DIA DE FINADOS
Este Dia de Finados ganha um novo significado em tempos de pandemia mundial. Não apenas parentes e amigos serão lembrados em nossas orações, mas - também - os mais de um milhão de mortos em todo o planeta.
Quando alguém se vai, perdemos uma parte de nós. No plano espiritual somos unidades que se somam, interligadas entre si e à vida no planeta; o que acontece no outro lado do mundo, também nos afeta e repercute em nós. Quando muitos se vão ao mesmo tempo, um ciclo da humanidade se fecha, para que aqueles que ficam iniciem um novo ciclo, porque a vida é renovação e eternidade.
Períodos de desolação, guerras, extermínio, destruição das florestas e da vida animal, mortes, queimadas, peste, pandemia, rompem abruptamente a harmonia e os elos da grande teia que nos mantêm unidos e em equilíbrio.
Diante disso, buscar novas formas de adaptação, consciência e conhecimento, é inevitável.
É como se de tempos em tempos a humanidade tivesse que passar por períodos de depuração, para repensar o legado que está deixando para as gerações futuras.
Neste momento, de tantas incertezas, perdas e dor, “nada voltará a ser como antes”, é um mantra que ecoa em todos os cantos. E é verdade. Não seremos mais os mesmos.
Quando o período de pós-pandemia chegar, seremos diferentes daqueles que, no início de 2020, se vestiram de branco e pularam as sete ondinhas, fazendo planos e promessas para o novo ano, que feito espuma se transformaram em isolamento e introspecção.
Qual será o rescaldo? Teremos evoluído para o nosso aprimoramento ou involuído como pessoas no decorrer destes meses? O que ficará diante da perda de tantas vidas? A indiferença, o individualismo e o egoísmo? Uma maior humanização e consciência social? Teremos aprendido a valorizar, por trás das janelas, a exuberância do céu azul e do pôr do sol nas grandes cidades sem a poluição dos carros, da natureza que ressurgiu sem a ação destrutiva do homem? O tempo dirá...
O fato é que tudo o que temos e necessitamos é uns aos outros.
É por isso que, diante das tragédias, calamidades e catástrofes, oferecemos o que temos de melhor: a nossa solidariedade e doação; talvez numa busca inconsciente de amenizar não apenas a dor do outro, mas uma dor que também é nossa.
Essa é a razão de no dia de hoje estarmos unidos em oração, para lembrar não apenas daqueles que amamos e se foram, mas dos milhares e milhares que partiram em todo o mundo, deixando - aos nossos cuidados - a centelha da vida, para que ela permaneça acessa... e, acima de tudo, para que possamos valorizar e agradecer por termos uns aos outros, pois isso é o melhor que temos na vida e... a nossa cura.
(Mariasun Montañés)
Em homenagem aos que se foram, deixo aqui a última música que Pau Dónes compôs. Ela é um agradecimento do cantor e compositor catalão às inúmeras mensagens de carinho que recebeu de fãs e pessoas anônimas, quando adoeceu de câncer. Ele nos deixou em junho deste ano, aos 53 anos, alguns dias após haver feito a canção. A letra da música é uma inspiração, é tudo aquilo que gostaríamos de dizer àqueles que estão ao nosso lado e que gostaríamos de haver dito aos que já partiram.
"Eso que tú me das, es mucho más ..."
