GILMAR MENDES UM QUIXOTE DIANTE DO PROJETO DE PODER DO PT
“Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha junto é o começo da realidade”. (Dom Quixote)
Dom Quixote sempre exerceu grande fascínio. Na minha
infância fechava os olhos e imaginava a figura daquele cavaleiro que em suas andanças, com tenacidade ímpar, enfrentava
moinhos de vento, para ele, perigosos dragões a serem vencidos. Mais tarde, compreendi
que eles nada mais eram do que símbolos das causas impossíveis.
A criação do homem de La Mancha de Miguel de Cervantes
é fascinante e envolvente. Um personagem cuja filosofia de vida em sua longa jornada de aventuras era destruir o
mal e defender os mais fracos. Uma mensagem que reside na boa loucura e na vontade
ilimitada de fazer justiça.
A vida, essa imitação
de segunda classe da ficção, por vezes nos presenteia com pessoas que são assim: quixotescas
em suas certezas, bravura e coragem.
É raro muito raro que elas possam estar no meio político ou nas altas
esferas do poder. Dizem que o poder corrompe e que a política é a arte do
diabo. Diante da relação dos políticos brasileiros com o poder, não há nada
mais verdadeiro.
Talvez por isso, Joaquim Barbosa seja visto com tanta admiração e sua
prematura aposentadoria do Supremo Tribunal Federal (STF) tenha sido tão
sentida. Para sempre será lembrado por sua luta contra a corrupção no país do Mensalão,
a famigerada Ação Penal 470, tendo cumprido com maestria sua função na busca
incansável para punir os “dragões” ávidos pelo poder, que proliferavam e proliferam
no meio político, em especial, em Brasília.
Ficamos meio órfãos, quando sucumbindo às pressões, decidiu pendurar a
toga. A esperança deu lugar à desconfiança quando o então Ministro Luis Roberto
Barroso, indicado à Suprema Corte por Dilma Rousseff, assumiu a relatoria do
Mensalão para, contrariando o voto e parecer do seu antecessor, beneficiar os mensaleiros
autorizando o cumprimento da pena fora da cadeia, mesmo sem que tivessem
cumprido um sexto de sua condenação.
Se com Joaquim Barbosa chegamos a sentir orgulho do nosso Poder
Judiciário, após a sua saída, começamos a sentir o gosto amargo de que a lei nem
sempre é igual para todos.
Foi assim que condenados no Mensalão, como José Dirceu, ficaram livres
para dar continuidade à roubalheira no Petrolão sem qualquer pudor, a
impunidade era vista como uma certeza.
Os escândalos de corrupção e saques aos cofres públicos não pararam de
se suceder, eram e são muitos “aõs” para um único país. Graças à Operação Lava
Jato deflagrada pela Policia Federal e à eficiente atuação da Justiça Federal
do Paraná; ao resultado das investigações e delações premiadas sob o comando do
tenaz Juiz Sergio Moro, foi possível revelar e esquadrinhar o engenhoso e
intrincado esquema de corrupção e propinas maquinado por um partido político e,
viabilizado por meio de empreiteiras e doleiros. Um enredo capaz de dar inveja
a muito escritor.
À medida que o maior escândalo de corrupção do país batia às portas do Palácio do Planalto,
envolvendo os principais assessores e homens de confiança do governo Lula e
Dilma, a população - cansada e indignada de tanta bandalheira - foi às ruas para
pedir o impeachment da Presidente. O Pixuleco passou a ser o símbolo de um país
saqueado por uma quadrilha. Nunca na história um boneco inflável ganhou tanta
popularidade. Tornou-se a imagem da indignação e insatisfação de um povo.

Estupefatos vimos jantares palacianos na calada da noite com Renan
Calheiros (presidente do Senado), Ministros do Supremo Tribunal Federal,
membros da Ordem dos Advogados, tendo no cardápio, como prato principal, o povo.
Na sobremesa foram servidas manobras pouco ortodoxas e “acordões” para
barrar os processos em andamento no TCU, por números maquiados nas contas da
Presidente; no TSE, por abuso do poder econômico no período eleitoral; na
Procuradoria Geral da República para a recondução de Rodrigo Janot ao cargo de
Procurador, a fim de que nenhuma investigação pudesse arranhar o Planalto, o
que só foi possível com a colaboração do Presidente do Senado, Renan Calheiros,
hoje homem forte da República. É de pasmar!
Em meio ao lamaçal de uma crise que não é apenas econômica e política,
mas, moral e de credibilidade, vimos com surpresa surgir um Dom Quixote para
resgatar a independência e a moralidade da Suprema Corte do país: Gilmar Mendes,
vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e
membro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Com coragem e uma caneta em riste, apesar do Procurador Geral da
República, Gilmar Mendes apontou irregularidades nas contas da campanha
eleitoral de Dilma em 2014 e, a partir das investigações da Operação Lava Jato,
determinou a abertura de investigação na contratação de empresas fantasmas e gráficas que não tinham
sequer impressora naquele período para imprimir um único santinho.
Enquanto
Rodrigo Janot, Procurador Geral da República, não via o menor problema nisso,
recomendando em seu Parecer o arquivamento da investigação, Gilmar Mendes
respondeu:
“A Justiça Eleitoral
não pode servir de lavanderia de dinheiro sujo. Se aquela aulinha que o
Procurador-Geral tentou dar à Justiça Eleitoral estivesse certa, deixar-se-ia
de investigar até um homicídio ocorrido no âmbito de uma campanha eleitoral.
Aliás, parte considerável da investigação da Lava-Jato, então, estaria fora da
lei. Quando mandei apurar o caso dessa gráfica, não pensava exclusivamente no
eventual crime eleitoral, mas principalmente nos outros, os conexos (crime
previdenciário e lavagem de dinheiro)”.
