quarta-feira, 19 de junho de 2013



BRASIL MOSTRA A TUA CARA
 
 
 
Dia 17 de Junho de 2013, segunda-feira,
"Eu não tenho partido, eu sou Brasil!". Esse o lema dos jovens que chegavam à Avenida Paulista nesse dia histórico. Sem bandeira. Sem uma diretriz traçada. Sem uma liderança personalizada.  À medida que se espalhavam pela avenida eram recebidos pelos moradores dos prédios com lençóis brancos agitados nas janelas, todos torcendo para que os protestos, desta vez, ocorressem sem violência. Parecia quase impossível que não houvesse confrontos, mas, o espírito democrático e a paz prevaleceram, tendo ao fundo o prédio da FIESP com a bandeira do Brasil em LED e manifestantes cantando "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”... De arrepiar!!!
O que parecia ser apenas uma manifestação caótica, baderneira e desorganizada no dia anterior, se multiplicou em questão de horas em progressão geométrica, num movimento legítimo e pacífico, até chegar a centenas e milhares de pessoas, em cada canto do Brasil. Ainda é possível ouvir o coro de vozes entoando: “Verás que um filho teu não foge à luta”. Sessenta e cinco mil paulistanos abraçando seu país como uma Nação. E da mesma forma, tantos outros brasileiros espalhados pelas principais cidades do país.
Nesse momento, como não ser um só coração?  
As vaias no Estádio Mané Garrincha em Brasília à Presidente Dilma Rousseff, dois dias antes, na Abertura da Copa das Confederações, foram o prenúncio do que estava por vir. A cólera que Joseph Blatter resumiu como falta de fair play, era reflexo de uma insatisfação generalizada, inclusive com o superfaturamento na construção de Estádios para a Copa. Ufa!! Aos olhos do Mundo, estávamos deixando de ser apenas o país de futebol! Já não era sem tempo!!
Aproveitando o suposto clima de ufanismo com a seleção canarinho e às vésperas da abertura da Copa das Confederações, os governantes decidiram aumentar as tarifas do transporte público em suas cidades. Que transporte? Filas homéricas no metrô, pessoas transportadas feito gado nos ônibus. Ah... se arrependimento matasse!!!
Uma coisa é certa, a centelha dos protestos pode ter sido os R$ 0.20 a mais nas passagens de ônibus, mas, o combustível foram os  anos de desmandos do governo de Luís Inácio Lula da Silva, o Lula, que ao lado de seus asseclas, levou este país ao caos. Desde a compra de votos para aprovação de leis em benefício próprio  à lorota de ter quitado a dívida externa, quando o que fez foi substituí-la pela interna.  Isso sem falar das licitações duvidosas e obras superfaturadas envolvendo grandes empreiteiras, que hoje estão paradas, como a transposição do Rio São Francisco, mas que resultaram em bons ganhos para os envolvidos, inclusive para o filho do ex-Presidente.
No Brasil, os hospitais estão sucateados, faltam políticas para as escolas públicas, a violência impera nas ruas das grandes cidades, metade dos domicílios não está ligada à rede de esgoto, mas estão sendo gastos 35 bilhões com o Mundial de Futebol; 26 bilhões com as Olimpíadas; 50 bilhões com a corrupção, enquanto o salário mínimo é de 678 reais. Tem algo muito errado.
O Congresso Nacional virou a Casa da Mãe Joana. Onde está o decoro ao entregarem a Presidência do Senado a Renan Calheiros, sendo que este responde pelos crimes de tráfico de influência e de improbidade administrativa? Onde está a decência ao se permitir que José Genuíno e João Paulo da Cunha, dois dos condenados no Mensalão, integrem a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a Comissão mais importante da Casa?
E... eis que de repente, com perplexidade observamos algo que não se via há muito tempo: O despertar. A população que estava deitada em berço esplêndido, se dá conta de que o ídolo do proletariado e tudo o mais era de barro e, como um filho teu não foge à luta, invade o Congresso Nacional, simbolicamente recuperando a posse das duas Casas, Câmara e Senado, suas Casas.
Acabou. O samba e o futebol não são mais didáticos nem anestesiantes. Restou provado que o Brasil de hoje não é o mesmo de ontem.
