O QUE UM ATLETA NECESSITA
PARA ALCANÇAR A MEDALHA DE OURO OLÍMPICA? - PARTE I
A cada quatro anos os melhores
atletas do mundo se encontram para competir em várias modalidades.
Por algumas semanas sob o
tremular da bandeira olímpica com seus cinco anéis entrelaçados, simbolizando a união dos cinco continentes, os melhores
esportistas do mundo conseguem dar um show de superação, respeito, tenacidade, motivação,
e acima de tudo, de fraternidade. Não tem como ficar impassível ou deixar de admirar
o grande espetáculo esportivo que se desenha por duas semanas em tatames,
quadras, areia de praia, mar, traves, cavalos...
É como se um portal se
abrisse para irmanar as Nações dos quatro cantos do planeta sob um mesmo teto:
sem guerras, sem conflitos, sem diferenças raciais ou religiosas, apenas, o
duelo e o combate de forças para saber quem é o melhor dentre os melhores.
Muitas são as histórias que vão
se revelando durante a competição, porém, todas elas envolvem horas e horas de
treino, sacrifícios, dedicação, garra e determinação. Nesta Olimpíada já é possível
destacar alguns momentos que, sem dúvida, serão inesquecíveis...
O adeus das piscinas do
extraordinário Michael Phelps após haver conquistado cinco medalhas na Rio-2016
(quatro de ouro e uma de prata), um recordista de pódios e títulos, que acumulou
em cinco Olimpíadas, outro recorde, um total de 27 medalhas olímpicas (22 de
ouro). Apesar de ser o melhor de todos os tempos, nunca foi visto como um
atleta individualista ou alheio à sua delegação, pelo contrário, sempre foi
participativo e colaborador, sem fazer questão de ser líder. Sem dúvida um MITO,
um exemplo de grandeza, carisma e de humildade, que encantou o público. Um
grande atleta, um grande homem.
Enquanto uns dão adeus, outros
chegam para ficar.
A pequenina ginasta Simone Biles.
Ela não apenas se movimenta com graça, leveza e agilidade, ela voa. É simplesmente
extraordinária! Conhecendo-se um pouco mais da história dessa jovem atleta,
fica-se ainda mais admirado. Quando tinha apenas três anos de idade sua mãe
perdeu a guarda dos quatro filhos para o Estado, por seu envolvimento com
álcool e drogas. Simone e outra irmã foram morar com os avós, sendo separadas dos
irmãos mais velhos, que ficaram sob os cuidados de outra pessoa da família. Aos seis
anos de idade já fazia espontaneamente alguns movimentos que encantavam e
sinalizavam para o seu futuro promissor. Naquela menina despertava o sonho de
um dia ser uma grande ginasta. Não tardou a ser descoberta pela técnica que
está com ela até hoje. Após anos e anos de treino, dedicação e milhares e
milhares de repetições para alcançar os movimentos perfeitos, entre um duplo
mortal com o corpo esticado e um giro em rotação, alcançou a sua consagração na
Rio-2016.
A história de Simone Biles
poderia ser a história de muitos atletas olímpicos brasileiros, que também passaram
por várias dificuldades para chegar entre os melhores de seu país e encontraram
forças para seguir em frente e superar os obstáculos da vida. Muitos de nossos
atletas também escaparam de caminhos tortuosos e nebulosos, perseveraram na
busca de um sonho e deram a volta por cima, apesar da falta de incentivo do
Estado e de patrocínio. São mais que atletas, são sobreviventes do esporte!!! Se hoje Biles
brilha com suas medalhas no peito, é porque apesar de todas as agruras, ela
vive em um país que acredita e investe em políticas voltadas para a educação e desenvolvimento de práticas esportivas.
No Brasil, os atletas vivem
mendigando por patrocínio para poderem participar de competições ou até mesmo comprar
um tênis para poder treinar. Muitas vezes eles conseguem seguir em frente
porque a família se mobiliza na vizinhança e nas redes sociais para levantar algum
dinheiro com os comerciantes do bairro ou incentivadores do esporte e, com o valor
arrecadado, poder fazer uma viagem para competir em outro Estado ou até mesmo
almoçar durante as competições. A distância entre a rotina e estrutura de treinamento de atletas brasileiros com atletas de outros países é abissal.
O quadro de medalhas do Brasil,
país sede da Olimpíada, é um reflexo disso. E, muito embora a imprensa escrita e televisiva esteja omitindo, até agora os medalhistas brasileiros não são
atletas comuns, são militares, que muito nos orgulham. É dentre os muros das Forças Armadas que eles têm
condições de treinar com equipamentos adequados e de desenvolver o seu talento. Até
o momento além de Rafael Silva, bronze no judô, têm-se também as judocas Mayra Aguiar (bronze) e Rafaela Silva (ouro, na foto), além de Felipe Wu, prata no tiro. Das quatro medalhas ganhas pelo Brasil na Olimpíada até aqui, as quatro são de jovens atletas militares, portanto, a nossa Rio-2016 está mais
para Jogos Militares.
Tudo indica que seremos ouro na categoria de pior
desempenho de um país a sediar uma Olimpíada.
Este é um país onde o foco para o
esporte está errado. Investem-se altas cifras no futebol, porque como o mundo
sabe e pelo que se viu das investigações envolvendo a FIFA e a CBF rouba-se muito: jogos são fraudados, árbitros
são comprados, resultados obedecem aos interesses das bolsas de apostas; dirigentes
cartelizaram o esporte num esquema criminoso de fraudes, lavagem de dinheiro e
extorsão. E, é nessa modalidade “altamente lucrativa” que o Brasil
investe em detrimento das demais modalidades esportivas que hoje penam em busca
de apoio e patrocínio. É assim, porque esta é uma Nação de corruptos que
não valoriza os verdadeiros talentos que têm, pelo contrário, cuida de endeusar
ídolos de barro, jogadores de futebol que jogam no exterior, faturam o que
querem até com publicidade e estão cada vez mais distantes de seu país.
Sem patrocínio, muitos de nossos atletas
dependem da premiação em torneios para bancar as viagens e das “vaquinhas”
entre familiares, amigos e simpatizantes; exceção feita àqueles que têm a sorte de ir para o exterior jogar numa NBA ou Liga de vôlei italiana. Se eles perdem, para continuar, têm
que tirar o dinheiro do próprio bolso. A dificuldade de manter a rotina de
treinos e competições faz com que o sonho de uma medalha na Olimpíada fique
cada vez mais distante. Para quem não entendeu ainda porque estamos em 26º. no quadro geral de medalhas sendo o país sede dos Jogos Olímpicos, essa é a explicação.
O que um atleta necessita para alcançar a medalha de ouro olímpica?
Necessita acima de tudo respeito,
investimento, apoio, incentivo do seu país e de uma política nacional voltada para o esporte, porque o sonho, ah.... o sonho, a
vontade de superação, a garra, a dedicação, a determinação, esses ele já têm.
"No esporte, existem campeões e existem heróis. Campeões vencem porque são bons no que fazem e tiram proveito particular de suas vitórias. Heróis vencem quando menos se espera, superam seus próprios limites, e quando recebem os louros dividem suas vitórias com uma nação inteira..." (AUGUSTO BRANCO)
Dos filhos deste solo És mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!
Shadow/Mariasun Montañés