A REPÚBLICA DO PANELAÇO
Parecia um final de noite de domingo como tantas outras em São Paulo,
com uma chuva fina fria e suave caindo silenciosa, quase sem se notar. A luz dos
postes refletida nas calçadas, alguns carros passando, pessoas recolhidas no
calor de suas casas...
Foi então que, enquanto pequenas gotas de chuva teimavam em escorrer
pela vidraça, uma onda ensurdecedora, mais uma vez, saída das redes sociais, começou
a se projetar no espaço. Um bater de panelas, antes apenas vista na vizinha
Argentina, rompeu o silêncio da noite. Ao aproximar-se das janelas, sacadas, jardins,
calçadas, o que era um virou dois, dois virou quatro... e assim sucessivamente
em progressão geométrica... ao panelaço, somaram-se cornetas, luzes de
apartamentos piscando e buzinas de carros que começaram a tomar as ruas, tendo
como pano de fundo vaias estridentes e um coro entoando FORA DILMA, que ecoou
em cada canto da rua, do quarteirão, do bairro, do Município, do Estado, do
país. O mesmo fenômeno se repetiu em mais 11 capitais: Brasília,
Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Vitória, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia,
Belém, Recife, Maceió e Fortaleza.
Uma resposta mais do que desenhada ao pronunciamento de Dilma Rousseff, com conotação política,
pelo Dia da Mulher. Que pronunciamento? E alguém lá conseguiu ouvir?
É... não deixa de ser uma prévia das Manifestações agendadas para o
próximo dia 15.
O que aconteceu? O povo surtou? Culpa do FHC?
Não. Culpa de quem deixou de dialogar com o povo há muito tempo.
Enganou, mentiu, roubou, usurpou o poder, lavou dinheiro, saqueou a maior
empresa do país e está atolada num mar de lama, de denúncias e de uma crise
moral e política sem precedentes.
O mais impressionante é que apesar disso, do Mensalão, do Petrolão e da
Operação Lava Jato em momento algum há o “mea culpa”, um olhar crítico sobre a
realidade que aí está para enfrentá-la com coragem, sem demagogia ou
hipocrisia. Em momento algum no repelido pronunciamento, houve preocupação
com a Administração do país, mas em atribuir a crise atual a conjunturas externas, à seca, pois é sobrou até pra São Pedro,
e a uma vã tentativa de convencer que os descontentes estão mal informados. Oi????
O Governo insiste em negar que esteja no fundo do poço por seu próprio
esforço. Qual a governabilidade de uma Presidente que perdeu o crédito e cujas
mentiras atingiram, em cheio, o bolso e os direitos do povo logo nos primeiros
meses de seu segundo mandato?
Não há retorno para a mentira e a falta de credibilidade. E vamos combinar que os
escândalos envolvendo seu (des)Governo e o do seu padrinho político, o Lula,
também não ajudam muito. O acerto do "Lava Dilma" entre o Planalto e o Procurador Geral da República,
Rodrigo Janot, para inserir na Petição do Ministério Público Federal dos políticos investigados na Operação Lava Jato a
declaração de que “nada consta contra a presidente Dilma Rousseff” simplesmente
não colou, pelo contrário, fez com que o Poder Judiciário ficasse mais
desacreditado aos olhos da população e nos fizesse conclamar “Je suis
Joaquim Barbosa”. Que falta esse honrado brasileiro faz na Suprema Corte!
Enquanto não se desratizar
o Palácio do Planalto, Ministérios e Congresso dos ratos que ali se instalaram
e engordam a cada mandato, as negociatas continuarão a ditar os rumos deste
país. Haja vista as conexões entre os políticos condenados no Mensalão com o
Petrolão. É aterrador ver que a primeira investigação criminal não tenha sido
capaz de coibir ou de inibir a prática da atuação criminosa de muitos nos dois esquemas.
Perderam a vergonha!
Não adianta Joaquim
Levy sangrar o povo com ajustes e a elevação de impostos se a inflação não for
debelada com uma infraestrutura adequada, o enxugamento da máquina do Estado e
uma administração resistente ao escoamento do dinheiro público. Sem isso, a
crise política só irá se agravar pela arrogância e ganância de uma quadrilha
travestida de partido político, que busca perpetuar-se no poder sem bases
sólidas.
Neste momento com o
panelaço de domingo o povo tenta resgatar não apenas um país, mas a sua Pátria. Após a bateção de panelas, os indignados tentam tirar importância ao barulho
ensurdecedor que ecoou pelo país inteiro, dizendo que foi obra de uma elite branca,
golpista, pirracenta e insatisfeita, com isso, tentando mais uma vez polarizar
regiões, classes sociais, brancos e negros. Medíocre é quem simplifica o
bater de panelas e subestima as manifestações do próximo dia 15. O que se viu
foi uma barulhenta e impactante manifestação pública de descontentamento e
rejeição, que surpreendeu a muitos. Para aqueles que davam de ombros à queda de
popularidade da Presidente em todas as pesquisas de opinião, o rugido espontâneo
que se viu e ouviu nas ruas das principais capitais do país não deixa margem a
dúvidas: o descontentamento é geral.
A partir de agora
não é mais a reunião de pessoas vindas do WhatsApp e das redes sociais por
apenas vinte centavos. O foco é claro e objetivo: é o (des)Governo do poder central. É o resgate
de um país que se apequenou, que foi saqueado, que deixou de ser grande por sua própria natureza,
que está deixando de ser o mais importante do continente. É o nascimento da República do Panelaço.
" O povo, foge da ignorância,
Apesar de viver tão perto dela..."
Apesar de viver tão perto dela..."
E sonham com melhores, tempos idos...
Shadow/Mariasun Montañés