
O CHARME DE CHEIAS DE CHARME
Houve um tempo em que os folhetins exerciam um grande fascínio sobre Leninha. De forma inexplicável, sentia-se sugada pra dentro da tela, pronta para se deixar possuir pelo personagem da mocinha. Como sofria com o sofrimento dela!!!
Tamanha era a proximidade que acabava até pegando
alguns trejeitos e jargões. Achava que os capítulos eram curtos demais; se
sobrava um gancho ou suspense pro dia seguinte, não via a hora do tempo passar pra sentar no
sofá e ver o seu desfecho. Perder um capítulo então era a morte, ligava pras
primas, procurava nos jornais e revistas para saber o que havia rolado. Mais de
uma vez adiou ou desmarcou compromissos com o namorado, pra não perder o
suspense ou a grande revelação da trama; chamá-lo para ver o capítulo junto, era
inviável, pois ele só queria ficar de chamego ao seu lado, o que lhe tirava a
concentração. No último capítulo, então, sobravam lágrimas e um imenso vazio; assistir
a reprise no dia seguinte e emocionar-se novamente era obrigação. Até que, uma
próxima heroína passasse a ocupar suas noites.

As novelas, por sua vez, ficaram viciadas na mesma
receita: mocinhos x vilões; peruas histéricas, maridos infiéis, piriguetes, gays afetados, traições,
crimes, violência. De dura já basta a realidade, afirmava até pouco
tempo atrás, quando lhe perguntavam se estava acompanhando determinada novela.
Logo percebeu que havia um formato diferente ali: ousadia,
diversão e um enredo moderno; surgia uma nova linguagem de se fazer novela,
fazendo uso até da internet, sem, no entanto, perder o encanto dos contos de
fadas. Algo que valia a pena conferir.
A verdade é que, a estreante dupla de autores, Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, ao fugirem das comédias pastelão e non sense do
horário ou dos melodramas de sempre, criaram um folhetim único e original
construído sobre dois pilares muito atraentes: a vida no subúrbio e da música.
A novela contando a história de pessoas comuns em
busca de seus sonhos, de uma vida melhor, foi uma boa aposta. Nem vilões, nem
mocinhos, apenas pessoas com vontade de progredir na vida, muito bem representadas
pelas Empreguetes, daí a grande aceitação do público de todas as faixas
etárias.
Elas, três mulheres simples, três Marias: Maria da
Penha (THAÍS ARAÚJO) Maria do Rosário (LEANDRA LEAL) Maria Aparecida (ISABELLE DRUMMOND), três empregadas domésticas, batalhando para melhorar de vida, criar
o filho, carregando a casa nas costas, sustentando o marido desempregado, assim como tantas outras Marias por aí afora, foram
as heroínas e o fio condutor da história, cantando de forma bem-humorada todos os
problemas e dificuldades da “VIDA DE EMPREGUETE”. Pronto. Aí estava a receita
do sucesso.
Isso ia de encontro também aos anseios e ao atual momento de
outra Maria, Maria Helena, a Leninha. Não, ela nunca pensou em ser cantora,
subir num palco ou fazer sucesso. Mas, assim como as Empreguetes, tem metas e
sonhos, busca a realização e reconhecimento naquilo que faz, enfrenta sozinha
os desafios e, por vezes, a falta de reconhecimento na sua profissão. Foi o que
bastou para ela sintonizar na mesma freqüência.
- Bom dia dna. Maria! Bom dia Brasil. Está no ar o
programa do Gentil!
Quem é que de manhã já não foi acordado por uma voz como a do Gentil? Há anos que a Jovem Pan AM senta à mesa da Leninha, contando-lhe as principais notícias do dia enquanto ela saboreia o café com torradas. Quantas vezes, sozinha em casa, o rádio não lhe fez companhia!
O rádio e a web caminharam juntas na novela. O clipe “VIDA DE EMPREGUETE”, cena que criou grande suspense na trama, foi colocada na internet
no sábado, para só ser exibida no capítulo da segunda-feira seguinte. O vídeo
virou um viral no youtube com mais de 12 milhões de acesso. Criado estava o
folhetim transmídia.

“VIDA DE EMPREGUETE” chegou a estar em 35° lugar entre as 100 músicas
mais tocadas nas rádios do Brasil, segundo o portal Hot100Brasil. No período de
uma semana, o site de CHEIAS DE CHARME recebeu 900 mil visitas diárias.


A participação dos personagens em programas como Mais
Você, Domingão do Faustão, Caldeirão do Huck, Encontro com Fátima, Esquenta,
projetaram o telespectador da ficção para a realidade numa deliciosa
brincadeira de faz de conta. O Fantástico, por sua vez, aproveitou o sucesso para promover a campanha
“A empregada mais cheia de charme do Brasil”, em que domésticas enviaram vídeos seus e ainda tiveram a oportunidade de aparecer na novela. O concurso foi o
segundo com mais inscrições este ano. Algo inédito para uma telenovela.
Aliás, o tempo todo a novela dialogou com a realidade:
da questão social ao linguajar das ruas.


Não fosse a barriga que toda novela de sucesso acaba
tendo, como o repentino amor filial de Maria Aparecida por Ernani Sarmento
(TATO GABUS), de quem nunca foi filha; o príncipe Elano (HUMBERTO CARRÃO) sendo trocado por Conrado (JONATAS FARO),
ficando a ver navios até os últimos capítulos; o desfecho de Maria da Penha com um amor de R$1,99, Sandro
(MARCOS PALMEIRA), o clone do Seu Boneco (convenhamos que a viajada empreguete merecia coisa melhor), a novela teria sido uma obra-prima.
Mas isso não lhe tira o mérito da fábula das três
Marias, que explodiram com a sua música, ter sido inovadora e pioneira e, em especial, quanto à nova linguagem e interação com outras mídias.
O elenco merece destaque também, pois os atores deram
um show de talento e interpretação, inclusive a nível musical, o que fez com
que o texto fluísse e envolvesse o telespectador, divertindo e fazendo rir,
inclusive nas tramas secundárias. A quarta Maria, a Maria do Socorro (TITINA MEDEIROS), foi a grande e grata revelação.
A direção foi outro destaque. De nada adianta uma boa novela
e elenco maravilhoso se a direção não está afinada. O núcleo da Denise Saraceni
e direção geral de Carlos Araújo, deram agilidade à trama, assumindo o estilo
kitsch e divertido das Empreguetes.
Em suma. Foi uma novela solar, colorida, pra cima, tudo o que a gente quer ver ao final do dia.
Shadow/Mariasun