
O RIO CHORA POR SEUS FILHOS
Quando ainda era um menino, Tio Zuzu viveu os efeitos da Segunda Guerra. Na sua mocidade foi influenciado pelas idéias de liberdade “On the Road” (livro de Jack Keurouac, 1957), movimento que se propagou nos anos 60, causando mudanças de comportamento como a contracultura e o pacifismo do final da década. Viu várias ditaduras irem caindo, inclusive a Militar, aqui no Brasil, da mesma forma que o fim da Guerra Fria e a queda do Muro de Berlim.

Enquanto essas mudanças aconteciam, a tecnologia avançava. Os computadores chegaram para substituir as máquinas de datilografar. Como bom jornalista, logo se adaptou ao novo modismo, sem esquecer, no entanto, da sua Olivetti. Quem entra pela primeira vez em seu escritório repleto de livros, equipado com o mais avançado material de informática, computadores com webcam, impressoras, não deixa de notar sobre uma mesinha envernizada, no canto da sala, o pequeno dinossauro, a tal da Olivetti, aparentemente deslocada naquele ambiente; como a ler pensamentos, Tio Zuzu simplesmente sorri, relembrando talvez velhos momentos: Ah, se a minha Olivetti falasse!

Quando foi apresentado à internet, então. Meu Deus, parecia uma criança com o primeiro brinquedo! E foi exatamente isso o que fez. Brincar! Ele mesmo dizia: Não tem mistério, pra conhecer é só navegar!

Tio Zuzu não teve filhos, mas ao olhar para os sobrinhos, sempre teve fé e esperança em dias melhores para aquelas crianças, vivendo num mundo livre, sem fronteiras, preconceitos ou guerras. Não conseguiu, agora a esperança se volta para os sobrinhos-neto.

Lá do alto, no seu refúgio verde de paz e contemplação, não ficou alheio aos dramas humanos, e logo foi percebendo que toda essa tecnologia, ao invés de aproximar as pessoas, afastou-as de si mesmas.

O homem do século XXI, o futuro sonhado nos anos 60 se desumaniza, ao invés de evoluir acaba involuindo para a barbarie. Está perdendo os valores, em especial, o respeito à vida. Os níveis de violência e intolerância nos grandes centros têm aumentado a cada dia: pessoas morrem por rivalidades esportivas, por terem religiões diferentes, por discussões banais no trânsito ou no barzinho, por assaltos onde o delinquente não satisfeito em roubar, mata friamente a vítima indefesa.
Com o coração apertado, Tio Zuzu vinha constatando isso, ao mesmo tempo que escrevia posts no seu blog, abordando a necessidade das pessoas redescobrirem os valores fundamentais para a vida em sociedade e o respeito à vida e ao próximo.
Foi com abissal perplexidade, que no último dia 7, ao abrir a homepage do computador, defrontou-se com o ataque desolador à Escola Municipal no Realengo.

Todos nós perdemos com essa fatalidade. Entre eles poderia estar o médico-pesquisador que iria encontrar a cura definitiva para o câncer ou a Aids, a professora que guiaria o futuro das crianças de 2030, a medalhista da Olimpíada de 2016, o futuro Presidente da República, a Elis Regina, Raquel de Queiroz ou Tarsila do Amaral da nova era.
Dez garotinhas e dois garotinhos, doze talentos interrompidos, doze famílias chorando a perda de seus filhos, irmão e netos, junto com toda uma Nação.
Em seu blog o desabafo:

A questão nem mesmo é o desarmamento, como especialistas ou metidos a experts querem nos fazer acreditar. É o tráfico de armas. Estima-se que no país haja 14 milhões de armas com civis, a maioria tendo entrado clandestinamente pela fronteira e aeroportos, hoje, verdadeiros corredores de tráfico de drogas e armas.


Isso tem que acabar. Enquanto ficamos no minuto de silêncio e pessoas achando que esse tipo de tragédia pode acontecer por ser imprevisível, o nosso país nunca mudará.
É bem simples: se esse rapaz mentalmente perturbado, não tivesse tido facilidade em adquirir DUAS ARMAS de poder letal e farta munição, a troco de alguns caraminguás, ESSA TRAGÉDIA NÃO TERIA ACONTECIDO.


Enfim, uma desgraça que não permite falar mais nada.
Hoje Tio Zuzu se sente mais velho e desolado.
HEAL THE WORLD - CURE O MUNDO
Certas músicas não precisam de tradução, basta ouví-las e deixar seus acordes penetrarem na alma para entendê-las. Assim é Heal The World.
Uma música que é quase uma prece, um alerta, um hino, uma utopia, um sonho ou um mix de tudo isso junto.
Shadow/Mariasun
Uma música que é quase uma prece, um alerta, um hino, uma utopia, um sonho ou um mix de tudo isso junto.
Shadow/Mariasun