QUANDO AS REDES
SOCIAIS SE TRANSFORMAM EM PALANQUES E TRIBUNAIS DE EXCEÇÃO
“A ignorância não fica tão
distante da verdade
quanto o preconceito” (Diderot)
quanto o preconceito” (Diderot)
O avanço da tecnologia hoje nos
permite estar conectados com o mundo e com as pessoas em questão de segundos.
Poucos são aqueles que vivem sem o mundo digital, sem um celular com acesso à
internet e às redes sociais. Isso nos permite ter a informação em tempo real ao simples
toque de uma tecla, não há pergunta que fique sem resposta; estamos cada vez
mais próximos daqueles a quem amamos, por mais distante que eles estejam
fisicamente e somos capazes de ir além, estabelecendo laços de amizade nessa grande teia com pessoas admiráveis
e especiais, que de outra forma não teríamos o prazer de encontrar.
A popularização das redes sociais,
num primeiro momento, veio para agregar e somar. Quem não se enterneceu com a
foto do menino sírio deitado sem vida em uma praia turca? Quem não se
solidarizou com os franceses diante dos atentados em Paris? Quem não lamentou o
desastre ambiental em Mariana, a destruição e a morte, inclusive do Rio Doce?
Entretanto, as redes sociais que
podem tocar e aquecer o coração, despertar a empatia e a solidariedade, nos
entrelaçar e irmanar, nos fazer sentir mais humanos, também podem espalhar a intolerância,
a discórdia, a injustiça e o ódio.
Vivemos um período difícil de dúvidas e
incertezas; somos representados por um governo que definitivamente não nos
representa, pelo contrário, nos faz sangrar na mesma proporção em que aniquila todo um país. Um sentimento
de dúvidas e incertezas nos invade quando o japonês da Polícia Federal,
responsável por algemar os ladrões que saquearam a Petrobras, se torna a
personalidade do ano de 2015; quando a maior rede de televisão do país elege
como suas musas e a cara das jovens brasileiras, três integrantes do Movimento
Passe Livre (MPL), cuja única proposta é levar o caos, a truculência, a baderna,
a selvageria e a depredação por onde passa; quando o fator de união nacional passa
a ser o mosquito Aedes aegypti ao invés das ações da Presidente da República.
Pouco a pouco passamos a nos sentir acuados,
sem saída e sem perspectivas e essa insatisfação da vida real up grade está indo parar e contaminando
as redes sociais na forma da falta de bom senso, ódio destilado, ânimos
exaltados, ataques acalorados, comentários preconceituosos, onde
qualquer voz dissonante está condenada a queimar no fogo do inferno.
É quando a tela do computador
salta para fora produzindo consequências no mundo real, onde qualquer forma de
pensamento humanista é deletada e o outro deixa de existir. O que importa são
“as minhas convicções”, mesmo que desestruturadas e sem fundamento, sem muitos critérios,
embasadas no “fulano disse”, “ouvi dizer”, compartilhadas por outras
centenas e centenas de seguidores, como se fosse o bastante para comprovar uma
tese científica ou destruir a reputação de pessoas.
Não importa o cenário: política,
religião, futebol, novela ou... até mesmo um reality show. Iniciada a discórdia
o embate será travado sem freios, alimentado pela cólera,
agressões mútuas, discussões intermináveis, sem direito a vencedor, só
vencidos.
A polêmica mais recente começou
no BBB16. Bastou um participante chamar o outro de “tarado e pedófilo”, para o
comentário ganhar as redes sociais e culminar em uma campanha de linchamento do
participante, não digo sem precedentes, pois já havia ocorrido com outro
participante desse mesmo reality, acusado de estupro sem provas. A pessoa teve sua vida
devassada; comentários, posts e curtidas de sua rede social foram pinçados para
comprovar os argumentos de juízes implacáveis ávidos por Justiça.
A turba ensandecida revezou-se em
mutirões para eliminar aquele “ser repugnante” a quem, em menos de três dias,
sumariamente julgaram e condenaram, sem direito a defesa ou presunção de
inocência.
É preocupante quando as redes
sociais se transformam em Tribunais de Exceção e as pessoas em paladinas da
Justiça.
Viver não é fácil, muito menos em sociedade. A todo momento, desde que nascemos, nos deparamos com as frustrações e os limites. Apesar de ninguém gostar dos “nãos” que a vida nos dá, muitas vezes eles são necessários para o nosso crescimento, aprendizado, desenvolvimento e convivência social. Os limites são necessários, sim. Há certas regras que deveriam ser sempre seguidas, como o respeito às pessoas, às normas e às diferenças.
Uma das coisas mais fascinantes da vida é sermos
diferentes uns dos outros, cada qual com a sua forma de pensar, de construir o
mundo e de relacionar-se com o seu diferente. Houvesse uma única maneira de ser e agir, perderíamos a nossa essência, seríamos pouco mais que
autômatos; se pudéssemos fazer o que quiséssemos sem respeitar o espaço do
outro, viveríamos em guerra diária uns com os outros.
Um reality show é feito para a
diversão e o entretenimento, não para fomentar a intransigência ou estimular a
intolerância e o preconceito.
Ao reunir pessoas de quatro
gerações, o BBB que está no ar, vai ao encontro disso. Se o banheiro está sujo,
ah... só pode ser o porco e nojento do
“velho”. Muito embora todos o usem e sujem. Se o rapaz não quer formar casal com a bela da casa, hummm... “ele é “gay”! Afinal, “um homem que é homem” deve ir
pra debaixo do edredom com a bonitinha da vez para provar a sua virilidade. Se
a gordinha fora dos padrões estéticos forma casal com um dos bonitões da
edição, xiiiii... “ela está sendo trouxa e se iludindo”. Apesar de os casais
formados entre duas beldades serem imediatamente chipados, ganharem uma torcida alucinada e
os comentários girarem em torno do casamento e dos lindos filhos que terão.
Pedro Bial, em um de seus
discursos de eliminação do BBB, disse acertadamente: "É um espetáculo de natureza humana que, ao contrário do que rumina o senso comum,
revela muito mais a natureza de quem espia sobre quem é espiado".
Não há nada mais nefasto e
discriminatório do que o juízo pré-concebido de uma pessoa tendo como pano de fundo a idade,
valores, aparência física ou classe social da outra; o que quando
compartilhado por outras tantas centenas de pessoas, ganha dimensões de
“verdade absoluta”. Aí já é tarde. O mal está feito e disseminado.
Hoje, nas redes sociais, muitos acreditam que estão defendendo questões sociais, quando estão apenas difundindo e compartilhando a intolerância e o preconceito. É branco ou preto, black or white. Não há outras possibilidades, meio termo, nem outras nuances.
Hoje, nas redes sociais, muitos acreditam que estão defendendo questões sociais, quando estão apenas difundindo e compartilhando a intolerância e o preconceito. É branco ou preto, black or white. Não há outras possibilidades, meio termo, nem outras nuances.
Portanto, creio que é hora de
parar e repensar. Se as redes sociais tem o grande potencial de falar por nós e
de promover mudanças, que sejam usadas com critério e temperança para
multiplicar e construir, não para dividir e destruir; caso contrário não haverá mais espaço para a razão e nem para enxergar a verdadeira causa de nossas insatisfações e descontentamentos.
Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo, que um preconceito. (Albert Einstein).
Hoje ele diria:
Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo, que uma notícia deturpada nas redes sociais...
Shadow/Mariasun Montañés
QUANDO AS REDES SOCIAIS SE TRANSFORMAM EM PALANQUES E TRIBUNAIS DE EXCEÇÃO de MARIASUN MONTAÑÉS está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.