Houve um tempo em que o brasileiro
tinha duas alegrias: o futebol e o carnaval. Folia, samba, dribles, gingado,
goooooollll..... emoção, torcida, aplausos, alegorias de um povo diante dessas
duas paixões.
Mais de mil palhaços no salão....
Eu disse: houve um tempo. Naquele
tempo, não tão distante, futebol e carnaval eram vistos por sociólogos, antropólogos e
entendidos como o ópio, o anestésico, o analgésico do povo.
Hoje não mais. O caos e a
desesperança a que o governo conduziu toda uma Nação, parece ter jogado pra escanteio os sonhos e as fantasias dos brasileiros.
Arlequim está chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão...
Estádios superfaturados
construídos para a Copa do Mundo hoje estão endividados e às moscas. Em alguns,
após o grande evento, foi realizada apenas uma única partida; o alto custo operacional,
com o qual o clube mandante deve arcar, tem levado os jogos para lugares mais
baratos.
O fato é que 0 torcedor brasileiro não
se embriaga mais com futebol ou com o carnaval. Cansou de tomar sempre de 7 x 1 dos
seus governantes e maus políticos.
FIFA e CBF, importantes entidades do futebol,
hoje estão de joelhos e seus principais dirigentes presos por corrupção, diante do que já foi apurado pelas investigações das autoridades americanas: Copas do Mundo compradas, árbitros
vendidos, jogadores escalados para a seleção brasileira por lobistas, interesses
econômicos e de patrocinadores...
Nesse samba do crioulo doido, o povo
brasileiro ainda paga a conta da Copa de 2014 e, enquanto os hospitais públicos
fecham as portas por falta de esparadrapo e doentes morrem todos os dias em
seus corredores por falta de assistência, Dilma Rousseff, atendendo aos
compromissos assumidos por Lula, isentou a FIFA do pagamento R$ 1,1 bi em
impostos.
Como vestir a camisa de
pentacampeão para desfilar na avenida?
No quesito carnaval, não é diferente.
No quesito carnaval, não é diferente.
As escolas de samba do Rio de
Janeiro estão cada vez mais distantes de suas raízes. Foi-se o tempo em que a
alegria, espontaneidade, samba no pé, as cores da escola faziam a diferença.
Hoje deixou de ser uma festa popular. Passou a ser um espetáculo montado e coreografado para
a televisão e gringo ver; a rainha da bateria deixou de ser a mais bela
cabrocha da comunidade, mas a celebridade que melhor paga para ocupar o seu
lugar. Esse é o momento em que o samba desafina ao atravessar a avenida.
O carnaval das grandes escolas de
samba não é mais dos brasileiros. Fato. Até as mais vis ditaduras vem aqui
patrocinar e comprar o samba-enredo. Se antes os carnavalescos se preocupavam em contar durante o desfile importantes fatos históricos ou homenagear personalidades ilustres, levando
cultura para a passarela do samba; no ano passado, a Beija-Flor de Nilópolis, a
campeã de 2015, vendeu seu enredo por 10 milhões de reais ao ditador da Guiné
Equatorial. Ele, que é acusado por entidades internacionais de violar os
direitos humanos e é um dos líderes mais rico do continente africano, apesar
de seu povo ser um dos mais pobres e faminto do planeta.
A escola campeã do ano passado
homenageou um genocida, levou para a avenida um samba-enredo manchado com o sangue
de um povo sofrido. É quando a folia se transforma em vergonha nacional!
Por essas e outras, a impressão que se tem é que a quarta-feira de cinzas parece anteceder os dias de carnaval....
São tantos e tantos escândalos, lama,
roubalheira, falta de vergonha, cinismo, escárnio, que a festa de Momo hoje abre passagem para os blocos de rua: Unidos da Lava-Jato, Acadêmicos do Mensalão, Agremiação
Zelotes, Cordão do Pixuleco, Bloco do Petrolão, Pacotão Não, Escola Unidos da
Delação, Bacalhau do Impeachment, O Mosquito da Madrugada....
Não, não tem mais essa de “ópio do
povo”. Agora são três ou quatro dias onde os foliões, longe das escolas de samba, vestem a fantasia e colocam pra fora tudo
aquilo que está engasgado. Carnaval passou a ser o “desabafo de um povo”.
O brasileiro é por natureza irreverente,
alegre, criativo e de um humor escancarado. Isso mais a adversidade e a
indignação diante da roubalheira na política, transformaram os blocos de rua carnavalescos,
que se multiplicam nas ruas do país, em sátiras e críticas àqueles que queremos
ver longe do poder e na cadeia: o bloco dos engravatados algemados, seguido pelo
cordão do japonês da Federal.
Nas ruas, de norte a sul do país, não mais pierrôs ou colombinas, palhaços piratas e bailarinas, mas, rostos cobertos com as máscaras do Pixuleco (vulgo Lula), Dilmintira, Toffoleco, Eduardo Cunha, do juiz Sergio Moro e do japonês da Federal, as duas últimas sucesso absoluto de venda.
As marchinhas proliferam
abastecidas pela política e lideranças políticas, emplacando a crítica com
ironia e humor ácido, cantadas a plenos pulmões nas ruas, bares e clubes, atraindo mais e mais foliões e simpatizantes, no mesmo ritmo, sem desafinar, sem deixar o samba
atravessar, no aquecimento para as Manifestações do dia 13 de março.
Que o Carnaval não acabe na Quarta-feira
de Cinzas, dure o ano todo......
Ai meu Deus, me dei mal, bateu à minha porta o japonês da Federal....
Ai meu Deus, me dei mal, bateu à minha porta o japonês da Federal....
Com o coração na mão, eu respondi: o senhor está errado!
Sou trabalhador... não sou lobista, senador ou deputado....
Shadow/Mariasun Montañés