sábado, 6 de fevereiro de 2016





O CARNAVAL DO JAPONÊS DA FEDERAL



Tanto riso, oh quanta alegria...

Houve um tempo em que o brasileiro tinha duas alegrias: o futebol e o carnaval. Folia, samba, dribles, gingado, goooooollll..... emoção, torcida, aplausos, alegorias de um povo diante dessas duas paixões.

Mais de mil palhaços no salão....

Eu disse: houve um tempo. Naquele tempo, não tão distante, futebol e carnaval eram vistos por sociólogos, antropólogos e entendidos como o ópio, o anestésico, o analgésico do povo.

Hoje não mais. O caos e a desesperança a que o governo conduziu toda uma Nação, parece ter jogado pra escanteio os sonhos e as fantasias dos brasileiros.

Arlequim está chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão...

Estádios superfaturados construídos para a Copa do Mundo hoje estão endividados e às moscas. Em alguns, após o grande evento, foi realizada apenas uma única partida; o alto custo operacional, com o qual o clube mandante deve arcar, tem levado os jogos para lugares mais baratos.

O fato é que 0 torcedor brasileiro não se embriaga mais com futebol ou com o carnaval. Cansou de tomar sempre de 7 x 1 dos seus governantes e maus políticos.

FIFA e CBF, importantes entidades do futebol, hoje estão de joelhos e seus principais dirigentes presos por corrupção, diante do que já foi apurado pelas investigações das autoridades americanas: Copas do Mundo compradas, árbitros vendidos, jogadores escalados para a seleção brasileira por lobistas, interesses econômicos e de patrocinadores...

Nesse samba do crioulo doido, o povo brasileiro ainda paga a conta da Copa de 2014 e, enquanto os hospitais públicos fecham as portas por falta de esparadrapo e doentes morrem todos os dias em seus corredores por falta de assistência, Dilma Rousseff, atendendo aos compromissos assumidos por Lula, isentou a FIFA do pagamento R$ 1,1 bi em impostos.

Como vestir a camisa de pentacampeão para desfilar na avenida?

No quesito carnaval, não é diferente.

Na mesma máscara negra que esconde teu rosto, eu quero matar a saudade...

As escolas de samba do Rio de Janeiro estão cada vez mais distantes de suas raízes. Foi-se o tempo em que a alegria, espontaneidade, samba no pé, as cores da escola faziam a diferença. Hoje deixou de ser uma festa popular. Passou a ser um espetáculo montado e coreografado para a televisão e gringo ver; a rainha da bateria deixou de ser a mais bela cabrocha da comunidade, mas a celebridade que melhor paga para ocupar o seu lugar. Esse é o momento em que o samba desafina ao atravessar a avenida.

O carnaval das grandes escolas de samba não é mais dos brasileiros. Fato. Até as mais vis ditaduras vem aqui patrocinar e comprar o samba-enredo. Se antes os carnavalescos se preocupavam em contar durante o desfile importantes fatos históricos ou homenagear personalidades ilustres, levando cultura para a passarela do samba; no ano passado, a Beija-Flor de Nilópolis, a campeã de 2015, vendeu seu enredo por 10 milhões de reais ao ditador da Guiné Equatorial. Ele, que é acusado por entidades internacionais de violar os direitos humanos e é um dos líderes mais rico do continente africano, apesar de seu povo ser um dos mais pobres e faminto do planeta.

A escola campeã do ano passado homenageou um genocida, levou para a avenida um samba-enredo manchado com o sangue de um povo sofrido. É quando a folia se transforma em vergonha nacional!

Por essas e outras, a impressão que se tem é que a quarta-feira de cinzas parece anteceder os dias de carnaval....

Ai meu Deus, me dei mal, bateu à minha porta o japonês da Federal....

São tantos e tantos escândalos, lama, roubalheira, falta de vergonha, cinismo, escárnio, que a festa de Momo hoje abre passagem para os blocos de rua: Unidos da Lava-Jato, Acadêmicos do Mensalão, Agremiação Zelotes, Cordão do Pixuleco, Bloco do Petrolão, Pacotão Não, Escola Unidos da Delação, Bacalhau do Impeachment, O Mosquito da Madrugada....

Não, não tem mais essa de “ópio do povo”. Agora são três ou quatro dias onde os foliões, longe das escolas de samba, vestem a fantasia e colocam pra fora tudo aquilo que está engasgado. Carnaval passou a ser o “desabafo de um povo”.

O brasileiro é por natureza irreverente, alegre, criativo e de um humor escancarado. Isso mais a adversidade e a indignação diante da roubalheira na política, transformaram os blocos de rua carnavalescos, que se multiplicam nas ruas do país, em sátiras e críticas àqueles que queremos ver longe do poder e na cadeia: o bloco dos engravatados algemados, seguido pelo cordão do japonês da Federal.


Ai meu Deus, me dei mal, bateu à minha porta o japonês da Federal....

Nas ruas, de norte a sul do país, não mais pierrôs ou colombinas, palhaços piratas e bailarinas, mas, rostos cobertos com as máscaras do Pixuleco (vulgo Lula), Dilmintira, Toffoleco, Eduardo Cunha, do juiz Sergio Moro e do japonês da Federal, as duas últimas sucesso absoluto de venda.

As marchinhas proliferam abastecidas pela política e lideranças políticas, emplacando a crítica com ironia e humor ácido, cantadas a plenos pulmões nas ruas, bares e clubes, atraindo mais e mais foliões e simpatizantes, no mesmo ritmo, sem desafinar, sem deixar o samba atravessar, no aquecimento para as Manifestações do dia 13 de março.

Que o Carnaval não acabe na Quarta-feira de Cinzas, dure o ano todo......

Ai meu Deus, me dei mal, bateu à minha porta o japonês da Federal....




Ai meu Deus, me dei mal, bateu à minha porta o japonês da Federal....
Com o coração na mão, eu respondi: o senhor está errado!
Sou trabalhador... não sou lobista, senador ou deputado....



Shadow/Mariasun Montañés






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