordavam bem cedinho, ele pegava um serrote e cheios de expectativa, seguiam por uma trilha no meio do mato -ainda molhado pelo orvalho- até o lugar onde vários pinheiros estavam enfileirados. Ah, o cheiro inesquecível daquele pequeno bosque de pinheiros! Eram elas (as crianças) que escolhiam o pinheirinho que seria enfeitado, iluminado e colocado na sala. Raramente havia consenso, isso é certo. Mas, Tio Zuzu tinha habilidade suficiente para driblar quaisquer desavenças entre os pequenos. No fim, todos acabavam satisfeitos ao redor da árvore escolhida e a carregavam com todo o cuidado até o alpendre. A emoção daquele momento era indiscritível, Val parecia sentir o pulsar do pinheiro em suas mãos.

A colocação das bolas de cristal, das luzes, do algodão representando a neve ocupava o dia inteiro das crianças. Até o pit stop pra comer e lanchar era rápido, todos ficavam ansiosos pelo resultado final. O arremate era feito colocando-se uma estrela dourada e brilhante no topo do pinheiro. Cada ano cabia a um dos sobrinhos essa honra.

Ao pé da árvore não podia faltar o presépio que fazia parte da tradição da família, verdadeira relíquia. Val tinha um encantamento especial pelo Menino Jesus na manjedoura, de tão perfeito parecia real.

A Missa do Galo na Noite de Natal era sagrada. Ao longo dos anos, a família do Tio Zuzu ocupou as primeiras fileiras da pequena Igreja da praça central. O que as crianças não sabiam naquela época é que, enquanto todos acompanhavam atentamente a narrativa da fuga para Belém e o surgimento da Estrela-Guia no céu, que conduziria os Três Reis Magos, Tio Zuzu voltava pra casa e colocava os presentes embaixo do pinheirinho.
Naquela fase da vida em que as crianças acreditam no bom velhinho, Val era capaz de jurar que Papai Noel onipresente havia passado por lá. Sentiu um aperto de saudade nessa hora, enquanto uma delicada voz dizia ao seu lado:

- Mamãe, o Papai Noel ainda está no Pólo Norte?

- Ele anda muito ocupado na fábrica de brinquedos, seus ajudantes vem na frente pra receber as cartinhas das crianças, ela já ouvira essa mesma frase de Dna. Rosa, quando era menina.

Continuou andando de mãos dadas com a Bia pela avenida até o Shopping Pátio Paulista. Garoa refrescante - luzes coloridas piscando - plantas típicas de Natal com folhas vermelhas (bicos-de-papagaio) nas sacadas - guirlandas enfeitadas - pinheiros verdes, dourados, prateados - músicas natalinas - Papai Noel em seu trenó, a alegria dos pequeninos.


Enquanto isso, Leninha estava na janela contemplativa, relembrando também passagens de sua infância com a Val e as primas. "Esta época tem o poder de mexer com as lembranças da gente!", pensou em silêncio enquanto pingos de chuva batiam no vidro. A vila do Bixiga onde mora, mais uma vez está em festa e toda iluminada. Ela também colocou luzes coloridas nas janelas. “Como é mágico o piscar das luzes! Dá gosto de ver! O ano inteiro poderia ser assim”, desejou. 

Tavinho chegou de Piracicaba, veio curtir as férias em Sampa e passar o final de ano “con tutte quella buona gente”, e sua Leninha (claro!). Dna. Concheta, mãe do Tavinho, e Dna Genoveva vão cuidar dos pães e dos panettones de fruta para a Ceia de Natal. Dna. Giovanna, Dna Nicota e suas filhas, do peru e das massas. Dna. Emília dos doces, como sempre. Seu Tião, pai do Tavinho, e o Seu Manoel (este um português desgarrado em meio à italianada) do vinho tinto,claro. “Tutte una grande famiglia”, muito mais que vizinhos.

