quinta-feira, 2 de abril de 2015





A PÁSCOA DE CHOCOLATE


Coelhinho da Páscoa
Que trazes pra mim?
Um ovo, dois ovos, três ovos assim...

 
Mais um ano coelhos risonhos e ovos de chocolate anunciam que a Páscoa se aproxima. Leninha caminha pelo corredor do supermercado forrado e abarrotado de ovos de todos os preços e tamanhos. Entre as opções: crocante, amargo, ao leite, branco, trufado, com ou sem recheio. No quesito variedade, tem para todos os gostos, num apelo em alto e bom tom: “Leve o seu! Se não pegar, pode ficar sem, hein!”Vai ficar passando vontade?” “Uma Páscoa sem ovo de chocolate, não é Páscoa!”. Se uma criança estiver ao seu lado, então, com aqueles olhinhos brilhantes e pidões, você acabará levando no mínimo um, apesar de sua voz interior dizer: “Mas tá muito caro!”.

Enquanto percorre aquele espaço repleto de tentações, Leninha relembra do Tio Zuzu comentando na Páscoa passada: Será que estamos comemorando a Páscoa em família sem perder aquilo que ela representa? Será que temos passado para as crianças a tradição de comemorar a vida ou os ovos são o mais importante da festa?

Leninha ainda guarda belas e ternas recordações dos emblemáticos encontros em família em São Pedro, onde nem só de chocolate e coelhos se fazia a Páscoa. A procissão no Domingo de Ramos pelas ruas da cidade e a emoção no Sábado de Aleluia, com as crianças caminhando em direção à Igreja Matriz com velas acessas. Era um momento muito aguardado por quem ali estivesse. Em sua imaginação anjos se juntavam a todos, entoando hinos de Glória e Louvor pelo Cristo Ressuscitado. Era um ritual emocionante de fé e esperança, que tocava o coração sem fazer distinção entre crianças, jovens e adultos.

A reunião da família para celebrar a Páscoa, não era apenas a caça dos primos e sobrinhos aos ovinhos de chocolate espalhados pelo jardim da pequena chácara; mas, a celebração da vida e do encontro entre todos; afetos compartilhados ao longo de mais um ano, ao redor da mesa em torno da bacalhoada servida no almoço de domingo, hummmm... É verdade que a troca de ovos de chocolates sempre fez parte da festa, mas a magia em torno da celebração era, sem dúvida, muito mais importante e impactante para as crianças, do que os ovos de chocolate em si.

A promessa e expectativa na eternidade, da continuidade da vida... estava ali, representada naquela mesa...

Hoje, as crianças e os adultos parecem ver apenas o coelhinho e os ovos de chocolates, sem se importar, inclusive com o preço. Paga-se o equivalente a cinco barras de chocolate ou mais, apenas pelo prazer de degustar o chocolate em forma de ovo. O convite ao consumo que chegou ao Natal e ao Dia das Mães, agora também faz parte da Páscoa.

O gosto chega a ser amargo e pouco saboroso quando se pensa no diferencial de preços dos cobiçados ovos se comparados aos das barras de chocolate. É preciso preparar o bolso para gastar bem mais. Leninha não consegue entender como um ovinho de 320 gramas custa R$ 37,63, enquanto o mesmo chocolate em barras de 150g custa R$ 4,44. Afinal, qual a diferença? Chocolate é chocolate e cacau é cacau, não importa se oval ou retangular!!!

Onde está o espírito da Páscoa daqueles que se aproveitam da data para aumentar os lucros e faturar com o preço dos ovos de chocolate?

Vendo o congestionamento e empurra-empurra no corredor daquelas delícias suspensas em formato de ovo, Leninha se perguntava: - Por que não levar barras de chocolate então, que estão no corredor ao lado? 

É simples Leninha: Porque a tradição e o desejo prevalecem sobre a lógica e o bolso. As pessoas acreditam que irão desapontar umas às outras se derem barras de chocolate ao invés do tão esperado ovo da Cacau Show; que o sorriso e o brilho nos olhos das crianças desaparecerão. Será?

