sábado, 16 de janeiro de 2021

 



O PULMÃO DO MUNDO FICOU SEM OXIGÊNIO


O ano de 2021 começou. E, nas suas duas primeiras semanas, já deu vários spoilers de como serão os 350 dias que os brasileiros terão pela frente. Mortos e mais mortos pela Covid-19, falta de vacinas, falta de seringas e agulhas, falta de um plano nacional de imunização e de combate à pandemia; empresas fechando as portas e se estabelecendo nos países vizinhos, desemprego aumentando, economia despencando, credibilidade do país no exterior no chão... Manaus sem oxigênio... panelaços... Tudo convergindo para um governo omisso, incompetente, irresponsável e genocida.

O Brasil está acéfalo, sem comando.

Nesse vácuo, neste final de semana, o Brasil ultrapassará os 210 mil mortos pela Covid-19. Ressalte-se: trata-se de subnotificações. Estima-se que os dados reais de óbitos pela pandemia totalizem 50% mais. O Brasil hoje responde por 10% de mortes no mundo.

Vidas que se foram antes do tempo, histórias interrompidas de forma abrupta, sonhos abortados, famílias enlutadas... “E daí? Todo mundo morre um dia!”, esse é o grau de empatia de Jair Bolsonaro diante dos brasileiros mortos. O capitão da necropolítica, diante do qual o país sucumbe.

O que se viu em Manaus nos últimos dias, é o retrato do descaso e da barbárie. Na região Amazônica, conhecida como o pulmão do mundo, pessoas sufocaram, seus corpos se contorceram por falta de ar, morreram de forma impiedosa; enquanto, parentes e médicos em desespero, numa corrida contra o tempo, tentavam conseguir cilindros de oxigênio para manter seus familiares e pacientes respirando.

Sim, Jair Bolsonaro é o agente do caos, responsável por essas mortes e todo esse sofrimento. Claro que isso não exclui a culpa concorrente do governo estadual e municipal por essa tragédia dantesca, causada pela omissão e negacionismo daqueles que tem o dever institucional e funcional de cuidar e preservar a saúde da população, o que não fizeram. Afinal, não é preciso ser um gênio da matemática para saber que em havendo um aumento de internações nas UTIs, o consumo de oxigênio será maior, sendo necessário aumentar o seu estoque. Por quê as autoridades não agiram antes que o sistema de saúde entrasse em colapso e dezenas de pessoas morressem asfixiadas? E não venham a usar a nova cepa do coronavírus como justificativa para a desídia. O que houve foi indiferença. Desleixo. Negligência. 

Quando uma autoridade, diante das cenas horripilantes que se viram em Manaus, diz: "não vou fazer mais nada", como declarou Jair Bolsonaro; quando uma autoridade, ao invés de fornecer o oxigênio que os hospitais necessitam, pressiona os profissionais da saúde a ministrarem medicamentos comprovadamente ineficazes e prejudiciais à saúde, dando a falsa impressão à população de que ao consumi-los as pessoas estarão protegidas contra a doença, como fez o Ministro da Saúde a mando do Presidente; quando uma autoridade, por ambições políticas,  boicota deliberadamente as medidas sanitárias adotadas por prefeitos e governadores, mantendo-se na contramão de tudo o que está sendo feito nos demais países, apenas para confrontá-los e destruí-los politicamente como adversários; quando uma autoridade, exonera dois Ministros da Saúde, médicos, porque não são negacionistas e coloca uma nulidade no lugar; quando uma autoridade, criminosamente permite que testes de PCR percam a validade num galpão em Guarulhos, testes que são capazes de identificar os assintomáticos, o que possibilita ações para isolar a transmissão do vírus; quando uma autoridade, promove de forma inconsequente aglomerações sem o distanciamento necessário e o uso da máscara, difunde desinformação e fake news e cruza os braços, enquanto as pessoas agonizam aos milhares; quando uma autoridade faz um Decreto para zerar a alíquota de importação de armas, e – em época de pandemia – aumenta a alíquota para a importação de oxigênio, isso mesmo, aumenta a alíquota que incide sobre cilindros de oxigênio!; quando uma autoridade viola o pacto constitucional de cooperação entre União, Estados e Municípios fazendo a política rasteira do "nós x eles", com vistas à sua reeleição e em detrimento da população... Essa autoridade comete crime de responsabilidade e é a responsável direta pelos 210 mil mortos e de todos os demais que vierem a se somar.

