SÃO PAULO UMA CIDADE À DERIVA
Um movimento sem cabeça, sem uma reivindicação legítima conseguiu parar
a maior cidade da América Latina.
Por dois dias um grupo de dissidentes do Sindicato de Motoristas e
Cobradores instalou o caos na cidade, enquanto a Prefeitura, Secretaria dos Transportes, da Segurança Pública
e CET, Sindicato assistiam inertes e passivamente o martírio e desolação dos
paulistanos.
Ônibus eram parados por pequenos grupos, fazendo os passageiros descerem;
outros fechavam terminais de ônibus, estacionavam e atravessavam os coletivos nas ruas e nas principais
avenidas para bloquear e dificultar a passagem dos carros; pneus
de alguns veículos eram esvaziados e as chaves jogadas fora para serem impedidos de circular ou serem
manobrados. Anarquia generalizada!
Pessoas ficavam aglomeradas nos pontos sem saber o que fazer ou para onde ir,
outras caminhavam pelas ruas sem saber se teriam forças para chegar ao destino;
crianças, mulheres grávidas, pessoas doentes com consultas marcadas, idosos, estudantes, trabalhadores,
todos, sem distinção, perplexos, entregues à própria sorte, vítimas e reféns da falta de autoridade e organização da
cidade.
Milhares de passageiros de ônibus sem condução, à deriva, abandonados e à mercê de oportunistas
com minivans, motos, táxis que se aproveitando do desespero e cansaço da
população, cobraram o que quiseram para levá-los a lugares próximos ao trabalho
ou de suas casas. Os que se aventuraram no metrô e trens, coitados, ficaram
horas esperando exprimidos em estações super hiper lotadas, enquanto o trânsito batia
recorde de congestionamento.
Onde estão as leis? Onde estão as autoridades desta cidade?
Transporte público é serviço essencial e, por ser essencial, a lei
estabelece deve haver aviso prévio em caso de paralisação e os sindicatos devem
garantir, durante o período de greve, a prestação desses serviços de forma
regular e continuada.
É muito fácil ao presidente do sindicato dizer que a paralisação foi provocada por um grupo dissidente e lavar as mãos. Ora, alguém que represente
um órgão de classe deve ser capaz de dialogar com a oposição e a dissidência,
se não tiver força e jogo de cintura para isso, melhor que entregue o cargo. Simples assim.
Além do mais onde estavam o prefeito e secretários ante a flagrante
violação do direito de ir e vir da população? Onde estava o comando da CET que
não utilizou seus guinchos para retirar os veículos que obstruíam as principais
vias da capital? É bom dizer que a CET não tem apenas a função de aplicar multas a quem fura o
rodízio de veículos.
É sabido que em sua essência toda e qualquer greve tem natureza
eminentemente política, pois quase sempre envolve questões salariais e de melhores condições de
trabalho. O que é de se estranhar é que isso tenha ocorrido após uma assembleia
entre patrões e empregados que aprovou o percentual de reajuste salarial.
Como assim? Um grupo não concorda com o acordo firmado e ao invés de
discutir isso na assembleia resolve levar a discussão pras ruas, com quem não
tem nada a ver com isso?
Onde está o Ministério Público de São Paulo e a Polícia Militar para
apurar responsabilidades e prender quem está fazendo parar toda uma cidade e um serviço indispensável
à população?
Por mais
legítimo que seja o movimento paredista em face das reivindicações,
não se pode admitir que a comunidade usuária do transporte coletivo sofra as
consequências e prejuízos, por vezes irreparáveis, decorrentes da paralisação
de sua prestação. Aliás, quais são as reivindicações desses dissidentes?
O terceiro dia de paralisação dos ônibus iniciou com algumas empresas com os portões fechados, apesar da determinação judicial de que 75% (setenta e cinco por cento)
da frota deveria circular nas ruas.
Onde está o poder de “cumpra-se” das decisões judiciais?
O que se viu
nestes dois últimos dias em São Paulo é reflexo da falta de representação, comando e de autoridade que
vivemos em todas as esferas. Quem nos representa deveria inspirar-se mais no lema da bandeira
nacional: “ordem e progresso”, hoje uma utopia, meu caro amigo...
Shadow/Mariasun