Aquarela Brasileira, de Silas de Oliveira, o samba-enredo da Império Serrano do carnaval de 1964, repaginado em 2004, é um dos mais belos sambas que já desfilaram na avenida.
Ele foi inspirado em Aquarela do Brasil de Ary Barroso e Bob Russell: “Brasil meu Brasil brasileiro/Mulato inzoneiro/Vou cantar-te nos meus versos...”.
A beleza do samba-enredo está em transformar em poesia as regiões do Brasil, sua diversidade, folclore, natureza e cultura. Um panorama do Brasil em forma de aquarela.
Em seus versos, o samba vai percorrendo pedaços de Brasis, destacando o que eles têm de mais marcante, rico e belo: os seringais do Amazonas; a Ilha de Marajó; a velha cabana do caboclo Timbó no Pará; os coqueirais do Maranhão; as terras de Irapuã, Iracema e Tupã no Ceará; a Bahia de Castro Alves, acarajé e noites do candomblé. Depois de atravessar as matas do Ipu, o frevo e o maracatu em Pernambuco. Brasília com sua arte, beleza e arquitetura moderna. A grandeza de São Paulo, a terra da garoa da serra. O belo matiz do leste e centro-oeste. Até chegar ao Rio de Janeiro do samba e das batucadas, dos malandros e mulatas.
Aquarela Brasileira chega a ser um hino, que levou pro asfalto a brasilidade, diversidade e riqueza de um país, até para que não nos esqueçamos dela, em especial, nos dias de hoje.
Essa bela e única aquarela, a olhos vistos, está desbotando e perdendo as suas cores, por conta de um governo, de um Presidente da República, de um tal bolsonarismo delinquente, que só conhece o cinza das queimadas e o negro da morte. Daí a importância de se relembrar, neste momento, o enredo da Império.
Ainda dá tempo para resgatar e restaurar o colorido dessa linda aquarela! Só depende de nós.
