sexta-feira, 20 de novembro de 2020



 
DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Não deixa de ser estranho que em pleno século XXI, num mundo globalizado, sem fronteiras, tenha que haver uma data para nos lembrar, que independentemente da cor e raça, somos todos irmãos, com direitos iguais. O homem chegou à Lua, a tecnologia avançou ao ponto de criar realidades virtuais fantásticas e, no entanto, para algumas pessoas o mundo ainda é dividido em preto e branco.
É triste reconhecer que o preconceito racial esteja presente no Brasil e no mundo e que nem todos os homens tenham as mesmas oportunidades. É triste saber que, nos dias de hoje, ainda haja uma seletividade e determinismo para o sucesso e o fracasso, em razão da cor da pele ou das diferenças.
Até mesmo, neste momento de pandemia, o vírus que atravessou fronteiras e nos igualou na doença, por não ver RG, raça, cor, religião, ideologia, nacionalidade, acabou expondo e escancarando as nossas desigualdades.
Dentre os mais de um milhão de mortos no planeta e, quase 170 mil só no Brasil, as pessoas mais afetadas foram as negras e pobres, aquelas com piores condições de vida e de escolaridade, que vivem na periferia dos grandes centros e com menos acesso aos serviços públicos de saúde.
É chegado o momento de repensarmos, a sociedade que queremos deixar para as próximas gerações...
Hoje, as pessoas negras e pobres, no geral, estão inseridas no mercado informal. Fazem parte daquela expressiva parcela que, apesar do confinamento, continuou trabalhando na área de serviços gerais, enfermagem, varrição de rua, trabalhos domésticos, entrega de fast food e de mercadorias. Muitas delas invisíveis aos olhos, mas que têm e tiveram relevante papel neste período de isolamento e distanciamento social, abastecendo supermercados, higienizando as ruas, limpando as casas, cuidando dos demais.
São merecedoras de reconhecimento e respeito.
Aliás, foi pensando nesse reconhecimento que, em 1988, criou-se a Fundação Palmares, em cujo site oficial foi incluída uma lista de personalidades negras, que marcaram a História do Brasil e do mundo.
Hoje o atual presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, negro, desde que assumiu e para perplexidade de muitos, tem removido diversos nomes dessa lista, desde artistas como Elza Soares e Gilberto Gil a Marina Silva, alegando que esta se "autodeclara negra por conveniência política", olvidando a trajetória e a liderança que ela teve no Acre, ao lado de Chico Mendes, em defesa dos seringueiros e combate ao desmatamento. Isso desafia qualquer entendimento!
Eis que, a Fundação criada para valorizar a cultura negra, hoje está sob o comando de um negro, que tem uma visão negacionista do racismo e da instituição que representa. Ele já disse que "a escravidão foi benéfica para os descendentes de escravos", que o "racismo no Brasil é nutella", que "o movimento negro é uma escória maldita", que "Zumbi dos Palmares (que dá nome à Fundação) foi um capitão do mato", que o "Feriado da Consciência Negra deveria acabar". Em outras palavras, tendo a possibilidade de promover e valorizar as raízes, as tradições e as manifestações culturais da comunidade negra, Sérgio Camargo fomenta mais preconceito e discriminação, enquanto busca distanciar-se da história de seus ancestrais.
É o caso de nos perguntarmos, o que ele está fazendo lá?!?
Por outro lado, quando uma pessoa negra, por mérito próprio, vence todas as barreiras e obstáculos e chega a uma posição de destaque, ainda há quem duvide de sua capacidade para ocupar aquele cargo de gerência, de médico, de gestor, de advogado...
Isso pode ser ilustrado pelo que ocorreu há uns dias no Shopping Governador Valadares, em Minas Gerais. Um casal entrou numa loja de eletrodomésticos e perguntou pelo gerente. O gerente que estava próximo apresentou-se e, solícito, colocou-se à disposição dos clientes. Ele é negro! Surpresa, a mulher disse: “- É inadmissível que um negro gerencie uma loja tão grande como esta!”, e saíram da loja. Contam os relatos que após o constrangimento, o gerente se recolheu em uma sala para chorar.
Sim, esse episódio aconteceu. Sim, isso ainda existe na nossa sociedade, diga-se, uma sociedade multicultural, formada por várias etnias.
É preciso ter mais empatia com o próximo. Não sabemos por quais dificuldades determinada pessoa passou, qual a sua história de vida, as marcas que carrega, os medos que precisou superar, as barreiras que venceu, o que sente, como se sente... É preciso ser mais humano.
Ah... não pensem que o episódio do gerente negro, terminou aí...
Sensibilizados com o ocorrido, no dia seguinte, os funcionários da loja o recepcionaram com uma calorosa e emotiva homenagem. As imagens estão no vídeo que segue abaixo. Elas falam por si.
Sim, a humanidade que acolhe, que aproxima, que solidariza, que ampara, que aquece... também está entre nós. Aliás, é o que temos de melhor! É preciso vivê-la todos os dias... e, não apenas vivê-la, mas passá-la adiante, pois isso também tem o caráter de educar e de produzir um efeito profilático e multiplicador extraordinário.

(Mariasun Montañés)



Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar. (Nelson Mandela)



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