DIA DA TERRA
O mundo começou sem o homem e terminará sem ele.
(Claude Lévi-Strauss)
Ao abrir a página na internet me deparei com um vídeo comemorativo ao Dia da Terra, festejado neste mês, no dia 22. Uma data que é um alerta à necessidade de se proteger o meio ambiente e preservar a biodiversidade.
Instintivamente olhei para o céu azul de outono, senti a brisa que costuma soprar suave nesta época do ano e me deixei invadir pelo canto dos pássaros, que em meio às árvores e jardins ecoa entre os edifícios e o concreto...
Como é bela a natureza que nos cerca!!!
Todos os dias, pequeninos pássaros fazem estripulias na minha janela, diante de pequenos recipientes que deixo com água pra eles. Ali eles mergulham e se divertem numa dança vibrante, cadenciada e sincronizada. Entram e saem agitando as asinhas, respingando gotas de água nos vidros e soltando trinados como em agradecimento. Espécie de ritual festivo e mágico.
No início era um apenas. Com o tempo... esse um foi trazendo outros... hoje, são uma família.
É bonito de se ver. No entanto, impossível deixar de pensar que eles ali estão, na minha janela, pela falta de água ao redor para se refrescarem. As construções em argamassa ocuparam o espaço que antes era deles.
Água... a fonte vital para seres tão pequeninos... e também para nós. Sem ela não haveria vida no planeta.
Apesar disso e do avançado conhecimento que possuímos, continuamos a poluir o ar, rios e mares; a destruir nascentes de águas claras e cristalinas; não nos preocupamos com o aquecimento global ou a queima de combustíveis fósseis; sequer nos damos conta da gravidade de espécies estarem ameaçadas de extinção. Não mais as veremos, nem tampouco as futuras gerações.
Voltamos os olhos para o espaço em busca de vida em outros planetas, mas não conseguimos proteger a vida e controlar a deterioração do planeta em que vivemos. A nossa casa. Paradoxo do nosso tempo!!!
A continuar assim... daqui a alguns anos poderemos ser nós, ao invés dos pequenos pássaros, a estar em busca de água. É preciso que nos conscientizemos ou, então, pereceremos....
Cuidar do planeta é usá-lo de forma sustentável.
É cobrar dos governantes ações públicas no controle da poluição do ar nos grandes centros urbanos, com a imposição de multas pesadas a empresas poluidoras que descumprem a legislação ambiental.
Não dá pra aceitar esgoto sendo despejado no leito dos rios ou o desmatamento descontrolado de reservas naturais.
É preciso que aqueles que frequentam nossas belas praias, entendam que lixo plástico deixado na areia, vai para o mar. E uma vez no mar, tartarugas, golfinhos e peixes irão se alimentar deles, porque pra eles tudo o que flutua e está na água é alimento.
O Brasil é um país privilegiado e de fato abençoado por Deus, por seus rios caudalosos, florestas e reservas naturais.
A Amazônia é a maior bacia fluvial e a maior floresta tropical do mundo. Sendo, inclusive, responsável pelo incrível fenômeno dos rios voadores, uma espécie de cursos d´água invisíveis, que se dispersam pelo continente Sul-Americano, levando umidade, chuvas, evitando que o centro-oeste, sudeste e sul do país se transformem em deserto.
No entanto, o desmatamento é uma realidade e um dos maiores problemas ambientais da região.
A atividade (des)humana na derrubada de árvores para o uso da rica e cobiçada madeira pela indústria e da atividade agropecuária que invade cada vez mais a área de floresta, coloca em risco o equilíbrio do ecossistema e a biodiversidade da flora e fauna nativas, com o consequente aterramento dos rios devido à erosão, diminuição das chuvas, desertificação do solo e... desaparecimento dos rios voadores.
A floresta não fala. Ela reage à ação do homem.
A Amazônia é vasta. Compreende seis Estados: Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Pará, porém, seus efeitos se estendem regulando o clima nos demais Estados e no Continente.
Ela, a Amazônia, tem uma importância vital para o planeta Terra. É imensurável a sua contribuição para a estabilidade climática e ambiental do mundo em que vivemos.
