domingo, 8 de outubro de 2017




INFÂNCIA DESPEDAÇADA


De quantas maneiras a criança pode ser despedaçada,
e ainda assim continuar inteira? (Mariasun Montañés)


Não há sensação mais terna e mais doce do que a de ver uma criança dormindo serenamente no berço.

Essa imagem nos acalma e enche de paz. Acaricia e aquece a alma e, instintivamente nos faz sorrir, talvez por nos envolver num estado de graça, onde os problemas se suavizam e a esperança parece olhar para o futuro.

Ver uma criança correndo, gargalhando, brincando, pisando em poças de água, se lambuzando com algodão doce, não deixa de ser um chamado para que olhemos a vida com mais leveza, menos dureza ou rancores.

A única preocupação que uma criança deveria ter é com os estudos, a exploração do mundo com as próprias mãos, brincar de pique esconde e viver aventuras incríveis por meio dos contos de fada.


No entanto, a cada notícia estampada nos jornais e nas redes sociais vemos que precocemente as crianças estão tendo que enfrentar a crueza de um mundo para o qual não estão preparadas, tendo que crescer rápido demais.

A imagem da escola Gente Inocente queimada, em Janaúba, que percorreu e consternou o Brasil, com desenhos coloridos chamuscados e espalhados pelo chão numa sala coberta de cinzas, onde antes havia um grupo de crianças felizes e sorridentes, simboliza a nossa crueldade com as crianças. Oito delas morreram, mais a professora que tentou protegê-las, pelo ato desatinado de uma pessoa mentalmente perturbada, que não poderia estar trabalhando com pessoas, muito menos em uma escola infantil.

E não cessa aí. Recentemente vimos a divulgação de um vídeo feito no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo onde uma criança visivelmente constrangida, é estimulada pela mãe a tocar no corpo de um homem deitado, completamente nu. E o pior: ainda há quem ache isso normal e defenda ferrenhamente que isso é arte! Para os mais desavisados: Isso é crime!

Muito embora não tenha havido a mesma repercussão, nesse ínterim soubemos que, no Piauí, um menino de onze anos foi deixado pelos pais em uma cadeia para passar a noite na cela de um condenado por pedofilia. Sim, os pais da criança fizeram isso! Assim como eles, outros pais permitem que seus filhos dessa mesma idade, armados com fuzis nos morros cariocas, sejam soldadinhos do tráfico.

Parece ficção, mas não é. É a realidade dura, nua e crua de uma sociedade doente, que está perdendo os seus valores, a noção de civilidade e matando a infância. Quando perdemos a capacidade de nos indignar diante disso, perecemos enquanto humanidade.

As crianças estão sendo vítimas da subversão dos valores e enfraquecimento da família. Esse é o caminho mais rápido para destruir um país sem armas: a destruição da infância e dos jovens. É o que Gramsci entendia como conquista de corações e mentes.

Quando se defende que a criança deve ser livre para fazer o que bem entende, sem a autoridade “opressiva” dos pais, o que se coloca em xeque é o centro de gravidade, equilíbrio e proteção dessa criança. Ela pede e precisa de limites para poder se adaptar ao mundo, necessita de um adulto que lhe mostre o que é certo e errado. Quando ela não tem nenhum parâmetro, sente-se perdida e angustiada. E isso nada tem de opressor. Faz parte do seu desenvolvimento e crescimento psicológico, emocional e social.

A ausência de limites e disciplina gera crianças estressadas, egoístas, agitadas, que oscilam entre a onipotência e impotência, mental e espiritualmente fracas. É aí que a ideologia da escola com partido encontra terreno fértil e se fortalece. Nesse vácuo ela (a escola) passa a ensinar que qualquer fundamento moral, inclusive religioso, é uma fraqueza a ser combatida e evitada em nome de uma liberdade, que no fundo nada mais é do que a aniquilação da liberdade de pensamento.

Não, ninguém pode fazer o que quer. Isso não é liberdade. É libertinagem, devassidão.

Vivemos num mundo com regras, sem elas viveríamos como selvagens em meio ao caos. Nesse sentido, a disciplina e os valores morais e éticos são fundamentais para o desenvolvimento de uma criança em formação. A ausência disso cria deformações de caráter e corrompe os vínculos sociais e afetivos.

Mas não é apenas essa ausência que prejudica o desenvolvimento de uma criança. A exposição a conteúdos inapropriados para a idade, a erotização precoce, acaba encurtando a infância e pulando uma fase importante da vida. Quando o brincar se transforma numa atividade de gente grande, no culto à ideologia de gênero, onde se coíbe a distinção entre meninos e meninas, e todos passam a ser chamados de meninex; onde até o banheiro da escola não tem mais o masculino e feminino, é tudo misturado...  a inocência está irremediavelmente perdida.

