sexta-feira, 14 de junho de 2013





SÃO PAULO FORA DE CONTROLE
 




Quando Tio Zuzu ainda morava na Rua João Ramalho, em frente à PUC, nos idos da ditadura militar, acompanhou de perto os movimentos estudantis em suas diversas manifestações e protestos. Eles borbulhavam no interior da Universidade por meio de eventos culturais programados no Teatro Tibiriçá.

Pequenos grupos se formaram ali com o intuito de levar o teatro às camadas populares tendo como pano de fundo a contestação e a conscientização. 

Ele ainda se lembra da estreia e do impacto da peça Morte e Vida Severina, em razão da ideologia do texto escrito por João Cabral de Melo Neto, estreitamente identificado com a realidade brasileira. A estreia foi um sucesso estrondoso, inaugurando assim de fato o auditório Tibiriçá, com o grupo TUCA, que a partir de então emprestou seu nome ao teatro.

Talvez o TUCA seja um dos marcos, ao lado das arcadas do Largo São Francisco, da resistência estudantil daquela época e do movimento também conhecido como contracultura, o qual influenciou diversos artistas brasileiros e o rico repertório musical da época.


Era diante de sua janela que Tio Zuzu, então jornalista em início de carreira, via passar com admiração os jovens estudantes que contestavam valores morais e estéticos da sociedade global, promoviam revoluções em seus modos de vestir e em sua arte. Suas roupas e penteados eram símbolos desse universo paralelo que criaram para romper com o status quo posto. A riqueza poética e cultural que surgiu dali foi algo imensurável. 

Havia luta, havia coesão, havia ideologia, havia inteligência, havia romantismo, havia razão, havia propósito e até poesia.

Aqueles dias ainda permanecem vivos em sua memória, eles mudaram a história do país.

O tempo passou, Tio Zuzu se aposentou, mudou de endereço, foi para o Rio de Janeiro, isolar-se em meio à mata do Alto da Boa Vista para ter um contato maior com a natureza. E é de lá que ele olha, estarrecido, para os últimos acontecimentos em São Paulo.

Escreveu ele laconicamente no twitter: Não reconheço mais os jovens deste país.

Hoje ao acordar, enquanto tomava café abriu os principais sites de notícias. As manchetes noticiavam a quarta noite de violência, depredação e desolação em São Paulo, em razão do aumento de R$ 0,20 nas tarifas de ônibus. E de mais um embate entre a Policia Militar com uma turba ensandecida e  travestida de manifestantes, munida de gasolina, coktails molotov, soco inglês, pedras, paus, saquinhos com tinta para jogar nos policiais.... Tudo orquestrado pelo chamado Movimento Passe Livre.

Mais uma vez a bela São Paulo, a cidade da garoa, a maior cidade da América Latina, viu seus monumentos históricos e prédios serem pichados; vitrines e portas de vidro serem estilhaçados; ônibus incendiados e depredados, população acuada, lixeiras queimadas, estabelecimentos comerciais atacados e saqueados, pedras lançadas contra motoristas que em seus carros não tinham rota de fuga, policiais feridos, arrastões em meio ao congestionamento.

Quem é quem vai a uma manifestação com máscara, armado, disposto a incendiar e levar o caos à cidade?


Leninha filmou a ação dessa turba na Alameda Joaquim Eugênio de Lima e enviou para o tio Zuzu. Foi com incredulidade que ele viu, em questão de segundos, o entulho de duas caçambas ser atirado na rua e sacos de lixo serem incendiados; pedras e paus das caçambas serem arremessados contra os carros que tentavam esquivar-se e um motorista avançar com seu veículo sobre um grupo de manifestantes, atirando-os ao chão feito pinos de boliche. População x população.  A treva!!!

Será que o Movimento Passe Livre acha que tem passe livre para fazer o que quiser e parar a cidade?

Mas não é só isso. O que causa maior perplexidade e preocupação é o fato da opinião pública, nas redes sociais e nas ruas, estar apoiando e avalizando a ação violenta e desmedida desses baderneiros e arruaceiros, tratados como coitadinhos até pela imprensa, e condenando sem perdão a ação da policia.  

Tem algo muito errado!!!

Claro que o que se viu nada tem a ver com os vinte centavos a mais na tarifa de ônibus. Assim como as manifestações na Turquia nada tem a ver com a construção de um parque. Essa foi apenas a gotinha d’água que faltava para transbordar. Tem a ver com uma insatisfação generalizada que começa com os mensaleiros em Brasília, a corrupção e a impunidade; com um transporte público de quinta; com a criminalidade solta nas ruas e à conivência do Estado com o crime, ao dar aos menores de idade licença para matar; com os arrastões diários em meio aos congestionamentos; com a falta de investimentos na saúde e na educação, apesar da alta carga tributária, uma das mais caras do Mundo, sem retorno algum para a população.

Quem mora em São Paulo se sente inseguro, descontente e desamparado. E é esse sentimento latente que está levando ao caos.

A Polícia Militar não é a vilã nessa história, é tão vítima quanto. Ela tem o dever de estabelecer a ordem, garantir o direito de ir e vir das pessoas e a de proteger o patrimônio público. Não pode ficar assistindo passivamente ao quebra-quebra generalizado, vandalismo e cruzar os braços. Estamos em estado de guerra. Talvez quem melhor simbolize isso, seja aquele soldado cercado, agredido e seriamente ferido a pedradas, por tentar evitar que a bela fachada do Tribunal de Justiça fosse pichada, e que de arma em punho não revidou.  Esse herói merece ser condecorado pelo Governador do Estado.

Viver em São Paulo é estar num ringue de MMA diariamente sem árbitro. Estamos à deriva, não há autoridade nesta cidade. A criminalidade corre solta, enquanto os políticos se omitem ocupados demais com os mensalões, mensalinhos, corrupção e as próximas eleições. O povo que se dane! 

Após os últimos acontecimentos em São Paulo o Secretário de Segurança Pública deveria colocar o cargo à disposição, demonstrou que não tem competência para lidar com uma situação extrema e de emergência.

A população não aguenta mais, chegou ao seu limite; ou, os políticos começam a olhar mais para os anseios da população, ou o que se viu voltará a se repetir em maior escala, e movimentos outros, travestidos de representantes do anseio popular, terão “passe livre” para ocupar os espaços e buracos deixados pelo poder público, tal como as milícias no Rio de Janeiro. Não, eles não são a voz do povo. São oportunistas, vândalos, baderneiros, arruaceiros que visam lucrar futuramente com o caos, a violência e o sangue em cima desta nossa vida severina. Portanto, Vereadores, Prefeito e Governador eleitos e elevados ao cargo pelo voto popular, acordem! Ajam e façam por merecer o poder que lhes foi delegado. Já está mais do que na hora. 



É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida


Shadow/Mariasun 

Licença Creative CommonsO trabalho SÃO PAULO FORA DE CONTROLE de MARIASUN MONTAÑÉS foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada


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