Não é apenas Manaus que está sem oxigênio. É o país! Não são apenas os manauaras que estão sufocando. Os brasileiros também estão!

O que se vive hoje no Brasil é a política da morte! Não há planejamento para o enfrentamento da grave crise sanitária e econômica. Não há competência nem organização nas esferas administrativas. Não há um cronograma de atuação. Não há um líder.

Jair Bolsonaro politizou o vírus. Optou por permanecer na condição de observador. Não para encontrar a melhor forma de lidar com a pandemia, mas para auferir lucro político, ficando à espreita de qualquer deslize para criticar, achincalhar e sabotar prefeitos e governadores, que trabalham e cientes do cargo que ocupam, tiveram que recorrer a medidas antipáticas, mas necessárias, como o isolamento social e restrições de funcionamento de alguns setores, para conter a propagação do vírus e reduzir o número de mortos em suas cidades e Estados.

Se o governo federal, desde o início da pandemia, tivesse criado um plano nacional de combate e controle ao vírus, unindo esforços com Estados e Municípios, a tragédia não teria se transformado num circo de horrores e menos vidas teriam sido perdidas. Porém, preferiu abraçar o vírus como cabo eleitoral. O resultado é a desolação que o país vive hoje.

Aliás, o Presidente falta com a verdade quando diz que o Supremo Tribunal Federal o impediu de atuar diante da pandemia, transferindo a responsabilidade para governadores e prefeitos. Mentira!

A Corte apenas declarou que Estados e Municípios também poderiam definir medidas sanitárias de combate ao vírus, até pela proximidade e rapidez na obtenção de dados sobre a evolução da doença e das condições da rede hospitalar e de leitos em seus distritos e região, além de, estarem autorizados a agir em caso de omissão do governo central. Não retirou a responsabilidade de ninguém, pelo contrário, estabeleceu a responsabilidade concorrente entre os entes federados.

E para agravar, o que já era trágico, agora, o governo solicitou a entrega imediata de todas as doses da vacina produzidas e estocadas pelo Instituto Butantan, deixando o Estado mais populoso da Federação sem vacinas.

Isso porque o Presidente politizou não apenas o vírus, mas também as vacinas, apesar de não ter um Plano de Imunização. Seu plano até aqui era a imunização de rebanho, aquela que resulta do contato das pessoas com o vírus. Morrendo, quem tenha de morrer nesse processo. Imagine-se a imunização de rebanho numa população de 212 milhões de habitantes, quantos teriam que se contaminar e  morrer para atingi-la! Não foi por outra razão que, no mês de agosto, quando a Pfizer ofereceu ao Brasil 70 milhões de doses, o governo esnobou e declinou da oferta.

Agora corre atrás do prejuízo, diante da pressão popular e da iminência de ver João Doria iniciar a imunização dos paulistas. Para isso, tirou do marasmo a diplomacia brasileira, no intuito de conseguir da Índia 2 milhões de doses da vacina da Astrazeneca. Movido não por uma preocupação efetiva com a segunda onda de contaminação e o aumento incontrolável do número de óbitos... Nãaaaaaooooo... mas, pelo temor de que o governador de São Paulo cumpra o que prometeu em novembro do ano passado e reiterou em várias ocasiões, dando início à vacinação no Estado no dia 25 de janeiro.

Daí a urgência de Jair Bolsonaro e de seu ajudante de ordens, Eduardo Pazuello. A preocupação não é com a saúde dos brasileiros, mas, em ser o primeiro a dar a largada da vacinação e posar para fotos, embora, por direito, essa honraria pertença a outro.

A tentativa atabalhoada para trazer as vacinas da Índia, resultou em mais uma patuscada desse governo.

Um avião da Azul foi fretado e adesivado para ir buscar as vacinas da Astrazeneca em Mumbai, com o anúncio festivo da notícia feito pelo general da ativa Eduardo Pazuello, que também acumula o cargo de Ministro da Saúde. Isso, apesar do governo indiano haver comunicado uma semana atrás, que não exportaria vacinas para outros países neste momento, por priorizar a vacinação em seu país.

