
A VIDA DA GENTE
O outono se aproxima. Mais um ano, Maria Rita olha através da janela para ver a Quaresmeira que fica na esquina de sua casa. - Ela já floriu!, constata. Em breve aquelas flores arroxeadas começarão a cair, formando um tapete de pétalas ao seu redor.

Maria Rita está mudando, florindo como aquela Quaresmeira. Hoje, não é a mesma de um ano, um mês, uma semana atrás, está mais introspectiva, mais antenada consigo mesma. Quem pensa que ela está fissurada no BBB se engana, cansou. - Perda de tempo!, costuma dizer de forma breve, aos comentaristas do blog que querem saber sua opinião sobre este ou aquele participante.

Capítulo a capítulo, a obra de Lícia Manzo, foi aos poucos ganhando seu interesse numa crescente cumplicidade com os personagens; eles que com suas virtudes e defeitos, dúvidas e certezas acabaram construindo uma ponte entre a tela de LCD e o sofá de sua sala.
Logo no início ficou imaginando como seria permanecer cinco anos em coma, longe, ausente, distante e alheia aos acontecimentos ao redor.

Maria Rita é uma sonhadora, assim como o eram as personagens Ana, Manu e tantas outras o são na vida real. Busca o seu lugar ao lado do Kaká, dos amigos, da família, no trabalho,... sem fazer idéia da dimensão e do significado real disso.
Isso é transformar-se. E transformar é saber usar a vida para conhecer a natureza humana em suas virtudes e fraquezas. Nesse contexto não existe a perfeição. Aliás, foi essa a temática da novela do seu início ao fim, fechando um ciclo incomparável na teledramaturgia brasileira. Na história não havia vilões ou mocinhos, o herói e o seu antagonista, mas pessoas com suas dificuldades e idiossincrasias.

O texto refinado, bem cuidado e o ritmo de seriado foram a marca de A Vida da Gente, ao contar uma história capaz de tocar o coração do público, sob a perspectiva de que todos têm uma história que poderia virar novela. Maria Rita que o diga!

Pais são estranhos aos seus filhos, filhos aos pais, cada qual no seu mundo sem dividir sua história, seu passado, suas angústias, sua experiência numa realidade cada vez mais individualista e imediatista; o diálogo interno ou o ato de falar consigo mesmo, muitas vezes acabam sendo canalizados para as redes sociais. Uma das principais causas da depressão, angústia e solidão é o alheamento de si e do outro. Daí outra constatação: você só encontra a si mesmo e ao outro quando dialoga e expõe aquilo que sente. Rir, chorar, errar, desculpar, perdoar tem muito mais impacto sobre nós mesmos do que calar, se ocultar ou ser alguém que não se é no twitter.

A delicadeza que permeou a relação das duas irmãs, o triângulo amoroso vivido entre Rodrigo, Ana e Manu, marcado pela paixão juvenil nunca concretizada da ex-tenista, se contrapondo ao companheirismo e relacionamento construído entre Manu e Rodrigo, foi conduzido com maestria e catalisado na emblemática Carta de Rodrigo a Ana:
“Dizem que o amor acaba, termina. Mas não é verdade. Nada acaba, tudo muda, transforma… Depois da nossa fuga de casa, vem o nosso medo, vem a nossa coragem, vem o salto sem rede… Vi você indo embora, sendo levada de diferentes formas, tantas e tantas vezes. E depois vi você voltando… O que tinha sido vivido, o que tinha ficado para trás, era parte de uma mesma história, de uma mesma vida, de um mesmo sentimento… o amor. E foi, então, que eu vi nós dois juntos rompendo fronteiras”.

Dona Iná (Nicete Bruno) com seus bailes em Gramado, trouxe o frescor da terceira idade ao lado de seu companheiro Laudelino (Stênio Garcia) e amigos. As alegrias de um relacionamento na maturidade foram reveladas a cada capítulo, mostrando que não há fronteiras para viver um grande amor. Amar é bom demais, e, para isso, não importa a idade.


Assim é a vida da gente....
"Quem teve o privilégio de viver muito sabe que o tempo é um mestre muito caprichoso. Às vezes as suas lições são tão repentinas que quase nos afogam. Outras vezes elas se depositam devagar, como a conta gotas, diante da avidez de nossas perguntas. E por isso, quem teve o privilégio de viver muito tempo, aprende a olhar com serenidade o turbilhão da vida. Amores ardentes se extinguem, urgências se acalmam, passos ágeis alentam. Enfim, tudo muda. Muda o amor, mudam as pessoas, muda a família, só o tempo permanece do mesmo modo, sempre passando... E é por isso que eu queria esta noite, erguer um brinde a ele, que esculpiu no meu rosto e na minha alma a sua marca, da qual eu tanto me orgulho. Então, ao tempo...'' (Da. Iná, personagem de Nicete Bruno)
Shadow/Mariasun Montañes
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