A COPA DAS COPAS: PARA QUEM?
Sexta-feira
chuvosa em São Paulo. Pelo segundo dia consecutivo os metroviários estão em
greve, enquanto congestionamentos monstros se alastram pelas ruas da cidade;
pessoas atordoadas diante dos portões de acesso ao metrô fechados, não sabem se
voltam para casa e perdem mais um dia de trabalho ou o compromisso agendado, ou,
se se aventuram a esperar debaixo da chuva o próximo ônibus, porque o que
acabou de passar não deu para entrar, aliás, não deu sequer pra chegar perto da
porta.
Em meio a essas
imagens, choca o tom ufanista dos comentaristas da Rede Globo mostrando o treino da
seleção, tratando os jogadores que vivem nababescamente no exterior como heróis
nacionais, alheios aos verdadeiros heróis que debaixo de chuva tentam conseguir transporte que os leve ao trabalho; imagens de outras Copas são mostradas à exaustão, entrevistas
contando a vida dos jogadores da infância ao sucesso, tudo com um sorriso
empostado e em clima de festa.
Contraste
contundente de uma realidade bizarra.
- Pai o que é padrão
FIFA? Perguntou no outro dia o Dudu ao pai.
- É o contrário
de padrão Brasil, filho, respondeu laconicamente.
- O que é padrão Brasil, pai?
- É a
incapacidade do governo em priorizar o povo.
Nada mais
verdadeiro.
- Pai, é por
isso que as pessoas estão cantando nas ruas “da Copa eu abro mão, quero mais
dinheiro pra Saúde e Educação”?
- É Dudu.
- Mas o que é
que a Copa tem a ver com isso?
- Filho, ao contrário do que se pode imaginar, o sentimento geral às
vésperas da abertura da Copa não é de comemoração, mas de indignação. Desde o
ano passado, quando as ruas das principais cidades foram tomadas para
reivindicar a diminuição do preço da tarifa do ônibus, já era possível perceber
o descontentamento com a Copa. Hoje as pessoas querem saber: Copa para quem?
- Não Dudu,
seria pra gente se deixasse algum legado ou benefício pra todos, mas só vai
deixar uma grande dívida pra todo mundo pagar. Até agora pessoas foram
despejadas de suas casas por conta de obras próximas às Arenas; outras
tantas foram removidas de maneira forçada do centro das grandes
cidades, em nome da especulação imobiliária e da “imagem do Brasil” para “inglês
ver”; operários morreram na construção dos Estádios por não se respeitarem as normas de segurança no trabalho, a tal da economia burra em equipamentos de proteção; obras privadas foram construídas com dinheiro do
povo atendendo aos interesses das grandes empresas e construtoras. Filho, a
gente só sabe para quem não é essa Copa. Ela não é nem pra você, nem pra mim, nem
para o povo.
Concluiu indignado o Dr. Paulo, pai do Dudu.
A poucos dias da Copa, apesar do falso ufanismo da imprensa, a
população não se vestiu de verde e amarelo ou enfeitou as ruas com as
tradicionais bandeirinhas. Perdeu a alegria, está insatisfeita, em luto. Foi-se a época em que
dava mais importância ao futebol do que à política.
Faltando menos de uma semana para o início do Mundial, os
olhares se voltam para o Brasil, enquanto o país
assiste a sucessivas manifestações, com centenas e centenas de brasileiros protestando nas ruas contra o transporte público
deficiente, a corrupção no governo e os gastos desmesurados com o megaevento.
Muito embora a presidente Dilma tenha afirmado que a Copa seria financiada em
grande parte pela iniciativa privada, a população sabe que houve um corte de 44
milhões das áreas sociais e que a maior parte dos gastos com o Mundial, mais de
80%, está sendo custeada com o teu, o meu, o nosso dinheiro.
Enquanto a população sai de casa num dia de chuva e sequer tem transporte
público para ir ao trabalho, porque não há autoridade que se apiede e faça
cumprir a lei e a liminar da Justiça, que determina a circulação de 70% da
frota do metrô; enquanto a população disputa uma senha no ambulatório médico
para ser atendido dali a cinco seis horas, se houver médico, meses se se tratar
de agendamento de exames, uma eternidade se o caso for de internação, pois nos
últimos 10 anos o número de leitos em hospitais públicos caiu 15%; enquanto as
crianças estão sem aula ou com o programa atrasado porque os professores mal remunerados não conseguem dar
conta de salas superlotadas e da falta de material escolar ou, estão em greve (não é à
toa que no ranking da educação feito pela UNESCO o Brasil ocupa a 88ª. posição no
mundo)... Enquanto isso... os Estádios brasileiros são os mais caros do mundo,
porque aqui tudo se resolve na base da propina e da corrupção.