O Pará é o segundo maior Estado da bacia Amazônica e do país. Sua vegetação e belezas naturais são inigualáveis. Possui grande abundância de água e, em razão disso, um imenso potencial energético. A Usina de Belo Monte construída na bacia do Xingu é a prova disso. Por ser também um Estado riquíssimo em minérios, como bauxita, manganês, caulinita e cobre, e por ter grandes reservas de ferro e níquel, a atividade mineradora se expandiu.
Mas, essa expansão trouxe sérias consequências ao meio ambiente.
Da mesma forma que a prática intensa e continuada do desmatamento da floresta Amazônica está ligada à omissão e falta de fiscalização do Governo quanto ao cumprimento das leis, a atividade mineradora também padece desse descaso.
Vimos esse abandono recentemente em imagens: um rio de lama matizado com a cor vermelha se espalhou por Barcarena, no Pará, em razão do vazamento de rejeitos de bauxita da mineradora norueguesa Hydro Alunorte.
Já vimos isso acontecer a dois anos em Mariana, Minas Gerais, quando duas barragens da mineradora Samarco (controlada pela Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Biliton) se romperam.
Esse foi o maior desastre ambiental do país e da história contemporânea do mundo.
Feito um dilúvio de lama, rejeitos de minério pesado arrasaram uma cidade inteira. Aniquilaram a atividade dos ribeirinhos que viviam da pesca. Contaminaram 39 cidades, atingindo três Estados ao todo: Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Mataram 19 pessoas e sepultaram o rio mais belo e doce da região, com toda a sua diversidade de peixes: o Rio Doce, cujo epitáfio se encontra na beira do mar.
Aprendemos alguma coisa com isso?!? O recente desastre havido no Pará prova que não.
Estranho que no Dia da Terra ninguém tenha se lembrado de Mariana e Barcarena.
Por ocasião do desastre em Mariana. Desastre, não!!! Porque não se tratou de um rompimento acidental e imprevisível, mas de uma tragédia anunciada. Havia pareceres alertando que a barragem apresentava fadiga, por estar operando em sua capacidade máxima. Portanto, foi um ato criminoso.
E por que nada se fez para evitar???
Porque isso implicaria em investimentos e redução de lucros. Os interesses econômicos foram colocados acima da vida humana e do meio ambiente daquela região.
Dois anos se passaram. Ninguém está preso. Ninguém foi condenado. As famílias desalojadas ainda aguardam pelas casas, que lhes foram prometidas pela mineradora. O mesmo se diga das indenizações àqueles que dependiam do rio para sobreviver.
E o pior é que na época se constatou que a Samarco não era a única a estar operando no limite. Havia outras.
Portanto, o rompimento da barragem de Barcarena no Pará foi uma tragédia prevista dois anos atrás.
Por que essas mineradoras estrangeiras, exploradoras do nosso minério, não estão sujeitas à fiscalização???
Por que os seus diretores não são responsabilizados e presos como o seriam em qualquer país???
Neste Dia da Terra fica mais uma vez o alerta. Mineradoras estão operando no Brasil além da margem de segurança. Rejeitos de minérios pesados despejados nos rios causam danos irreparáveis para a biodiversidade da região e para a vida humana. A ingestão de metais pesados por meio de peixes ou água contaminados pode causar aos moradores das áreas afetadas, ao longo do tempo, sérios problemas de saúde, como alterações do sistema nervoso e até mesmo incidência de câncer.
O mundo começou sem o homem e terminará sem ele... Uma frase para refletir...
A natureza e a Terra não são fonte inesgotável de recursos naturais. Se não cuidarmos, desaparecerão e, diante da escassez, a vida humana também desaparecerá. A nossa sobrevivência, depende desses recursos.
É preciso agir e cobrar ações governamentais agora, para minimizar os impactos do descaso com as questões ambientais sobre as gerações futuras.
Tragédias e tempos de crise nos impõem mudanças. Quando São Paulo enfrentou a crise hídrica, as pessoas passaram a se adequar e a economizar água. As mudanças fazem parte da tomada de consciência, do entendimento de que nossas condutas são determinantes e fazem a diferença.
A natureza está disponível para todos, sem distinção. Ela pode até chegar batendo as asas na nossa janela, tornando o nosso dia mais suave e ameno. Basta apenas que - todos - sejamos responsáveis pela sua preservação.
Não herdamos a Terra de nossos pais; a pegamos de empréstimo de nossos filhos e netos...
Shadow/Mariasun Montañés
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