Não se sabe qual foi a lambança desta vez, mas a missão foi abortada. O avião que se encontrava no Recife pronto para decolar, teve que retornar a Campinas. Pelo visto, faltou combinar o dia D e a hora H com o governo da Índia. Vexame!

Após o fracasso e sem vacinas para a foto, Jair Bolsonaro ordenou o confisco da Coronavac, os 6 milhões de doses da vacina do Instituto Butantan, a fim de usurpar o trabalho de quem de fato acreditou e investiu na imunização. O mesmo ocorreu em relação às seringas e agulhas, quando - de maneira sorrateira e pouco ortodoxa - o Ministério da Saúde tentou encampar os estoques e a produção desses insumos destinados aos Estados. Tentativa que se viu frustrada pelo Supremo Tribunal Federal.

O fato é que enquanto o Presidente se omitia, negava e conspirava contra as ações de combate ao vírus e de imunização, o governador de São Paulo se movimentava para conseguir a vacina. Goste-se ou não, se hoje há uma vacina sendo produzida no Brasil, é por mérito e competência de João Doria, que tendo uma visão clara do que se avizinhava, no mês de julho, iniciou as tratativas com a China para a transferência de tecnologia ao Instituto Butantan. Foram meses de trabalho e  negociação.

Portanto, não deixa de ser bizarro e oportunista que o governo federal esteja empenhado em esbulhar as vacinas do Butantan para dar início a uma campanha nacional de imunização, que ainda não tem prazo e nem critérios de distribuição definidos. 

Diga-se ainda, governo que até aqui demonizou e desprezou as vacinas, a Coronavac, em particular, disseminando mentiras e fake news sobre seus efeitos, colocando em dúvida a sua eficácia e desqualificando-a sob o rótulo de “vachina do Doria”, chegando ao requinte de comemorar nas redes sociais a morte de um voluntário e de, em outubro, haver desautorizado o Ministro da Saúde a efetuar a  compra de 46 milhões de doses da vacina chinesa. "Eu não vou colocar no meu braço isso aí", disse recentemente Jair Bolsonaro. Por trás dessa fala nada inocente, a má intenção de desencorajar as pessoas a se vacinarem. Hoje, encontrando-se nu, quando outros países já estão aplicando a segunda dose na população, recorre à "vachina do Doria" que tanto desdenhou, para posar de pai da imunização perante os brasileiros. 

O que está havendo no Amazonas e em São Paulo refletem bem a baixa estatura de quem comanda o país. Manaus sufoca sem oxigênio, diante do negacionismo que mata e da farsa da cloroquina que ilude os desafortunados. A depender do governo federal, São Paulo ficará sem vacinas e à mercê de um calendário sem data para iniciar a vacinação dos paulistas, tudo porque aquele que ocupa a Presidência quer ofuscar o trabalho de um adversário político, que se dedicou à vacina e a salvar vidas. Dane-se se pessoas morrerem nessa queda de braço. A vaidade acima de tudo e o poder acima de todos!

Cumpre destacar que dos 6 milhões de doses fabricados, apenas 1,5 milhões ficariam em São Paulo, cota calculada sobre o índice populacional do Estado. A ordem para que sejam entregues ao Ministério da Saúde para depois retornarem, além de ser irracional e dispendioso, irá atrasar a vacinação. Desnecessário é dizer, que um dia de atraso equivale a contabilizar mais mortos e mais pessoas infectadas, sendo que, nos últimos dias, a curva está ascendente para casos de Covid-19 em São Paulo. 

O quê falar?

Recorra ao Supremo Tribunal Federal, Sr. Governador! Imponha mais uma derrota acachapante a esse governo de incompetentes e genocidas.

Os brasileiros chegaram ao seu limite diante desse governo nefasto e fracassado. O panelaço colossal que se viu e ouviu na sexta-feira nas ruas e janelas, fez ecoar por todo o país o grito retumbante de dor, indignação e insatisfação com os rumos do país. Como disse William Bonner em editorial na última semana: "... nós estamos esgrimando com loucos, com irresponsáveis, com gente que é capaz de entrar no WhatsApp da vida e sair espalhando mentira a bel-prazer, mas as mentiras mais absurdas... as mais absurdas, crendices. Tem gente que faz isso investido de cargo público. Tem gente que faz isso sistematicamente..."

(Mariasun Montañés)



 





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