Cada Estádio teve o custo médio
de mais de meio bilhão de euros. Se tivessem
sido construídos exclusivamente para a Copa, somente o Estádio Mané Garrincha
ostentaria os jogos mais caros do Mundial: cada partida sairia por R$ 200
milhões. Enquanto o salário mínimo do trabalhador brasileiro é de R$ 724,00.
A justificativa de que os investimentos para a Copa deixarão legados de
infraestrutura em mobilidade urbana, transporte público, aeroportos e portos,
não passa de ouro de tolo ante o alto custo e superfaturamento das obras,
muitas delas, até o momento, inacabadas, e que serão esquecidas após o
megaevento. A menos de sete dias da Copa os aeroportos de nove das 12
cidades-sede, não estão prontos. Há tapumes,
poeira, operários e improvisações. O aeroporto de Brasília a dois dias atrás ficou debaixo d´água por conta da chuva. O mundo inteiro
sabe há sete anos que o Brasil iria sediar a Copa. E
chegamos às vésperas com canteiros de obras por todos os lados. A presidente Dilma disse que
os aeroportos não são padrão Fifa, mas padrão Brasil. Não, as obras da Copa têm padrão governo
Dilma: caríssimas, atrasadas e com qualidade duvidosa.
Para quem é essa Copa afinal, que apesar de sediada no Brasil, poucos
brasileiros poderão assistir devido ao preço dos ingressos, que para o jogo da final
chegam a quase R$ 2.000? Diga-se, quase nada para aquele grupo de empresários, parceiros e amigos que irão assistir aos jogos de
graça, com ingressos bancados por bancos e órgãos públicos como o Banco
do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Ao todo foram gastos R$ 9,1 milhões do nosso dinheiro na distribuição de ingressos a clientes VIPs. Pode isso?
A bem da verdade, a Copa é para uns poucos que lucram e muito com ela. Isso não está passando
em branco, a população tudo está vendo e não tem se calado, têm se mobilizando das redes sociais para as ruas. Diante do que o governo determinou que se aumente a repressão e a violência contra qualquer manifestação, por ver como ameaça até o protesto mais pacífico. Adverte que irá coibir e reprimir as manifestações, que inevitavelmente
acontecerão, promovendo em última instância, um verdadeiro Estado de Exceção. Pasmem: Isso saindo do
gabinete de quem foi uma terrorista no passado!
O governo anunciou que 21 mil militares estarão nas ruas das cidades-sede durante a Copa para
evitar problemas com possíveis greves de policiais e protestos. Ora, o que
o Exército entende de manifestações populares? Esses homens são treinados para a
guerra, o combate. Governo democrático é? Aliás, tudo isso é muito oportuno para uma reflexão no momento em que o país relembra os 50
anos do Golpe Militar. Não se cala o povo por meio da repressão, a
presidente já deveria saber disso de antanho.
Não adianta também criar discricionariamente um anticlímax com propaganda que ataca
qualquer opinião ou movimento dissidente, enquanto tenta em vão criar um clima
artificial de celebração e euforia por meio da imprensa. Não há nada para se
comemorar.
Quem acredita que "esta será a Copa das
Copas" precisa acordar urgente, assim como a presidente Dilma, que demonstra estar totalmente alienada da realidade ao dizer que este será
o melhor mundial de todos os tempos, melhor que o do Japão, dos Estados Unidos, da França,
da Alemanha. Affff.... É por essas e outras que o Brasil virou piada lá fora.
Até a FIFA, apesar dos altos lucros, as projeções mostram que a
FIFA vai ter o maior faturamento de sua história, já disse que o Brasil foi o seu maior erro
estratégico.
A COPA DAS COPAS: AGORA SÓ REZANDO.....
Shadow/Mariasun
A COPA DAS COPAS: PARA QUEM? de MARIASUN MONTAÑÉS está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.