sábado, 3 de dezembro de 2016




SOMOS TODOS CHAPE





Por aqui os dias têm sido tristes. Um silêncio profundo parece haver tomado conta das ruas do país.

Brasileiro é um povo alegre, de riso fácil, expansivo, fala alto, gesticula, mas, um comedimento respeitoso se fez presente durante esta semana nos bares, escolas, restaurantes, empresas, escritórios... 

O verde está colorindo cidades inteiras, o verde que simboliza a esperança, mas que hoje simboliza também a fraternidade e a solidariedade, que encontramos na dor da partida.

Na última terça-feira, 29/11/2016, acordei cedo, como sempre faço. Senti o friozinho que uma madrugada fresca deixara aqui em São Paulo. No lento despertar enquanto preparava o café, liguei a televisão. No início não prestei atenção, apenas a voz da jornalista me fazia companhia sem, no entanto eu estar sintonizada ao que ela dizia. Lembro de ter olhado para a tela e ver uma imagem verde, pensei: Deve estar falando do Palmeiras. E continuei concentrada no que fazia, até que ao aumentar o som, gelei: acidente aéreo com o time da Chapecoense!!!

Incrédula, pensei: Caiu o avião??? Como caiu??? No domingo o time estava em campo!!! Aumentei o volume da televisão para ter certeza de que o sono não estava confundindo os meus sentidos.

Parei o que estava fazendo. Devo ter perdido a respiração por alguns minutos ao ver as imagens. Sim, o avião havia caído e seus destroços estavam espalhados na serra próxima ao aeroporto de Medellín. Estava tão perto, por que não conseguiu pousar???

Voltei a respirar ao ouvir a jornalista dizer que havia sobreviventes: 1, 2, 3, 4, 5... Fiquei atenta para ouvir a contagem subir. Meu coração dizia: se alguns se salvaram, outros também podem ter conseguido; apesar da razão dizer: esses que escaparam estão vivos por um milagre, impossível sobreviver a um acidente aéreo como esse... Não tardou para informarem a suspensão do resgate pelas más condições do tempo e dificuldade de acesso. Era a confirmação de que a partir de então a contagem seria da dos que não haviam sobrevivido. Horas mais tarde, ao retomarem as buscas, encontraram o último sobrevivente, milagre define!!! Ao todo, 71  vítimas e 6 sobreviventes.

Nas redes sociais, homenagens, mensagens de todas as partes do mundo, formando uma corrente de amor em meio ao luto e à dor. Nas ruas, no metrô, no supermercado, no trânsito... a tristeza e o nó na garganta no semblante de cada um.

A partir daquele momento, ficamos íntimos da Chapecoense, que carinhosamente passamos a chamar de “Chape”, como se todos fizéssemos parte da torcida desde longa data....
Fiquei durante o dia todo pensando no sentido desse acidente. Será que o destino nos pertence?

Uma antiga lenda chinesa diz que: 

Fios invisíveis conectam os que estão destinados a se conhecerem ou a se encontrarem, inclusive na morte. Independentemente do tempo, lugar ou circunstância. Os fios podem esticar ou emaranhar, mas nunca se romperão, ligando irremediavelmente uns aos outros.

Então comecei a meditar sobre os passos da Chape até entrar naquele avião:

Por noventa intermináveis minutos o time segurou o empate naquele que seria o jogo mais importante e fatal de sua história. No último minuto da semifinal do torneio da Copa Sul-Americana, Danilo - o bravo goleiro - esticou a perna direita como um gigante, para evitar o gol do São Lourenço e assim acabou classificando a Chape para a final do campeonato.
A equipe de jovens talentos enfrentaria o Atlético Nacional de Medellín. Todos comemoraram com euforia a conquista no vestiário. Era um sonho realizado!!! De fato é uma proeza e tanto para um clube de apenas 43 anos, que rapidamente chegou à série A, disputar a final num campeonato internacional.
Fios invisíveis começavam a vibrar naquele momento, selando o destino de todos....
Após jogar sua última partida em São Paulo contra o Palmeiras, e de haver valorizado a conquista do título do adversário, o grupo se preparava com grande expectativa para ir a Medellín, disputar a final da Sul-Americana.
O time embarcaria em um voo fretado partindo de Guarulhos para Medellín, tudo estava pronto para o embarque, porém os planos tiveram que ser abortados, quando a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) vetou o fretamento.
Com a imprevista alteração os jogadores, equipe técnica e jornalistas fizeram um voo comercial do Brasil até a Bolívia e, de lá fretaram o voo da LaMia que os levaria até o destino final.
Mais uma vez o inesperado e fios invisíveis traçando a história...
O plano de voo inicial teria uma parada técnica para abastecimento em Cobija, ocorre que esta não poderia ser feita porque aquele aeroporto não funciona à noite. O tempo perdido com o veto da ANAC teria atrapalhado os planos para essa parada. O plano B seria pousar no aeroporto de Bogotá. A Agência de Aviação da Bolívia alertou a LaMia para alterar o plano de voo, o piloto recusou, e, apesar da advertência e da negativa, o controle de voo boliviano autorizou a decolagem, sem reserva de combustível para aquele trajeto, a despeito do risco de uma pane seca.
Seria isso o  que chamam de destino??? Haveria uma força invisível determinando o rumo dos acontecimentos???
Segundo a Mitologia grega, o destino seria determinado por três irmãs, as Moiras, a elas caberia fabricar, tecer, medir e cortar o fio da vida.
Ao seguir viagem mantendo o plano inicial, o piloto traçava o destino do voo da LaMia. Já próximo ao aeroporto de Medellín, outra aeronave que teve seu curso desviado para lá por estar com problemas de combustível, obteve autorização para pousar na frente da LaMia. A essa altura os minutos eram vitais. Por estar fazendo um voo irregular e para evitar punições, o piloto não relatou de imediato à Torre de Controle a falta de combustível. Sem combustível, sobreveio a pane elétrica, a pane nos motores e a queda fatal.
Ante essa sucessão de acontecimentos, não tem como deixar de pensar em destino e fatalidade e nos fios invisíveis que vibram e unem as pessoas, inclusive nas tragédias. É como se todas aquelas pessoas tivessem que estar reunidas ali, naquele momento, naquele voo não no que a ANAC vetou ou numa rota diferente. Quem não fazia parte disso ou milagrosamente se salvou ou deixou para viajar no dia seguinte. Mistérios entre o céu e a terra....
Um mistério como o que hoje nos une e criou um liame eterno entre Chapecó, o Brasil e o mundo e, em especial, com o povo colombiano, que tão carinhosamente acolheu nossos meninos e não se cansou de homenagear nossos campeões até o momento da volta pra casa. Sim, uma nova família nasceu!!!
Hoje somos todos Chape!!!

Inesquecível a homenagem da torcida do Atlético Nacional na noite em que o primeiro jogo da final com a Chapecoense seria realizado. Os torcedores lotaram o Estádio Atanasio Girardot e as ruas no entorno num momento comovente e emblemático:

Vamos vamos Chape...


Shadow/Mariasun Montañés


Segunda-feira, 05/12/2016,
A Conmebol acaba de declarar a Chapecoense campeã da Copa Sul-Americana de 2016.
O pedido de que a Chape fosse considerada campeã feito pelo Atlético Nacional foi decisivo: "Além de estarmos muito preocupados com o lado humano, pensamos no aspecto competitivo e queremos publicar este comunicado onde o Atlético Nacional convida a Conmebol para que entregue o título da Copa Sul-Americana à Chapecoense como uma homenagem à sua grande perda e homenagem póstuma às vítimas fatais do acidente que deixa nosso esporte de luto. Da nossa parte, para sempre, Chapecoense campeã da Copa Sul-Americana de 2016", dizia a petição.
Em decorrência do título, a Chape conquista vaga na fase de grupos da Libertadores de 2017 e arrecada prêmio de 2 milhões de dólares (aproximadamente R$ 7 milhões). Também se classifica para a disputa da próxima Recopa Sul-Americana, na qual enfrentará justamente o Atlético Nacional, totalizando mais US$ 2,8 milhões garantidos (quase R$ 10 milhões).             
Além disso, a CBF vai fazer uma doação de R$ 5 milhões para ajudar a equipe. Um amistoso entre a seleção brasileira e a Colômbia também está planejado. 
A Conmebol também informou que entregará o prêmio "Centenário Conmebol de Fair Play", que vale um milhão de dólares (aproximadamente R$ 3,5 milhões), ao Atlético Nacional.                                        
A final da Sul-Americana seria a primeira decisão internacional da história da Chapecoense. Na próxima temporada, a equipe estreará também na Copa Libertadores da América.


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