O povo foi para as ruas, numa cidadania plural do jovem ao velho, do estudante ao trabalhador, alguns munidos de cartazes cuidadosamente feitos à mão, outros com vuvuzelas, cada qual a seu modo denunciando sua insatisfação com a corrupção, a insegurança, o aumento das passagens, gastos abusivos com a Copa.... contrastando com a bandeira do Brasil por vezes agitada, esta aliás a bandeira do protesto, dando um colorido diferente à mais charmosa das avenidas.
O movimento que começou nas redes sociais se alastrou feito um rastilho de pólvora, veio para as ruas, cresceu, ficou nacional e virou internacional; outros países e cidades se somaram e continuam a se somar, fazendo eco em solidariedade, aos protestos populares no Brasil: Paris (França), Valência, Madri, La Coruña e Barcelona (Espanha), Londres (Inglaterra), Berlim, Frankfurt, Hamburgo e Munique (Alemanha), Turim e Bologna (Itália), Coimbra, Porto e Lisboa (Portugal), Den Haag (Holanda), Dublin (Irlanda), Bruxelas (Bélgica), Boston, Edmond, Chicago, Nova York (Estados Unidos), Toronto, Montreal e Vancouver (Canadá), Buenos Aires (Argentina) e Cidade do México (México). Não somos uma ilha!
Chega a dar um nó na garganta!!!
Um movimento instantâneo, autêntico, verdadeiro e apartidário. “Nenhum partido nos representa” é a palavra de ordem. O movimento ganha o formato do coração do povo. Um movimento que em sua composição e reivindicações é múltiplo, multifacetado e imprevisível, mas nem por isso menos preocupante para aqueles que ocupam cargos públicos.
Será o início de uma nova consciência como profetizou em 2004 Homero Moutinho Filho?:
Democracia Representativa é uma fraude! Onde já se viu, exigir que um cidadão tenha de gastar 3 milhões no mínimo, para se eleger deputado? O que é isto? Estão brincando? Acaso acham que somos imbecis irrecuperáveis? Acham é?... Pois terão o troco em breve! Não será pela violência física nem por atos revolucionários impensados. Será por ações válidas e exemplos de uma nova forma de governo jamais implantada em nenhum país até hoje. Será por uma mudança de mentalidade, um mutirão de cidadãos aptos a promoverem uma “revolução cultural” autêntica, livre das ideologias de um anacrônico passado que nada conseguiu de bom para a humanidade. Será pela conscientização das massas , partindo não de doutrinações ou modelos impostos por uma elite que nunca soube falar a linguagem do povo. Será pelo exemplo pessoal e dignidade de ser, que contagiaremos a muitos, falando a corações e mentes! Será pela vontade maior de um ideal sem bandeiras ou sectarismos, sem divisões ideológicas, sem conflitos, que chegaremos a uma síntese nossa , uma nova civilização sem os resquícios colonizadores do passado. Será pelo empenho de cada um, sabendo e pressentindo por si que não teremos outra chance senão esta de “reconstruirmos” este país ! Será pela vontade de muitos que se multiplicarão cada qual valendo por mil, se desdobrando como uma imensa onda de vontade coletiva que contagiaremos o Brasil numa só ação produtiva de participação! Será pela doação pessoal, pela garra, pela necessidade de sobrevivência e preservação de nossa dignidade e respeito próprio, que alcançaremos em breve uma nova realidade nacional! Será pelo ardor e intensa energia criativa, que encontraremos soluções e possibilitaremos uma saída para os nossos problemas crônicos! Será pela formação de uma identidade brasileira que ainda não temos , que chegaremos a um perfil do Brasil que queremos! ... (Manifesto “Barata Baygon”, texto na íntegra no blog http://fator-psi.blogspot.com.br).
Manifesto impactante, poético, atual. Sim, não somos imbecis irrecuperáveis. O que me faz lembrar do “Último Discurso” de Charles Chaplin em "O Grande Ditador":
“Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!”
As vozes continuam a ecoar na Avenida Paulista em toda a sua extensão, sem bandeiras, sem partidos... apenas caminhando.... e, erguendo os olhos.
 


Grande Pátria amada!!! O despertar de um gigante !!!


Shadow/Mariasun


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