O LEGADO DA COPA 2014
Em meio a uma grande
insatisfação popular, com manifestações fortemente reprimidas no entorno do
Estádio de Itaquera, em 12 de junho iniciou a Copa do Mundo de futebol no
Brasil. Show de abertura pífio, vaias à presidente Dilma e a quem mais
representasse o governo que está aí e aos gastos desmedidos com o megaevento.
Em meio ao verde e
amarelo do público que pagou e caro para assistir aos jogos, um misto de torpor
e desejo de que o tempo parasse ali, naquele momento em que o hino era cantado
a plenos pulmões e o mundo olhava com encantamento para este país.
O grito de gol, a
catarse coletiva tão esperada, o oportunismo sonhado pelos políticos de plantão
em ano eleitoral para superar o escândalo dos mensaleiros, a ruína da Petrobrás
maior empresa do país e os desmandos com o dinheiro público na construção dos
Estádios para a Copa.
De fato, no decorrer
destes dias o povo se deixou envolver por uma corrente de alegria e esperança,
esqueceu dos problemas do dia-a-dia, do cotidiano miserável a que foi
relegado por conta do descaso, da corrupção e impunidade, da carência de
lideranças deste país.
“Eu sou brasileiro,
com muito orgulho....” cantado aos quatro cantos, de norte a sul. Orgulho esse depositado
no desempenho de sua seleção, que desde os primeiros jogos, diante de outras
equipes medianas, mostrou não estar à altura de tanta expectativa.
Envaidecidos os
jogadores que vivem há anos no exterior entraram em campo com o peito estufado,
julgando-se deuses, “os predestinados” para dar “alegria ao povo”, com ares de campeões
por estarem vestindo a camisa com cinco estrelas, diga-se, estrelas conquistadas
por outras equipes ou por haverem recentemente conquistado a Copa das Confederações... como
se isso fosse garantia do hexa ou de um bom time.
Sem tardar foi possível ver que essa seria a seleção de egos espalhados pelo Instagram e pouco ataque, das entrevistas ufanistas e pouco treino, dos altos contratos publicitários e poucas finalizações.
Sem tardar foi possível ver que essa seria a seleção de egos espalhados pelo Instagram e pouco ataque, das entrevistas ufanistas e pouco treino, dos altos contratos publicitários e poucas finalizações.
Quando afinal houve o
confronto com uma equipe que se preparou seriamente para ser a campeã, com
treinos, disciplina, técnica, dedicação, pouca falação ou vaidades pessoais, a
realidade se mostrou: os ídolos eram de barro! Tomaram de 7 x 1, como poderiam
ter levado de 10, não fosse o respeito dos adversários que desaceleraram aos
vinte e nove minutos de jogo poupando os brasileiros de uma humilhação maior,
respeitando uma ética não escrita.
Vexame histórico! O
Mineiraço conseguiu superar o Maracanaço de 50. E como se não bastasse, veio o
jogo com a Holanda. A laranja mecânica deu de 3 x 0 na seleção do penta, para
acabar com aquele lenga-lenga de apagão de seis minutos na vã tentativa de justificar o
injustificável. Façaofavor! Seis minutos? Como assim? O jogo teve mais de
noventa minutos! É acreditar que o povo é otário mesmo! “Apagão” se dá em
breves intervalos, se isso ocorreu durante toda a partida, não foi apagão, foi
incompetência mesmo. Simples assim!
Não admitir erros e
não reconhecer os méritos do adversário é arrogância! Onde ficam a honra e a
humildade? O desempenho desmoralizante da seleção foi o padrão, não há o que
contestar.
A seleção brasileira
saiu no lucro ao se classificar em quarto lugar. Argélia, Colômbia e Costa Rica que o digam!
Só chegou até aí porque enfrentou times fracos nas oitavas e quartas de final,
essa é a verdade. E não se iludam os mais otimistas: com ou sem
Neymar o desfecho seria o mesmo. Ele deu é sorte por ter ficado de fora desse
fiasco.
Segundo os críticos esse
time foi o mais medíocre de todas as Copas, formado por jogadores que
pretendiam ser campeões sem time, treino ou preparo técnico e psicológico. Que
time é esse que chora ao cantar o hino nacional, chora ao ganhar, chora ao
perder, chora ao ter que bater pênalti? Afff... Uma seleção anfitriã, que sai
de campo dando as costas para a sua torcida, sem se despedir, sem agradecer o
apoio de quem esteve com eles até na derrota, deixando as honras e o gramado para o selecionado da Holanda. Que
seleção é essa???
Se há um time que fez
a alegria do povo, foi o alemão. Sem alarde ou estardalhaço cantaram o hino do
Bahia, dançaram com os índios pataxós, vestiram a camisa do Flamengo; dispensando a mais rígida segurança confraternizaram
com os moradores da vila de pescadores e postaram mensagens de simpatia à
equipe do Neymar. Apesar dos 7 x 1, sem chororô ou mimimi, ganharam a simpatia
da torcida brasileira.
