O PAÍS DO
CARNAVAL É HOJE O PAÍS DA CANA
O Carnaval é
considerado por muitos o ópio do povo brasileiro. Quatro dias de folia feitos a
medida para as pessoas esquecerem das dores, das mazelas da política e da sua nada
mole vida. O entorpecimento tão desejado pelos políticos, avaliam sociólogos,
antropólogos e estudiosos.
Ok. Mas qual
é o problema das pessoas se desprenderem da dura e áspera realidade por alguns
dias para fazer o que bem entenderem? Caírem na folia, descansarem ou
meditarem?
Sim, o
Brasil é resultado do obscurantismo. Isso a gente já sabe. Mas também é certo
que o Carnaval, o BBB ou o futebol, não têm a menor culpa. A escuridão ou a luz
dependem da consciência e do coração de cada um, entorpecido ou não pelo lume das
falsas promessas e fantasias de uma sociedade “ideal”, condenada à miséria e à
ignorância.
A história não
é estanque, e nós também não somos graças a Deus! Ela anda e se modifica, e faz
as pessoas andarem e se modificarem com ela.
A pirotecnia
das escolas de samba do Rio, custeadas pelo crime organizado e a contravenção, por
muito tempo foram o símbolo do nosso Carnaval. Varava-se a noite até o amanhecer
para ver a última escola desfilar na avenida, anotando e avaliando num
pedacinho de papel: harmonia, evolução, bateria, alegorias... até o dia da apuração chegar, com a torcida sempre fiel para a escola do
coração ser a campeã.
Porém, o que
deveria ser do povo e para o povo, foi perdendo a sua raiz. É difícil analisar
um processo de transformação tão rápido quanto o que transformou um espetáculo
popular tão grandioso em um espetáculo midiático produzido para encantar o
mundo e os estrangeiros. O charme de escolas tradicionais como a Mangueira e a
Portela (ah... minha Portela, quando vi
você passar...) foi perdendo o brilho, a espontaneidade, sua tradição e até as suas cores.
Aliás, depois
que em 2015, quando o enredo da Beija Flor sobre a Guiné Equatorial, ditadura
sanguinária apoiada pelo PT, sagrou-se campeã, ficou muito claro que os
desfiles das escolas não representam mais o Carnaval brasileiro. Foi um
espetáculo vergonhoso perante o mundo!!! O Carnaval da corrupção e da degradação
do samba, uma mancha na história dos carnavais cariocas.
Hoje, os
blocos carnavalescos de rua reinam soberanos, multiplicando-se pelas principais
capitais e cidades do interior, resgatando a alegria e a folia popular.
A Lava Jato
e as redes sociais estão aí, expondo feridas, mentiras, escândalos, corrupção, inconformismo,
impunidade num batucar diário sem fim. É quando a realidade desafina e revela toda a sua crueza, mais para a dramaticidade de um tango de Gardel do que
para a malevolência de um samba de Noel.
Há muito
tempo não se via as pessoas tão desanimadas e descrentes neste país, destilando
ódio pelas ventas e uma insatisfação incontida na net, sendo que a brasilidade
do brasileiro sempre foi o riso aberto e a irreverência.
E aqui não
me refiro a um riso que cega ou a uma irreverência que aliena. Não.
De um jeito
sofisticado e perspicaz, o brasileiro consegue tirar sarro, rir de si mesmo,
fazer piada e encontrar inspiração na dura realidade e nos sonhos roubados.
Carnaval hoje rima com impeachment, bandido, desonestidade, impunidade, Luladrão que já é uma rima de corrupção, tudo ali, nas esquinas e em qualquer lugar. O sofrimento nacional marca cada estrofe das marchinhas.
Carnaval hoje rima com impeachment, bandido, desonestidade, impunidade, Luladrão que já é uma rima de corrupção, tudo ali, nas esquinas e em qualquer lugar. O sofrimento nacional marca cada estrofe das marchinhas.
“Tanto riso ó
quanta alegria, mais de mil palhaços no salão”...
O Carnaval mudou. Os palhaços continuam no salão, mas
a alegria, ah... essa foi se transformando em ironia cáustica.
No ano passado, nada de arlequins ou colombinas, mas,
o japonês da Federal com direito até a um hit que
tomou as ruas do país:
“Ih, me dei mal, bateu à minha porta o japonês da
Federal”!...
A folia de Momo
hoje abre alas para os blocos de rua, com seu componente crítico. A
diversão deixou de ser banal para ser catarse. O espírito verde-amarelo se
apresenta salpicado de confete e serpentina. Algo que só o brasileiro sabe
fazer com deboche e bom humor.
Os pensadores e intelectuais
da objetividade, esses ainda acreditam que o Carnaval das lágrimas dos pierrôs,
é o ópio do povo. Fazer o quê? Para entender o reinado de Momo é preciso acompanhar
a história.
Não tem
jeito. O brasileiro tem alma de folião. Por mais que batam à sua porta para
lembrá-lo da Quarta-feira de Cinzas e do futuro incerto, ele até poderá, com um
ar blasé, fingir que concorda, mas depois irá cair na folia.
Portanto, é chegada a hora de vestir o short e a camiseta, desligar o computador e colocar o pé na rua ao som das marchinhas. E que marchinhas!!!
Portanto, é chegada a hora de vestir o short e a camiseta, desligar o computador e colocar o pé na rua ao som das marchinhas. E que marchinhas!!!
Este ano a marchinha que começa a emplacar é a da
“CANA”. Não, não aquela cana que é usada para fazer açúcar, mas aquela que representa o lugar onde alguns já estão e outros em breve estarão (se a deusa da Justiça assim o permitir) com uniforme listrado, vendo o sol nascer quadrado:
“É cana pra cá é cana pra lá,
a cana tá moda, mas é bom não enganar;
tem gente poderosa, com fama de bacana,
que vai perder a pose quando entrar em cana...”
Um ótimo CARNAVAL a todos, juízo e.... para quem gosta: boa folia; para quem não gosta: bom descanso!!!
Shadow/Mariasun Montañés