As lentes do Kaká, por sua vez, em dezembro não param. Sente uma atração irresistível em observar e captar a magia que está no ar e no rosto das pessoas. Costuma dizer com sabedoria que o Espírito do Natal existe sim, e pra quem duvidar, sugere que se detenha no olhar de admiração das crianças diante do velhinho de barbas brancas e roupas vermelhas. Por ser fotógrafo profissional tem o dom de retratar a alma das pessoas. Ele e sua máquina já estiveram em várias partes do Mundo, dos locais mais exóticos aos mais badalados, mas, confessa que fotografar a sua cidade natal, é um desafio e tanto. Nessa tarefa -para ser bem sucedido- é preciso olhar para São Paulo com olhos de turista, pois se for como paulistano, a cidade torna-se comum e banal, haja vista que os lugares, ruas, sua gente, monumentos, estão sempre ali ao alcance de todos, fazem parte do cotidiano, e por isso mesmo as pessoas não notam. 

No período que antecede ao Natal São Paulo se transforma, não é Paris, mas se enche de luz: da Ponte Estaiada, na marginal, à maior Árvore de Natal interativa e iluminada do Mundo lá no Ibirapuera, que teima em disputar as atenções com o show da Fonte Multimídia -ao lado- com suas luzes coloridas e mais de um milhão de micro-lâmpadas (lindo demais!)




O Kaká gostaria de ter feito esse roteiro ao lado da Maria Rita, mas ela já está sob os efeitos do BBB11, por conta disso, convidou o Dudu, seu afilhado e filho do Paulo, seu primo. Este que sempre foi bem mais que um amigo, uma espécie de irmão “gêmeo do coração”. As peladas na rua nos fins de semana lá no Cambuci, fazem parte da história dos dois, o Paulo no gol e ele no ataque eram imbatíveis! Os bailinhos no Clube Ipiranga foram a diversão de muitas tardes de domingo. Foi padrinho do Paulo quando este casou e o ombro amigo quando veio a separação. É por essa razão, que o Kaká se sente um pouco pai do Dudu também. Não tem um campeonato de futsal do menino que ele perca.

Até a pouco estavam na Rua Normandia. No trajeto foram admirando a decoração dos prédios, sacadas e a iluminação das ruas da cidade . “É tudo tão bonito, né tio?” O menino ficou maravilhado com a neve artificial. “Ih, e não é que neva em São Paulo!!!”, brincou. “Tio, deixa eu bater uma foto também!” Depois da neve e das fotos, subiram até a Avenida Paulista para ver as apresentações de Natal. Bonecos mexendo, ursos cantando, renas dançando, trenzinho carregando presentes, Papai Noel soltando o seu hohoho, duendes fazendo brinquedos. Encantamento puro! “Caraca, parece que eu tô lá na terra do Noel!”. Bom, nem é preciso dizer que o Dudu voltou pra casa cantando. “Puxa, se eu soubesse que ia ser tão legal, tinha convidado o meu amigo Beto”. Chegando em seu estúdio, Kaká atualizou o Facebook com lindas imagens, e mandou algumas por email pra Maria Rita.

Ela, a Ritinha, ultimamente vive conectada na internet só pra saber as últimas do BBB11. No seu blog, o CANDINHA DE CORPO E ALMA, foi uma das primeiras a postar fotos aéreas da nova casa do BBB. Não está nem aí pra aqueles que acham tudo isso balela, inutilidade e perda de tempo. Vai aproveitar o início das férias pra fazer uma manutenção geral no micro (não quer saber de apagões durante o reality) e pra iniciar a sua concentração, vai abastecer a despensa, colocar os assuntos pendentes em dia e comprar o pacote de pay per view. 

Descobriu que o canal 126 -com sinal aberto vinte e quatro horas- anda reprisando as edições anteriores (não deixa de “dar uma espiadinha”, só pra não perder o hábito, muito embora o Kaká não entenda que graça tem ver e rever o que já foi visto), tem zapeado pelo Multishow pra ver as entrevistas com ex-participantes (ela que não vai perder a oportunidade de dar os seus pitacos e de comentá-las no blog!). Isso faz parte do aquecimento pra largada, justifica ao atônito Kaká. Sabe-se lá quando irá ler o email que ele acaba de enviar ou se ela -sequer- sabe que dentro de alguns dias será Natal. 

