segunda-feira, 9 de março de 2015




 A REPÚBLICA DO PANELAÇO





Parecia um final de noite de domingo como tantas outras em São Paulo, com uma chuva fina fria e suave caindo silenciosa, quase sem se notar. A luz dos postes refletida nas calçadas, alguns carros passando, pessoas recolhidas no calor de suas casas... 

Foi então que, enquanto pequenas gotas de chuva teimavam em escorrer pela vidraça, uma onda ensurdecedora, mais uma vez, saída das redes sociais, começou a se projetar no espaço. Um bater de panelas, antes apenas vista na vizinha Argentina, rompeu o silêncio da noite. Ao aproximar-se das janelas, sacadas, jardins, calçadas, o que era um virou dois, dois virou quatro... e assim sucessivamente em progressão geométrica... ao panelaço, somaram-se cornetas, luzes de apartamentos piscando e buzinas de carros que começaram a tomar as ruas, tendo como pano de fundo vaias estridentes e um coro entoando FORA DILMA, que ecoou em cada canto da rua, do quarteirão, do bairro, do Município, do Estado, do país. O mesmo fenômeno se repetiu em mais 11 capitais: Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Vitória, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia, Belém, Recife, Maceió e Fortaleza. 

Uma resposta mais do que desenhada ao pronunciamento de Dilma Rousseff, com conotação política, pelo Dia da Mulher. Que pronunciamento? E alguém lá conseguiu ouvir?

É... não deixa de ser uma prévia das Manifestações agendadas para o próximo dia 15.

O que aconteceu? O povo surtou? Culpa do FHC?

Não. Culpa de quem deixou de dialogar com o povo há muito tempo. Enganou, mentiu, roubou, usurpou o poder, lavou dinheiro, saqueou a maior empresa do país e está atolada num mar de lama, de denúncias e de uma crise moral e política sem precedentes.

O mais impressionante é que apesar disso, do Mensalão, do Petrolão e da Operação Lava Jato em momento algum há o “mea culpa”, um olhar crítico sobre a realidade que aí está para enfrentá-la com coragem, sem demagogia ou hipocrisia. Em momento algum no repelido pronunciamento, houve preocupação com a Administração do país, mas em atribuir a crise atual a conjunturas externas, à seca, pois é sobrou até pra São Pedro, e a uma vã tentativa de convencer que os descontentes estão mal informados. Oi???? 

O Governo insiste em negar que esteja no fundo do poço por seu próprio esforço. Qual a governabilidade de uma Presidente que perdeu o crédito e cujas mentiras atingiram, em cheio, o bolso e os direitos do povo logo nos primeiros meses de seu segundo mandato?

Não há retorno para a mentira e a falta de credibilidade. E vamos combinar que os escândalos envolvendo seu (des)Governo e o do seu padrinho político, o Lula, também não ajudam muito. O acerto do "Lava Dilma" entre o Planalto e o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, para inserir na Petição do Ministério Público Federal dos políticos investigados na Operação Lava Jato a declaração de que “nada consta contra a presidente Dilma Rousseff” simplesmente não colou, pelo contrário, fez com que o Poder Judiciário ficasse mais desacreditado aos olhos da população e nos fizesse conclamar “Je suis Joaquim Barbosa”. Que falta esse honrado brasileiro faz na Suprema Corte! 

Enquanto não se desratizar o Palácio do Planalto, Ministérios e Congresso dos ratos que ali se instalaram e engordam a cada mandato, as negociatas continuarão a ditar os rumos deste país. Haja vista as conexões entre os políticos condenados no Mensalão com o Petrolão. É aterrador ver que a primeira investigação criminal não tenha sido capaz de coibir ou de inibir a prática da atuação criminosa de muitos nos dois esquemas. Perderam a vergonha!  

Não adianta Joaquim Levy sangrar o povo com ajustes e a elevação de impostos se a inflação não for debelada com uma infraestrutura adequada, o enxugamento da máquina do Estado e uma administração resistente ao escoamento do dinheiro público. Sem isso, a crise política só irá se agravar pela arrogância e ganância de uma quadrilha travestida de partido político, que busca perpetuar-se no poder sem bases sólidas. 

Neste momento com o panelaço de domingo o povo tenta resgatar não apenas um país, mas a sua Pátria. Após a bateção de panelas, os indignados tentam tirar importância ao barulho ensurdecedor que ecoou pelo país inteiro, dizendo que foi obra de uma elite branca, golpista, pirracenta e insatisfeita, com isso, tentando mais uma vez polarizar regiões, classes sociais, brancos e negros. Medíocre é quem simplifica o bater de panelas e subestima as manifestações do próximo dia 15. O que se viu foi uma barulhenta e impactante manifestação pública de descontentamento e rejeição, que surpreendeu a muitos. Para aqueles que davam de ombros à queda de popularidade da Presidente em todas as pesquisas de opinião, o rugido espontâneo que se viu e ouviu nas ruas das principais capitais do país não deixa margem a dúvidas: o descontentamento é geral.  

A partir de agora não é mais a reunião de pessoas vindas do WhatsApp e das redes sociais por apenas vinte centavos. O foco é claro e objetivo: é o (des)Governo do poder central. É o resgate de um país que se apequenou, que foi saqueado, que deixou de ser grande por sua própria natureza, que está deixando de ser o mais importante do continente. É o nascimento da República do Panelaço.

" O povo, foge da ignorância,
Apesar de viver tão perto dela..."






E sonham com melhores, tempos idos... 



 Shadow/Mariasun Montañés 



Licença Creative CommonsO trabalho A REPÚBLICA DO PANELAÇO de MARIASUN MONTAÑÉS está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.



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