Como não prestar
atenção a esse Ministro?
Quando moinhos de vento parecem
grandes e fortes demais, quando o PT tem a seu dispor uma máquina de fazer
dinheiro nas empresas públicas (Petrobrás, Eletrobras, BNDES, Fundos de
Pensão…), como não olhar com alento para quem se ergue na luta contra os desmandos
e em defesa da lei?
Tem sido admirável a atuação do
Ministro Gilmar Mendes à frente do TSE e do STF, essa é a verdade. Seu Parecer
na questão do financiamento das campanhas eleitorais por empresas privadas,
apesar de haver sido voto vencido, entra para a história do Poder Judiciário e
do Brasil.
“O veto às
doações privadas é golpe petista”, disse categórico o Ministro em seu longo
voto.
Sem papas na língua, acusou a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de articular com o PT a Ação Direta de Inconstitucionalidade, para questionar a legalidade de doações de empresas privadas a candidatos e partidos, com o fim último de por meio do STF fazer uma Reforma Política, sem passar pelo Congresso. Este (Congresso) o titular das reformas e detentor do poder de legislar em razão de ser o legítimo representante do povo, nessa matéria, foi passado pra trás.
Para que se possa entender melhor, é preciso retroceder no tempo.
Sem papas na língua, acusou a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de articular com o PT a Ação Direta de Inconstitucionalidade, para questionar a legalidade de doações de empresas privadas a candidatos e partidos, com o fim último de por meio do STF fazer uma Reforma Política, sem passar pelo Congresso. Este (Congresso) o titular das reformas e detentor do poder de legislar em razão de ser o legítimo representante do povo, nessa matéria, foi passado pra trás.
Para que se possa entender melhor, é preciso retroceder no tempo.
Em 2009 quando o PT engordava com
o dinheiro das estatais (como se apurou no escândalo do Petrolão) e achacava as
mais importantes empresas do país, o partido passou a defender o fim do
financiamento de campanhas eleitorais por pessoas jurídicas (empresas privadas),
dificultando assim o levantamento de recursos pelas demais legendas.
Nessa ocasião, o então advogado,
hoje Ministro do STF, Luis Roberto Barroso (ele de novo), atendendo à vontade
do PT, elaborou um Projeto de Reforma Política coibindo doações de campanha por
empresas privadas, do qual mais tarde a OAB se apropriou e converteu na Ação
Direta de Inconstitucionalidade, que na última quinta-feira, dia 17 de
setembro, foi colocada em votação.
Alheia a isso, na mesma semana, a
Câmara dos Deputados aprovou a doação
de empresas privadas no limite de R$ 20 milhões, até 2% do seu faturamento.
O Senado de Renan Calheiros se opôs. Voltando para votação na Câmara dos Deputados,
foi mantido o que havia sido aprovado antes.
Enquanto
isso, o STF declarava, por oito votos a três, a inconstitucionalidade do
financiamento eleitoral por pessoas jurídicas, decretando o fim
dessas doações inclusive para as eleições municipais de 2016, dando argumentos para
Dilma vetar o Projeto de Lei do Congresso Nacional, caso este acabe autorizando
esse tipo de doação.
O PT comemorou. Foi legalizado o
processo para o partido perpetuar-se “ad eternum” no poder. Dom Quixote foi
derrotado pelos moinhos de um único partido político.
Oito
Ministros do STF com fortes ligações com o PT, decidiram que as campanhas
eleitorais só poderão ser financiadas por pessoas físicas ou por recursos
públicos. Por recursos públicos??? Há poucos dias a Presidente não conseguiu
fechar as contas para o próximo exercício (ano eleitoral), apresentando um
Orçamento deficitário de 30,5 bilhões. Chega a ser um insulto alguém falar em
financiamento público de campanhas com fins eleitoreiros nesse cenário. É por essas e
outras que as falas do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não fazem eco junto à
população. Propor medidas duras e a criação de mais impostos, ao tempo em que
se fala em financiamento público para campanha eleitoral, não coaduna!!! É a
mais perfeita definição da irresponsabilidade desse governo.
Moral
da história: as eleições de 2016 estão no limbo e em xeque. À exceção do PT,
que segundo o Ministro Gilmar Mendes, a máquina de extorsão conseguiu arrecadar
fundos suficientes para que este possa se autofinanciar até as eleições de 2038, os
demais partidos terão muita dificuldade em levantar recursos para suas campanhas.
A renovação nos quadros políticos também ficará prejudicada, uma vez que, candidaturas
novas e desconhecidas irão penar para obter doações. No seu entender, asfixiada está a alternância do poder e a oposição.
Além disso, a transparência das
eleições deixa de existir e legaliza as doações clandestinas de empresas, dinheiro proveniente do crime e o
uso de pessoas físicas como laranjas para dar aparência de legalidade ao caixa.
“Laranjais” irão proliferar pelo país afora.
Disso é possível concluir que a
escolha de Ministros para o STF, não deveria ser feita por indicação do
Presidente da República, pois as suas decisões acabam sendo regidas por
critérios político-ideológicos, e não por critérios meramente jurídicos.
É
estarrecedor constatar que caso essa decisão tivesse vigorado antes, teria sido
impossível investigar-se os esquemas de corrupção e crimes apurados pela
Operação Lava Jato.
Em poucas palavras: oito Ministros
da Suprema Corte do país legalizaram a clandestinidade e a impunidade nas doações
de campanha.

E agora Ministro Gilmar Mendes? E agora???
Por amor às causas perdidas....
Shadow/Mariasun Montañés