Pobre Kaká, e ainda chegou a pensar que este ano poderia ser diferente! Ano após ano, tem uma época em que fica sem a sua Ritinha. Quantas DRs não serão necessárias até que ele supere o BBB na lista de preferências da Candinha? Resignado, torce e espera para que no próximo, ao menos, ela não se encante logo de cara por um participante, como fez com o Dourado. Arre, porque aí vai ser difícil suportar.

Nem a Alicinha entende muito bem o que se passa com a prima nesse período. Como é que alguém pode ter paciência pra ficar assistindo a mesma programação por horas a fio, vendo sempre as mesmas pessoas, falando sempre as mesmas coisas? Pra ela, o BBB só atrapalha, é obrigada a concordar com o Kaká, quem parece que vai pro confinamento é a Ritinha! A Alicinha é irriquieta e dispersa demais pra acompanhar um reality, parece movida a adrenalina e pólvora. Aliás, isso é o que não lhe faltou em 2010. No entanto, anda cismada com a simpatia das sete ondinhas da virada do ano. Algo não está dando certo! Sempre pede que elas lhe tragam um príncipe, mas acaba recebendo um sapo. Para potencializar os efeitos, está pensando em dar os pulinhos em lotes: sete na virada, sete ao meio dia e mais sete ao entardecer, quem sabe assim em 2011.....

Mas isso é logística pra daqui a alguns dias... Agora anda ocupada com o Amigo Secreto em família. Desde que descobriu o site www.amigosecreto.com.br, não parou. Cadastrou-se, formou um grupo convidando todos da família e agregados, inclusive as crianças. Uma espécie de resgate dos Natais passados, assim terão a oportunidade de trocar bilhetinhos e presentes entre si, mesmo com aqueles que estão longe, como faziam antigamente. O sorteio online do amigo secreto foi hoje. Alicinha amoooou a sua amiga secreta, fará de tudo pra chamar a atenção e atiçar-lhe a curiosidade. Por enquanto está mandando bilhetinhos aleatoriamente pra todos, o problema é que qualquer um pode ler a correspondência trocada, a não ser que seja enviado um bilhetinho fechado, o que ela não está fazendo, e isso poderá gerar uma certa confusão e desconforto, em razão das indiscrições da moçoila. A troca de presentes será na sexta-feira, dia 23, na Cantina do Roperto. Esse almoço promete!

Tio Zuzu topou na hora participar da brincadeira. Neste momento está respondendo ao bilhetinho que recebeu. Os outros ainda não sabem, mas ele pretende vir do Rio de Janeiro pra esse almoço. Chegará vestido de Papai Noel. Será O ACONTECIMENTO!! Muitos irão se emocionar, é certo, em especial aqueles que, anos atrás, carregavam um pinheirinho de Natal e o enfeitavam com todo cuidado, amor e esmero.

No fundo, Tio Zuzu sempre foi o Papai Noel de todos eles.


Amigos,

Olhem eu aqui carregada de presentes, ufa, rsss.

Estou entrando em férias, pretendo retornar em fevereiro.

Agradeço a companhia que me fizeram no decorrer deste ano por meio de comentários descontraídos e divertidos ou de opiniões francas e sinceras, como -também- da presença daqueles que passaram por aqui e acabaram voltando.

Desejo a TODOS um Natal iluminado e que a virada para 2011, seja o começo ou -até mesmo- o recomeço de tudo aquilo que almejam e desejam !!!

Até a volta !!!






Shadow/Mariasun Montañés


Licença Creative CommonsA obra NATAL ILUMINADO de MARIASUN MONTAÑÉS foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não-Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.

Natal 2010 - ESPALHE ESSA IDÉIA

Que tal fazer algo diferente neste Natal? Que tal ir a uma agência dos Correios e pegar uma das 17 milhões de cartinhas de crianças pobres? Há pedidos inacreditáveis. Tem criança pedindo um panetone, uma blusa de frio para a avó...É uma idéia!
É só pegar a carta e entregar numa agência do Correio até o dia 20 de dezembro. O próprio correio se encarrega de fazer a entrega.
Na vida passamos por três fases: a primeira, quando acreditamos em Papai Noel; a segunda; quando deixamos de acreditar e, a terceira, quando nos tornamos Papai Noel.



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