Moral da história: É preciso reformular o futebol, assim como este país.
Moral da história: É preciso reformular o futebol, assim como este país.
Dentro de campo ou
fora dele o que se vê no Brasil é o caos, a desordem e o total desgoverno. Na
política, um governo tentando governar sem autoridade, ética ou preparo
político, administrativo e econômico.
Além de cair na real
e parar de se acreditar que “camisa” ganha o jogo, é preciso esquecer o
discurso demagógico, ultrapassado, paternalista e populista em torno de bolsas
disso ou daquilo, do fantasma de uma luta de classes ou “elite branca” inexistente,
que não leva em absoluto a lugar algum e muito menos ao crescimento. Esse é o
apagão que o governo quer que se acredite, em detrimento do planejamento e das
mudanças políticas e estruturais que se impõem neste momento ao país do futebol.
Temos a chance de
enterrar nas próximas eleições, agora em outubro, um dos maiores males que
proliferou em nosso país na última década: a corrupção, o superfaturamento de obras
inconclusas e imprestáveis, a má-versação do dinheiro público, o descaso com a
saúde pública e a educação. É chegada a
hora de fazer a correção histórica assim como no futebol.
O Brasil fugiu de sua
própria identidade nos últimos anos e chegou à Copa de 2014 completamente
distinto de sua natureza, assim como o Brasil do futebol. Um reflexo do outro. A seleção foi transformada numa banca de negócios e mina de contratos publicitários; o técnico nada mais é
que uma marionete em meio ao jogo de interesses de cartolas, empresários, patrocinadores e uma rede de televisão. Não se escala o melhor time, mas aquele que poderá ter o
passe valorizado para fechar contratos milionários lá na frente,
o que será rateado por todos; hoje o que menos conta é o futebol, assim como povo para quem governa este país.
Fala-se em total
reformulação no futebol, a começar pela renovação da Comissão Técnica. Pois que essa reformulação aconteça também na política, a começar por
vereadores, deputados, governadores e Presidente.
Que a lição dos
campos se expanda para a nossa realidade. O triunfo passa obrigatoriamente pelas
mudanças. Sem elas os erros se repetem num ciclo vicioso, que engole a todos.
O jogo feio praticado
pela seleção brasileira atual é o mesmo jogo feio praticado pela atual política
do governo.
Perder um jogo por 7 x 1 ou 3 x 0 não é o fim do mundo. O fim do mundo é pagar altos impostos e não ter acesso a hospitais, postos de saúde, escolas, empregos dignos. O fim do mundo é pagar a conta de arenas superfaturadas como as de Manaus, Brasília e Cuiabá, elefantes brancos cujos campeonatos regionais resumem-se a times de quarta divisão e uma média de público não superior a 1.000 pessoas. O fim do mundo são os legados e as obras de infraestrutura prometidos que não aconteceram ou ruíram como o viaduto em Belo Horizonte, causando mortes. O fim do mundo é levar de goleada aqui fora.
A lição que fica é uma só: um grande país, assim como uma seleção campeã, é feito de trabalho, luta, dedicação, ética, vontade, tenacidade e não de comodismo, oportunismo, ufanismo, pieguismo, discursismo ou malandragem. A Alemanha ganhou o seu tetracampeonato neste domingo, dia 13, com planejamento, maestria e merecimento! Que nos sirva de lição!
O legado desta Copa foi deixado por eles e entregue aos brasileiros de uma vila de pescadores lá em Santa Cruz de Cabrália na Bahia. No adeus doaram aos índios pataxós 10 mil euros para a compra de uma ambulância e remédios ao centro de saúde que construíram em retribuição ao carinho e boas-vindas. Para a vila de pescadores que os acolheu deixaram as benfeitorias que fizeram no terreno como: o campo de treinamento que eles desejam seja transformado num centro educacional e de desenvolvimento para as crianças, a estrada interligando o centro de treinamento ao prédio da concentração também construído por eles, para que se torne um resort, atraindo turistas e riqueza para a população local, antes esquecida no mapa.
Tanto se falou em legado da Copa, em "dar alegria ao povo" e ao final isso foi dado por aqueles em cujo ônibus se lia: Eine Nation, eine zeit, einen traum... One Nation, one time, one dream... De fato eles foram a síntese de uma Nação, de um time, de um sonho....
No fundo os alemães foram mais Brasil cuja vitória foi coroada e marcada por um lindo pôr do sol iluminando o Cristo Redentor de braços abertos como que a abençoá-los pelo grande feito dentro e fora de campo.
Herzlichen Glückwunsch!
Shadow/Mariasun
O LEGADO DA COPA DE 2014 de MARIASUN MONTAÑÉS está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.