Existe um prazer hipnótico e insensato, que dificulta resistir à tentação de levar um ovo de chocolate para o filho outro para o afilhado e um para você (porque afinal a Páscoa é de todos), mesmo que depois se tenha de abrir a carteira e pagar cinco vezes ou mais.

E de nada adianta ir para as redes sociais lamentar e reclamar de que se sentiu lesado e assaltado pelo preço que pagou. Não, a escolha foi sua. A barra e o ovo de chocolate não satisfazem o mesmo desejo, que é unicamente seu. Aceita, que dói menos!

Nem tudo que fazemos obedece à lógica, ao bom senso e ao bolso. Ficar sem o ovo ou substituí-lo por barras de chocolate, para muitos, é pior do que ficar sem ele e com o dinheiro no bolso, ou, com o seu valor equivalente em barras de chocolate. O ovo tem um valor agregado, que remete à memória emocional e ao desejo de cada um. O comerciante sabe disso, e é justamente isso, o que determina e mantém os preços.

- Não!, disse Leninha para si mesma. Este ano vai ser diferente!

Lembra como se fosse ontem, que por ocasião da Páscoa, sua mãe costumava fazer ovos em forminhas de 250g, para presentear as crianças da família e aos amigos; forminhas, que Leninha cuidadosamente ajudava a preencher para não vazar e, depois, a embrulhar os ovos com todo o esmero e atenção em papel alumínio e celofane colorido. Eram tão delicados e bem feitos, que sua mãe começou a receber pequenas encomendas da vizinhança, das mães de seus coleguinhas da escola e até do Seu Bastião do mercadinho da esquina. Sem dúvida, aqueles ovinhos artesanais tinham um sabor diferente, eram feitos de amor.

Movida por esse espírito, decidiu que não seria explorada. Não este ano! Sem pensar duas vezes, comprou algumas forminhas, barras de chocolate, creme de leite, chocolate granulado, papel celofane e fitas coloridas.

Enquanto picava o chocolate em pequenos pedaços para levá-los ao micro ondas, começou a questionar:


E se ficarem feios? E se pensarem que eu não dei muito valor ao presente dos sobrinhos? Foi o que bastou para se imaginar destruindo a Páscoa da família.


No seu inconsciente estava presente a razão das pessoas se acotovelarem em um corredor estreito para conseguir um chocolate não apenas em forma de ovo, mas de marca, posteriormente, eternizado como um troféu em fotos postadas no Instagram e no Facebook. 


Ah... o medo e receio de fugir à regra, do lugar comum, do socialmente esperado...

Leninha, então, ouviu uma voz interior, que a fez se animar e lembrar de sua mãe: Teus ovos serão mais apreciados que os de qualquer marca ou crocância, porque terão o teu toque, a tua pitadinha de amor e carinho. Isso os torna únicos e extremamente saborosos. O resto é apenas uma convenção desnecessária e cara. Não se esqueça: O que vale é a comemoração e a lição espiritual da data feita com alegria e doçura. 
 
Foi assim, e ao se lembrar das Páscoas de sua infância e de sua mãe, que ela sorriu e continuou a derreter o chocolate, dispondo-se a fazer os mais deliciosos ovos do planeta.


É... ao que parece, para Leninha, esta Páscoa será diferente das outras. Já colocou em uma cestinha, com todo zelo e cuidado, alguns ovinhos embrulhados no maior capricho em papel alumínio e celofane arrematados com um lindo laçarote colorido, tal como fazia quando era menina.

Dentro de cada um, além do seu amor e do ovo tradicional, ovos recheados e trufados. Certamente, serão a sensação no próximo domingo.
   

...Coelhinho da Páscoa
Que cor eles têm?
Azul, amarelo, vermelho também...




Desejo que nesta Páscoa, além do coelhinho e ovos de chocolate, você consiga pensar no verdadeiro sentido e significado desta data: O mistério da Ressurreição e da vida eterna!!!



FELIZ PÁSCOA!!!


Shadow/Mariasun Montañés



 
Licença Creative CommonsO trabalho A PÁSCOA DE CHOCOLATE de MARIASUN MONTAÑÉS está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.



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