Que raio de sociedade estamos construindo? Que pais e educadores são esses? Onde ficam o cuidado e o respeito às necessidades individuais da criança?

O brado do coletivismo, da fragmentação da infância, da mediocridade intelectual, são temas recorrentes de grupos que se dizem conscientes, inalienados e protetores dos oprimidos, mas que - paradoxalmente - oprimem com sua ideologia do politicamente correto.

As crianças são serumaninhos em fase de formação física, psicológica e emocional. Elas experimentam o mundo e os adultos são a sua referência. Os pais e educadores são os seus modelos.

Precisamos amparar e proteger as nossas crianças. Elas são frágeis, vulneráveis como um barquinho de papel, e não sabem se defender, da mesma forma que as crianças da Janaúba não souberam se defender do fogo, e a menina exposta no MAM também não soube.

Qual o sentido de usar o termo meninex para todos? Isso é nocivo e prejudicial à criança. A distinção entre meninos e meninas acontece de forma natural, é a descoberta do feminino e masculino sim, que existe para que se reconheçam as diferenças que há entre o homem e a mulher, entre o papai e a mamãe. Não somos todos iguais, esse é o aprendizado do qual irão depender - inclusive – as nossas opções futuras.

Apesar da mudança dos tempos, o mundo infantil continua permeado por príncipes e princesas, com os quais a criança se identifica e conversa; meninos e meninas, cada qual no seu papel, compartilhando aventuras com personagens imaginários e com o modelo de pai e mãe que internalizaram. É a partir disso que o pequeno mundo infantil vai sendo construído e ganhando forma, são os primeiros ensaios na formação de uma identidade sexual lá adiante, do qual dependerão suas escolhas na vida adulta, inclusive, na esfera afetiva. Ela precisa vivenciar essas diferenças na infância para o seu integral desenvolvimento mental e emocional.

Ridicularizar a moralidade, a virtude, a diferença entre homens e mulheres, destruindo o conceito de família, educação, crenças, cultura e arte, é outro caminho para se destruir um país sem armas, e para o qual em muito contribuem os meios de comunicação de massa.

Portanto, chega de falar em meninex e ideologia de gênero para crianças em formação! Chega de achar normal uma criança tocar em público um homem nu em nome da arte. Que arte?!? Qual a proposta? Qual a mensagem? Algo que é feito para chocar? Isso não é arte, é lixo. A arte deve enlevar o espírito e inspirar. Esse lixo atende apenas a uma proposta: a de destruir um país. Comece-se por empobrecer a cultura e as artes, e você estará cada vez mais perto de controlar corações e mentes.

Expor crianças ao constrangimento é crime. Como uma menina vai impedir que um homem a toque, se ela é induzida a tocar num homem nu em público? Isso é um atentado contra a integridade da criança, assim como o foi no caso do menino de onze anos deixado pelos pais na cela de um pedófilo. Chega de justificar que criança empunhando fuzil é fruto da pobreza. É fruto da impunidade e da banalização do crime, isso sim. Lugar de criança é na escola, e de traficante é na cadeia.

É preciso parar de dar ouvidos àqueles que se acham moderninhos, os donos da verdade e entendidos em educação e, olhar mais para as necessidades das nossas crianças. 

Os politicamente corretos por trás das bandeiras que erguem, defendem apenas os interesses de um grupo e não da infância de um país. Querem impor a sua ideologia e deixar desprotegidas as crianças e toda uma geração. Não podemos ser cúmplices disso. É preciso defender as crianças, a ética, a conduta moral, a família, a religião, as leis, porque somos a sociedade e os responsáveis pelo futuro que essas crianças terão.

A criança precisa do amparo e do colo dos pais, e isso é mostrar-lhe os limites, ensinar-lhe a diferenciar o certo do errado, respeitá-la como menino ou menina. Ao contrário do que alguns dizem, ela não será oprimida por isso. Pelo contrário, estará sendo preparada para encontrar e trilhar seu próprio caminho.

As crianças não são um experimento, elas precisam de muito pouco para crescer saudáveis e felizes, tudo o que elas pedem e querem... é serem amadas e respeitadas...



Que neste Dia das Crianças, as crianças recebam o aconchego, respeito e carinho de que tanto necessitam. Que Nossa Senhora Aparecida as cubra com o seu manto de luz e amor. 



Shadow/Mariasun Montañés


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