quarta-feira, 9 de outubro de 2013


O SEGREDO DA FÊNIX


Assim, cortando o céu, voa ligeiro, entre mundos e mundos navegando, ora os ventos polares enfrentando, ora cortando, calmo, o róseo espaço, até que alcança as altaneiras águias, creem ver neles as aves uma fênix que cortasse os espaços, solitária, em procura da Tebas egipciana, para os restos mortais no radioso Templo do Sol guardar.   (Milton, “Paraíso Perdido”)

 
Fênix, a mais mítica e magnífica de todas as aves. Reconhecida pela beleza de sua plumagem brilhante; parte dourada e outra, de um vermelho incomparável, as cores do sol nascente. Alimentava-se de flores e incenso. Majestosa, de porte médio, poderia viver, mais ou menos, 500 anos.

Outra característica da Fênix seria a sua força descomunal e extraordinária, capaz de transportar em pleno voo, cargas muito pesadas, até elefantes, segundo algumas lendas.

Quando sentia a morte aproximar-se, fazia um ninho com ervas aromáticas, que ao serem expostas ao sol entravam em combustão e se incendiavam, e então se atirava ao fogo em cujas chamas morria queimada, para de suas cinzas, renascer outra ave idêntica.

Conta-se que sua voz melodiosa se tornava triste quando a morte se aproximava. O impacto de sua tristeza seria tão grande e intenso, que a morte de outros animais poderia ser atribuída a isso. 

A vida longa da Fênix e o seu dramático renascimento das próprias cinzas transformaram-na em símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual. Por essa razão, representa a esperança e a continuidade da vida depois da morte.

Não foi à toa que na mina San José em 2010, no Chile, a cápsula que retirou os 33 mineiros soterrados, foi chamada de Fênix.

Fênix nada mais é que o ressurgir das próprias cinzas!

Assim como o lendário pássaro também morremos e renascemos várias e inúmeras vezes durante a vida. Ao renascer já não somos mais a mesma pessoa que éramos, assim como a Fênix também não o é. A nossa evolução, aprendizado e crescimento talvez sejam feitos disso: transformar e saber enterrar a pessoa que ontem fomos. 

Os maus momentos são as chamas que ardem diante de nós diariamente. Não há ninguém que possa dizer que nunca tenha tido de enfrenta-los; inexoravelmente, nos sentimos insatisfeitos ou infelizes; queremos mais da vida, no entanto não sabemos o que queremos; tentamos realizar, mas não conseguimos alcançar. Todos nós - em determinado momento - somos chamados a encarar o fogo e a nos atirarmos nele, a enfrentar nossos medos, angústias, dúvidas e inseguranças.

Maus momentos não são apenas situações desagradáveis ou embaraçosas, ambientes hostis ou uma série de acontecimentos que deixam qualquer um sem chão, sem fôlego ou sem saber o que fazer. Maus momentos também são aqueles que quando entram em combustão, afetam a nossa autoconfiança, tiram a nossa vontade e trazem incertezas. São os fardos pesados que carregamos, por vezes, tão pesados quanto elefantes, aqueles que nos fazem questionar o trabalho, o casamento, as amizades, a família, a fé... e até mesmo a nossa existência. 

Nesses momentos é preciso saber renascer!

Um renascimento que resulte em novos voos. Para isso, é preciso saber renovar-se, transformar-se. Um mau momento, é apenas, um mau momento, a tristeza que dele possa surgir não é algo que deva paralisar a vida, nos fazer andar em círculos ou resultar numa fonte inesgotável de insatisfações. 

Não é diante dos desafios que nos sentimos mais motivados?

Pois é. Mas para isso, por vezes, é preciso ter coragem para enterrar as velhas crenças, abrir novos campos de possibilidades e aumentar o número de permissões para a vida, dando uma segunda, terceira... enésima chance a si mesmo. É preciso revolucionar, interior e espiritualmente, para poder renascer e voar cada vez mais alto na direção do horizonte, além das paredes e fronteiras de nossos medos, limitações e possibilidades. 

Renascer é o processo por meio do qual lamentamos nossas perdas e lutos, e encontramos a paixão. Esse o principal segredo da Fênix: a paixão pela vida e por aquilo que está por vir. É nisso que reside o mistério de sua força descomunal e da sua fé para voos cada vez mais longos. 

A cada voo um obstáculo, a cada obstáculo a chama, a cada chama as cinzas, a cada cinza a transformação, a cada transformação o renascimento, a cada renascimento a eternidade... num eterno recomeçar.



Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar, sem primeiro se tornar cinza? (Nietzsche)


Shadow/Mariasun Montañés

Licença Creative CommonsO trabalho O SEGREDO DA FÊNIX de MARIASUN MONTAÑÉS foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.


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