O QUE QUER A MULHER DO SÉCULO XXI?
Amanhã é o Dia Internacional da Mulher, uma data pensada para valorizar o papel da mulher em uma sociedade dominada até a pouco tempo pelos homens e, em alguns casos, pela opressão.
Mais que uma data a ser
comemorada, uma data a ser meditada, pensada, refletida – antes de tudo – pela própria mulher.
O que quer a mulher do
século XXI?
Num 8 de março de 1857,
tecelãs em greve teriam sido queimadas vivas em Nova Iorque na fábrica em que trabalhavam
e incendiada por seus patrões. Mito ou verdade? Há quem afirme que esse
incêndio nunca aconteceu. Entretanto, a
longa greve de costureiras naquela mesma cidade, que se prolongou de novembro
de 1909 a fevereiro de 1910 foi real. Assim como é verdadeira a famosa greve
das mulheres tecelãs de São Petersburgo, na Rússia, em 1917, que obrigou o czar
a mudar radicalmente o regime de opressão, tendo sido esse – inclusive – o
estopim da Revolução Russa.
O que queriam aquelas mulheres?
Elas queriam dignidade, igualdade, respeito, melhores condições de trabalho, reconhecimento de sua importância.
O que quer a mulher do
século XXI?
Até princípios do século XX, a sociedade patriarcal
imperou intocada, fortalecida pelas trevas e as sombras do autoritarismo.
Tendo a história e o tempo como aliados, a mulher
conquistou o direito ao voto e o de ser votada, o trabalho digno e decente, o
acesso ao ensino superior e à emancipação sexual, ao menos no Ocidente livre...
e chegou ao século XXI.
Nessa trajetória, diante de tantas transformações, deixou
de ser a mulher Amélia para tornar-se a mulher Maravilha. O que antes era uma
luta pelos direitos civis, salários decentes, melhores condições de trabalho, liberdade
sexual sem tabus; passou a ser a luta pelo poder, uma guerra diária para desempenhar,
camaleonicamente, múltiplas funções com igual competência.
"Ai que saudade da Amélia", composta por Ataulfo Alves e Mário Lago, é o retrato do homem desiludido diante dessa mulher em transformação, que mudou sua
forma de ser e agir, enquanto ele, saudoso, relembra da Amélia, mulher submissa, sem
vaidade, dependente dele para viver e sobreviver. “Ai, a Amélia! Aquilo
sim é que era mulher de verdade! Lavava, engomava, cozinhava e não reclamava”, estes
os dotes em destaque daquela mulher.
Foi assim durante anos.
Um dia essa Amélia acordou e resolveu não se submeter
a nada nem a ninguém, tornando-se senhora do seu nariz e do seu próprio destino. A
conquista dessa independência veio, mas também trouxe com ela a fragilidade da
família e a solidão. Homem e mulher passaram a viver em descompasso, ela passou a ser vista por alguns como aniquiladora e voraz; ao passo que, umas e outras, passaram a acreditar na força da opressão para se impor e poder suplantar a adversidade e o adversário. Quando o homem e a mulher não conseguem encontrar o meio
termo e o equilíbrio no campo afetivo ou profissional, a desagregação, a disputa insana e a solidão se instalam e florescem.
Mulheres hoje conquistaram e ocupam espaços nunca
antes imaginados. Podem ter filhos sem ter um parceiro, traçar os destinos de
um país e até virar homem. Podem ser “pegadoras”, bancar o chope e subir no
salto à espera de sua “presa” pelo prazer da caça. Só não podem perder a
doçura, o afeto e a feminilidade, pois é isso que faz a diferença num mundo
cada vez mais competitivo, onde elas têm que provar a cada segundo, que são
capazes e eficientes.
A mulher continua antes de tudo a ser geradora da vida. E essa é a força
maior que há no Universo. Carrega o poder de gestar o futuro da humanidade,
muito embora, tenha cada vez menos tempo para a família ou, sequer, para
acalentar o desejo de ter filhos.
O que quer a mulher do século XXI?
Direitos, filhos, família, salários, oportunidades, reconhecimento... Em
sua sede pela igualdade, a mulher pós-moderna está à procura de sua inteireza, ainda que seja
por caminhos tortos.
Ao tempo em que se esbalda com o funk de “um
tapinha não dói”, “são as cachorras", a Lei Maria da Penha é o marco de uma
luta que instituiu que tapinha dói sim e que mulher não é cachorra a serviço do
homem e do sexo. Enquanto sexo explícito
rola solto em reality show na maior rede de televisão do país, acirra-se a
discussão por novas leis de proteção à mulher, para coibir e punir a disseminação e
violação do seu direito à intimidade nas redes sociais. Em uma época onde o foco de
muitas mulheres é o culto exagerado ao corpo em busca do padrão de beleza perfeito por meio de cirurgias e técnicas
artificiais, a jovem paquistanesa Malala recebe o
Prêmio Nobel da Paz por sua luta pelos direitos humanos das mulheres e do
direito das meninas de seu país à educação. À medida que as mulheres afogam suas
carências em baladas regadas a bebida, orgia e promiscuidade, não cessam as
campanhas de prevenção e de combate à AIDS e de doenças sexualmente
transmitidas às mulheres por seus parceiros, em alguns casos, até pelos
maridos.
Os sonhos se alargaram, suas atividades se multiplicaram e
as responsabilidades se avolumaram. A pílula do dia seguinte passou a ser vista
como “a solução de seus problemas”. Cabe, no entanto, discernir o que é
conquista e o que é depreciação de todas as aguerridas lutas até aqui.
Não pode a mulher sair do jugo do patriarcado para cair no jugo do poder,
cujo maior algoz é ela mesma.
No próximo dia 8, homens enviarão mensagens de felicitações às mulheres
nas redes sociais, estas confraternizarão entre si, mas... enquanto estiverem
fazendo isso...
Mulheres ocupando altos cargos estarão arruinando seu povo e seu país, cegas
pelo poder que as corrói; meninas estarão sendo vendidas como escravas sexuais
na África, outras tantas estarão sendo exploradas sexualmente por turistas
estrangeiros nas praias brasileiras; enquanto uma parcela considerável estará sofrendo
agressões físicas e morais de seus parceiros, ou, apesar de exercer as mesmas
funções dos homens, continuará recebendo menores salários.
As mulheres vivem, além de pressões que elas próprias
se impõem, pressões externas.
Por mais emancipada que a mulher seja, ou tenha conquistado seu espaço e direitos nas
relações afetivas e profissionais, talvez continue a querer a mesma coisa daquelas bravas guerreiras do
passado: dignidade, igualdade, respeito, melhores condições de trabalho,
reconhecimento de sua importância...
"Não se nasce mulher: torna-se"
(Simone de Beauvoir)
Por isso não provoque,
É cor de rosa choque...
FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER !!!
Shadow/Mariasun Montañés
O trabalho O QUE QUER A MULHER DO SÉCULO XXI? de MARIASUN MONTAÑÉS está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.